Renda fixa e renda variável: conheça as diferenças e veja qual se encaixa melhor no seu bolso

Preparamos este guia que vai te orientar na sua tomada de decisão

Como investir? Essa é uma dúvida que leva a nada menos do que 99 milhões de resultados nas buscas do Google. Ou seja, não é pouca gente que está atrás de uma renda extra ou investir no futuro. E um dos caminhos é entendendo a diferença entre as duas classes de ativos: renda fixa e renda variável.

O número total de investidores pessoas físicas em todos os produtos disponíveis na B3, a Bolsa de Valores brasileira, atingiu 13,1 milhões de brasileiros no final de 2021. Ou seja, crescimento de 23% na comparação com dezembro de 2020. Aliás, só os ativos de renda variável, que são os mais arriscados, têm 5 milhões de investidores.

Então como entrar nesse bolo e começar a investir? Pois bem, em primeiro lugar é preciso explicar de uma forma bem simples a diferença entre essas duas modalidades de investimento. O próprio nome de cada uma das classes dos ativos já ajuda a entender como eles funcionam. Mas vamos dar mais detalhes logo abaixo:

Renda fixa: quais são os riscos destes produtos?

A renda fixa é um tipo de investimento para quem quer correr menos riscos. Portanto, se você tem até R$ 250 mil reais para aplicar, o risco, na verdade, é bem baixo.

Existe uma instituição chamada Fundo Garantidor de Crédito (FGC) que garante esse valor por corretora/banco e por CPF, caso o local onde você aplicou o recurso feche as portas. Assim, se você tem mais do que essa quantidade para investir, basta diluir em várias entidades, até o valor máximo de R$ 1 milhão e estará protegido.

A gente explica melhor o funcionamento do FGC na Entrevista da Semana abaixo, no qual Daniel Lima, diretor-executivo da entidade, conversou com a Inteligência Financeira:

O menor potencial de risco também se dá por conta do tipo de remuneração que esse investimento concede.

A renda fixa é… fixa?

Agora, atenção: quando você investe em renda fixa, a taxa de juros que será paga sobre a quantia investida não é necessariamente fixa, estática, parada, como o nome sugere. Mas ela é bem previsível.

Por exemplo: existe uma aplicação conhecida como Tesouro Direto. Nesta aplicação você é remunerado pela taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira.

A Selic é um dos principais instrumentos que o governo possui para administrar o crescimento econômico. Afinal, com ela, é possível controlar os juros cobrados de pessoas físicas e jurídicas, e gerenciar as taxas de inflação do país.

Em tese, quanto mais altos os juros, menos consumo e menos inflação; quando eles são mais baixos, mais crescimento econômico, mas mais inflação.

Marcação a mercado

Outro ponto importante para você entender é a marcação a mercado. Isso porque a renda fixa está passando por uma grande mudança. A partir de janeiro de 2023 (portanto, daqui a 2 meses), bancos e corretoras vão precisar marcar a mercado o valor de alguns títulos de renda fixa, como Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliário (CRIs), debêntures  e títulos públicos  adquiridos portesouraria.

A marcação a mercado vai permitir que investidores pessoa física consigam acompanhar todos os dias quanto vale o patrimônio que adquiriram. A ferramenta é a atualização do valor dos papéis, de acordo com os preços que estão sendo negociados no mercado.

A regra foi estabelecida pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) no início do ano. O objetivo é, então, padronizar as aplicações para que o investidor possa acompanhar suas rentabilidades, e, assim comparar os títulos.

Tesouro Direto não tem a proteção do FGC

Você sabia que pode ser credor do governo? Sim! Sabe como? Investindo em Tesouro Direto, que é um produto financeiro remunerado diretamente pelo governo federal.

Explicando: quando o governo precisa de mais dinheiro, ele recorre à emissão dos chamados títulos da dívida pública. Dessa forma, se você adquire um deles, você passa a ser credor do governo.

O Tesouro Direto não possui garantia do FGC, mas quem banca é o Tesouro Nacional. Então, o risco é quase zero. Se o governo der o calote, é bem provável que todos os demais investimentos no país já tenham virado pó.

Então, vamos aos números. Hoje a taxa Selic está em 13,75% ao ano, bem mais do que a poupança, que rendeu nos últimos 12 meses só 7,44%. Ou seja, aplicando em rendimentos lastreados na Selic, você ganha quase 90% a mais do que na famosa caderneta de poupança.

