Você já ouviu falar em marcação a mercado?

Entenda o fenômeno que marca a volatilidade dos ativos de renda fixa

Na renda fixa, escolha bem seus títulos e durma tranquilo – senão, a tal da “marcação a mercado” pode tirar o seu sossego. Vamos entender de uma vez por todas como esse processo funciona? 

Suponha que você acaba de comprar um apartamento por R$ 100 mil. O imóvel fica em uma cidade onde pretende morar por quatro anos, período que levará para concluir seus estudos. Sabendo disso, você se antecipa e encontra um comprador disposto a pagar R$ 150 mil pelo seu apartamento ao fim dos quatro anos. 

A rentabilidade do negócio, portanto, está prefixada. Será de 50%, afinal, você pagou R$ 100 mil e receberá R$ 150 mil ao final do período. Isso equivale a uma rentabilidade anual de aproximadamente 11% ao ano.

A região, no entanto, passa por altos e baixos. Inicialmente, a especulação imobiliária puxou os preços para cima.  Uma semana depois da mudança, seu vizinho de andar vendeu um apartamento idêntico por R$ 120 mil. Você se sentiu mais rico e comemorou, embora não tenha embolsado R$ 1 sequer.

Passado o primeiro ano, o futuro comprador do seu imóvel (aquele do contrato de quatro anos) enfrenta dificuldades financeiras e isso vem a público.  Você se assusta, temendo que ele não consiga honrar seu compromisso.

Em paralelo, a região enfrenta agora problemas de criminalidade, de modo que você pode ter dificuldade de repassar o imóvel daqui três anos. Eis que aparece uma proposta. O potencial comprador está disposto a pagar R$ 95 mil e ficar com o apartamento daqui para frente. E aí, você assumiria o prejuízo ou ficaria com o apartamento até o final do prazo que pretendia? 

No mercado de renda fixa hoje, a situação é parecida. O investidor que comprou no passado um título prefixado com vencimento para janeiro de 2025, aceitou receber em torno de 8,5% a.a. até o vencimento – o que lhe garantiria efetivamente um retorno de 32% durante todo o período. Contudo, assim como no caso do apartamento, o mundo há um ano era diferente.

Com inflação e juros mais altos hoje, os pós-fixados pagam taxas superiores a 13% a.a. Aqueles 8,5% a.a. já não mais atraem compradores, de forma que a taxa desse título subiu para 13,5%.

Desfazer-se do título agora significa dar um desconto ao comprador para que ele tenha aproximadamente esses 5% de rentabilidade a cada ano a mais do que você – resultado da diferença entre a taxa de compra e a de venda. 

Mas isso é simplesmente assumir um prejuízo que já está refletido em sua carteira de investimentos. No fim das contas, a verdadeira pergunta a ser respondida é: 13,75% a.a. será uma boa rentabilidade daqui para frente?

*Texto escrito por Lucas Queiroz, CNPI, Analista do Itaú BBA. Artigo originalmente publicado no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.