O que uma carteira de investimentos segura e valorizada precisa ter hoje?

Especialistas alertam para o risco de se desfazer de ativos
Pontos-chave:
  • Em renda fixa, analistas recomendam ativos mais conservadores, como os atrelados ao IPCA
  • Foco também em petróleo, mineração e ativos de utilities, como energia elétrica e saneamento

A invasão da Rússia à Ucrânia em 24 de fevereiro estremeceu um mercado financeiro que já andava estressado com as perspectivas de subida dos juros nos Estados Unidos e trouxe ainda mais volatilidade às negociações de ativos. Rapidamente o ouro, o petróleo, o trigo e outras commodities passaram a ter valorizações expressivas em um movimento de busca por proteção e temores de escassez de matérias-primas. Enquanto isso, as Bolsas de Valores globais refletiram a aversão ao risco e tiveram pregões com perdas significativas.

Como o cenário afeta sua carteira de investimentos?

Diante de um cenário de imprevisibilidade, já que não se sabe quando a guerra vai acabar e a dimensão dos estragos econômicos, como fica o investidor pessoa física? Para Andressa Siqueira, especialista em investimentos da Magnetis, a crise provocada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia reforça a importância de ter uma carteira diversificada. “Ajuda a mitigar riscos em períodos conturbados”, afirma. Além de aplicações seguras e com liquidez diárias na renda fixa, como CBDs e títulos curtos do Tesouro Direto, Siqueira vê a necessidade de ter posições em dólar e distribuir as aplicações em ativos relacionados ao mercado acionário, como papéis de empresas listadas na B3, ETFs e BDRs. “Uma carteira equilibrada pode ter uma parte em renda variável local, outra em renda variável internacional, fundos multimercados ou fundos com estratégias mais específicas. Se a pessoa se sentir confortável, vale também uma parcela em cripto“, comenta.

Tentar adivinhar o que vai acontecer no futuro, na avaliação da especialista, pode se revelar um grande erro. Por isso a orientação dela é não mudar a rota diante da crise e balancear na medida do possível os riscos da carteira. “A pessoa que é conservadora pode ter a mesma classe de ativos de uma pessoa considerada mais agressiva. O que diferencia é a proporção aplicada em cada um deles”, argumenta Andressa Siqueira.

Sem escolhas precipitadas

Em um momento de grande incerteza, como o observado atualmente com a guerra no Leste Europeu, aumenta a aversão a riscos e ativos mais conservadores são sempre mais procurados, afirma Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos. “O que não é recomendável é alterar o perfil da carteira por conta de uma situação de curto prazo. Não é aconselhável fazer uma saída de ativos de risco para ativos mais conservadores neste momento”, afirma.

Para quem tem dinheiro novo para aplicar, Morelli aponta que há boas opções na renda fixa, com as perspectivas de inflação ainda pressionada e juros mais altos ao longo do ano. “Dá para buscar algo mais conservador, com ativos atrelados ao IPCA + juros. A parte mais curta da curva”, diz. Com a valorização do real, o especialista da Davos também indica a possibilidade de diversificação internacional – vislumbrando uma possível alta do dólar durante a eleição presidencial. “Olhando para o cenário eleitoral e uma certa indefiniação ainda, pode ser uma oportunidade interessante para ter ativos atrelados à moeda americana”, avalia.

Foco em boas aplicações

Com a volatilidade e imprevisibilidade do momento, Helder Wakabayashi, analista de investimentos da Toro, recomenda cautela ao investidor pessoa física. Para o especialista, títulos de curto prazo do Tesouro Direto continuarão como boas opções. “Pensando em um perfil mais conservador, o principal ativo que tem que estar na carteira seriam ativos pós-fixados atrelados a juros. Temos um cenário ainda de aumento da taxa Selic, então é importante tentar aproveitar toda essa subida dos juros”, comenta.

Já para uma pessoa com um apetite maior por riscos, Wakabayashi considera que o eixo atualmente pode ser a diversificação do portfólio”. “Dá para surfar a valorização de commodities, como petróleo e mineração. Temos também os ativos de utilities, mais defensivos, como energia elétrica e saneamento”, lista. “O foco seria uma boa alocação e não em apostar em ativos que poderiam trazer um retorno excelente”, completa.