Renda variável para quem aceita perdas

A renda variável é para quem tem um pouco mais de sangue frio para correr riscos. Leia-se: perder dinheiro em certos momentos para que possa ganhar mais depois, por exemplo. Além disso, demandam mais estudos de mercado, sangue frio.

Para exemplificar, vamos focar nas ações.

Quando você adquire ações de uma empresa, você fica com uma parte da empresa. Ou seja, você se torna sócio dela. Mas como escolher em qual investir? Se você fizer a análise por conta própria, precisará estudar o mercado em que ela se insere, quais são os concorrentes, avaliar a conjuntura econômica do momento, cenário político, os balanços da companhia, entre outras variáveis.

Dá trabalho? Sim, muito. Contudo, existem meios de você acompanhar o mercado, como lendo textos jornalísticos e relatórios de bancos e corretoras… Ou até buscando informações em casas de análises, que destrincham esses pontos e selecionam as que são mais bem vistas pelo mercado. A maioria cobra por um serviço mais aprofundado. Mas todas disponibilizam dados sobre os papéis mais negociados.

Agora, veja: as análises incluem o fator humano e situações imponderáveis, como crises de mercado, crises de confiança e até mesmo guerras. Como a guerra que hoje acontece na Ucrânia e mexeu de uma hora para a outra com o mercado financeiro internacional.

Diferenças entre renda fixa e renda variável

A diferença básica entre renda fixa e renda variável é que risco e lucro costumam ser diretamente proporcionais. Portanto, quanto maior o risco, maior o lucro.

Além disso, atente para o fato de que, muito longe de ser uma aposta, os investimentos em renda variável são arriscados, mas podem gerar lucro e serem controlados ao mesmo tempo.

Exemplos: se eu investir em gigantes do minério como a Vale (VALE3) ou a Rio Tinto, é possível, mas muitíssimo pouco provável que uma dessas empresas quebrem. Afinal, o mercado de minério ainda é um dos maiores do mundo.

Sabemos que a China é sedenta pela commodity (matéria-prima) para a ampliação do seu parque industrial. Isso porque há a necessidade de crescimento econômico de uma sociedade de 1,4 bilhão de pessoas por lá. O país é responsável pelo consumo de cerca de 70% do minério do planeta inteiro. Mesmo assim, nem tudo são flores. Com a covid-19, os chineses fecharam (e ainda fecham) diversas cidades, por conta da política de covid zero. E o mercado de minério tem oscilado muito.

Resumindo, nada é 100% garantido no mundo dos investimentos. Se for, desconfie. Afinal, pode ser golpe.

É por isso que há uma palavrinha mágica quando se começa a investir: diversificação. Para que você não fique sujeito aos riscos de aplicar tudo que você possui em uma só empresa ou um ramo de negócios, que pode passar por uma crise, você pode aplicar em diversas empresas, de setores diferentes e diversificar seus investimentos em aplicações distintas.

Investimentos em renda fixa

Se seu perfil de investidor é mais propenso para a renda fixa, tudo bem. Existe uma gama de produtos financeiros que se enquadram nessa classe de ativos. Vamos começar por um dos mais populares: o Tesouro Direto.

Tesouro Direto Prefixado

Os títulos prefixados são aqueles que têm taxa de juros fixa. Ou seja, é o investimento ideal para quem quer saber exatamente o valor que receberá ao final da aplicação, no vencimento do título.

Tesouro Selic

Os títulos Tesouro Selic são títulos pós-fixados que possuem rentabilidade atrelada à Selic, que pode variar ao longo dos meses. Hoje a Selic está em 13,75% ao ano. Em épocas de inflação em alta, a taxa Selic sobe e o contrário acontece quando a inflação está baixa.

Tesouro IPCA

A rentabilidade do Tesouro IPCA está atrelada à inflação, medida pela variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é a inflação oficial do país. Isto é, esses títulos oferecem rendimento igual à variação da inflação mais uma taxa prefixada de juros.

Se a expectativa for de subida da inflação nos próximos meses, mais rendimentos; menos inflação, menos rendimentos.

CDB e CDI

Outros produtos financeiros bem conhecidos da renda fixa são as famosas siglas de investimento. Uma sopa de letrinhas que vamos destrinchar: os mais famosos são o CDB e CDI.

O CDB (Certificado de Depósito Bancário) é um investimento que você faz quando empresta dinheiro para um banco. Isso mesmo, você, cidadão ou cidadã, emprestando dinheiro para um banco!

O mais comum dos CDBs são aqueles atrelados ao CDI, sigla para Certificado de Depósito Interbancário. Agora enrolou um pouco, mas vamos explicar: o CDI nada mais é do que uma sigla para identificar empréstimos feitos entre bancos. As taxas são muito parecidas às da Selic, cerca de 0,1% a menos, usualmente, que cobra hoje 13,65% ao ano – enquanto a Selic está em 13,75%.

“Paga 110% do CDI”: o que isso significa?

Um exemplo: você já deve ter ouvido falar que um determinado banco oferece um CDB que paga 110% do CDI. Isso quer dizer que ele paga, em média, 10% a mais, ao ano, do que a taxa de juros paga pelos empréstimos entre os bancos.

Ou seja, caso você empreste seu dinheiro para este banco, em vez de receber 13,65%, que é a atual taxa do CDI, que por sua vez é 0,1 ponto percentual menor que a Selic, você irá ganhar cerca de 15,01% ao ano.

Mas lembre-se: as taxas e impostos são regressivos. Isso quer dizer que se você deixar o dinheiro por mais tempo, menos descontos sobre o seu investimento incidirão no momento do resgate.

Também é importante verificar a idoneidade da instituição financeira quando for fazer o investimento. Desconfie sempre de taxas de CDI muito acima das pagas pelo mercado.

Outro detalhe: se você contratar um CDI que não tenha liquidez diária, ou seja, que não tem possibilidade de resgate a qualquer momento, e precisar resgatá-lo antes de seu vencimento, além das taxas e impostos que são cobrados de qualquer um destes investimentos, você ainda pagará outras tarifas cobradas pelo banco. Os CDI com juros mais altos também são os com taxas de vencimentos mais longas.

LCI E LCA

Essas duas siglas parecidas exigem um pouco mais de atenção na hora de investir. LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e a LCA (Letra de Crédito Agrário) são instrumentos de renda fixa dos mais procurados e que mais cresceram nos últimos anos. Motivo: isenção de Imposto de Renda (IR). Elas também são garantidas pelo FGC.

A LCI representa uma fonte de recursos para o setor imobiliário, pois possui como lastro créditos imobiliários. Por outro lado, a LCA segue a mesma lógica, porém lastreada no mercado do agronegócio. Explicando: quando você adquire esses papéis da LCA, você ajuda a financiar empresas ligadas ao setor agrário. A compra é feita, assim como o CDB, diretamente junto às instituições financeiras.

Existe uma desvantagem

Diferente dos demais investimentos, uma desvantagem na seara das aplicações em renda fixa, as duas letras de crédito não podem ser resgatadas a qualquer momento e dependem do prazo estabelecido na aquisição do título. Ou seja, para quem pode precisar do dinheiro em uma emergência, o investimento não é muito recomendado.

As letras de crédito podem até mesmo ser negociadas no mercado secundário, ou seja, entre investidores, no caso de uma necessidade emergencial, mas é uma tratativa a mais que o investidor precisará fazer, tendo às vezes, que oferecer um desconto para vendê-las.

Remuneração

Como são remuneradas as letras de crédito? Pois bem, existem títulos prefixados e pós-fixados. Os títulos prefixados são indicados a quem aposta em queda dos juros ao longo do período de aplicação. Do contrário, a melhor opção são as pós-fixadas.

Na LCI e na LCA, os juros costumam ser ligados ao CDI e aos índices de inflação. De modo geral, a remuneração das letras de crédito costuma ser menores que as de CDI. Mas como não pagam IR, em algumas ocasiões podem ter maior valorização final.

Exemplos de investimentos em renda variável

Existem muitos produtos de renda variável nas prateleiras dos bancos e das corretoras.

Abaixo, listamos os mais populares entre eles:

Fundos Imobiliários (FIIs)

Com os fundos imobiliários (FIIs), os investidores aplicam no mercado imobiliário, como em construções ou na aquisição de imóveis. Os ganhos são divididos entre os participantes, na proporção em que cada um aplicou (cota). E, assim, as cotas são negociadas na B3.

Mas, então, por que os FIIs são aplicações de renda variável? Porque suas cotas oscilam de acordo com as condições do mercado ou a gestão da carteira.

Criptomoedas

Pois é: as criptomoedas fazem parte da renda variável. As moedas virtuais, como bitcoin e ethereum, não são controladas pelos bancos centrais ainda. Contudo, são protegidas por criptografia e por blockchain. Você compra uma cripto em corretoras especializadas, chamadas exchanges.

Opções

Quem tem uma opção tem o direito de comprar ou vender uma ação ou outro ativo em uma data futura, por um preço determinado. Dessa forma, uma opção pode ser utilizada como hedge, ou proteção.

ETFs

Exchange Traded Funds é o nome completo dos ETFs, ou fundos de índices, ou ainda fundos espelhos. A função deles é replicar a composição de índices como o Ibovespa ou o IBrX. São negociados na Bolsa e oferecem aos investidores uma alternativa para investir em carteiras semelhantes às principais referências, os benchmark.

Câmbio

Investir em moeda estrangeira é uma estratégia para diversificar a carteira. Também é útil para proteger o dinheiro de oscilações da economia nacional. E, para isso, existem fundos cambiais, que mantêm 80% do patrimônio investido em moedas. Seu principal risco é a flutuação do câmbio.

Há também os contratos ou minicontratos futuros de dólar negociados na B3, além de COEs (Certificados de Operações Estruturadas) em moedas estrangeiras.

Ações

E como se ganha dinheiro com as ações? Basicamente há duas formas:

  1. Quando uma empresa vai bem, o valor das ações sobe, e é nesse momento que você pode vender e obter lucro;
  2. Você também pode esperar mais um pouco, caso ache que os papéis vão continuar subindo no longo prazo

Nesse mercado de ações, as negociações de curtíssimo prazo e curto prazo são chamadas de day trade ou swing trade. O day trade ficou muito conhecido durante a pandemia devido à possibilidade (raríssima) de lucros meteóricos ou (mais prováveis) falências repentinas.

O day trade ocorre com compra e venda das ações no mesmo dia; o swing trade, em um curto espaço de tempo. Já as de longo prazo são as position trade, quando o investidor segura a ação por muito tempo esperando que o valor suba. Estas últimas costumam ser as mais recomendadas pelos analistas.

Outra opção de ganhos com as ações são com os dividendos, quando determinadas empresas dividem com seus acionistas parte de seus lucros.

Fundos de investimento

Assim como boa parte da população dos grandes centros vive em condomínios de prédios, também existem os “condôminos” de investimento. São investidores que compram cotas dos chamados fundos de investimento e ganham os lucros gerados pelo fundo na mesma proporção de suas aplicações.

A soma do dinheiro de todos os investidores forma o montante a ser gerenciado pelo gestor do fundo. Diante disso, fica a cargo dele decidir quais os melhores produtos financeiros a incluir na carteira do fundo, que pode variar desde ações, moedas, CDI, debêntures e até recursos de fora do país.

A regulamentação da Comissão de Valores Mobiliários ( CVM) organiza os fundos de investimento em quatro diferentes classes:

  1. Fundos de renda fixa;
  2. Fundos de ações;
  3. Fundos cambiais;
  4. Fundos multimercado

Os fundos de renda fixa devem possuir pelo menos 80% da sua carteira investida em ativos que estejam relacionados a esses fatores de risco: variação da taxa de juros, de índice de preços ou ambos.

Já os fundos de ações devem possuir pelo menos 67% das aplicações envolvidas nesses tipos de papéis. Enquanto isso, no fundo o cambial o principal fator de risco da é a variação do preço da moeda estrangeira ou a flutuação de uma taxa de juros chamada de cupom cambial. Essa negociação é mais complexa e demanda mais aprofundamento do investidor.

Contudo, o fundo mais conhecido é o multimercado, que pode investir em ativos de diferentes mercados — renda fixa, câmbio, ações., usando o princípio da diversificação. Resumindo, o mundo da renda variável é bem mais complexo que o da renda fixa.

Adeus, poupança?

Apesar da poupança ainda dominar o cenário de investimentos no país, a aplicação vem perdendo espaço. De acordo com números da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), de 2020 para 2021 caiu de 29% para 23% o número de brasileiros com esse tipo de aplicação. Isso aconteceu muito por conta do baixo rendimento, que tem sido quase metade da Selic.

No mercado de renda fixa, o Tesouro Direto, que permite o investimento em títulos públicos federais, registrou aumento de 26% no número de investidores. O mesmo aconteceu com outros produtos de renda fixa, como CDB, LC, LCI, LCA, CRA, CRI, debêntures etc. – que tiveram, juntos, um avanço de 17%.

Esses dados da B3 também mostram que, em 2021, foi registrado um aumento de 1,5 milhão de investidores pessoa física no mercado de capitais, crescimento de 56% na comparação com dezembro de 2020. E você, quando vai entrar nessa ciranda?