Quer viver de renda? Mercado amplia oferta de investimentos com retorno mensal

Além dos fundos imobiliários e dividendos de ações, investidor conta com opções de renda fixa com isenção de imposto de renda

Viver de renda é o objetivo de quase todo mundo e a forma mais tradicional de fazer isso, por muito tempo, foi comprar um imóvel para viver de aluguel todo mês.

Entretanto, além de exigir um investimento alto, a compra do imóvel também pode acarretar gastos de manutenção e o risco de vacância, que é a falta de rendimento quando a unidade não tem um inquilino.

Por outro lado, tinha quem depositasse o dinheiro na poupança e sacasse todos os meses somente a parcela que rendia.

Claro que ainda é possível utilizar esses recursos, mas o mercado financeiro também oferece opções novas e mais rentáveis para quem quer retornos mensais.

Dessa forma, existem produtos como fundos imobiliários, títulos de renda fixa e até fundos de debêntures incentivadas, que são formados por títulos da dívida privada que não têm imposto de renda.

“Temos visto um crescente interesse em busca de renda mensal. Tem a questão da população envelhecendo e, no caso dos aposentados, eles querem ter um fluxo de caixa robusto para manutenção do padrão de vida. Há vários investimentos em que já se consegue ter uma previsibilidade do fluxo que vai entrar. Há clientes recebendo 6%, 7% ao ano, com retorno mensal, e ainda correção pelo IPCA, ou seja, sem perda do poder de compra”, afirma Luciana Ikedo, assessora e educadora financeira.

Investimentos mais procurados por quem quer viver de renda

Os fundos de investimento imobiliários (FIIs) estão entre os produtos mais procurados para esse objetivo, porque eles pagam retornos constantes e isentos de imposto de renda.

E isso é bem similar ao que ocorre com o aluguel. Aliás, muitos deles administram imóveis e cobram por locação e assim conseguem repassar o dinheiro para os investidores.

Embora os FIIs existam no Brasil há mais de 20 anos, houve um crescimento exponencial somente de 2019 para cá. O número de investidores cresceu 660% entre dezembro de 2018 e janeiro de 2022, segundo a B3, onde são negociados.

Além disso, aumentou também a oferta de fundos dessa natureza nesse período. Para se ter uma ideia, no ano passado, surgiram os Fundo de Investimento em Cadeias Agroindustriais (Fiagros), que têm uma estrutura bem parecida à dos FIIs, mas com foco no agronegócio.

Entretanto, tanto os FIIs como os Fiagros são produtos de renda variável. Ou seja, o retorno mensal não é sempre o mesmo. Há ainda a volatilidade das cotas, que são o valor investido no fundo, que pode subir ou descer, a depender da oferta e demanda do mercado.

Assim, em um momento de desvalorização, o investidor fica com o patrimônio encolhido, embora não haja prejuízos concretos a menos que ele saque o dinheiro do fundo em momentos de baixa. Mas o que ele vê são perdas, ainda que momentâneas.

“O brasileiro historicamente sempre quer ver 1% ao mês de renda, ele quer ver a rentabilidade mensal. Na época dos juros muito baixos, a 2% ao ano, recorreu aos fundos imobiliários como uma alternativa. Mas não gostou da oscilação da cota. E começaram a ser oferecidos investimentos de renda fixa para esse público”, diz Diego Ramiro, presidente da Associação Brasileira de Assessores de Investimento (ABAI).

Títulos bancários

De olho na demanda, os gestores e corretoras passaram a oferecer produtos de renda fixa, que têm muito mais previsibilidade, com pagamentos mensais ou trimestrais.

A maioria desses produtos, inclusive, assim como a poupança, é isenta de imposto de renda.

Há títulos com lastro em imóveis que permitem que o investidor receba os juros todos os meses, em vez de ter de esperar até o fim do vencimento do papel para resgatar o prêmio de uma vez só.

Um exemplo disso é a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) recém-lançada pelo Banco Bari, que remunera o equivalente a 100% do CDI, algo em torno de 1,07% ao mês (considerando o mês de setembro).

O aporte mínimo para este produto é R$ 30 mil. Os rendimentos deste título são pagos todos os meses diretamente na conta do investidor no próprio banco.

Portanto, um investimento de R$ 300 mil na LCI teria gerado uma renda mensal de cerca de R$ 3 mil ao investidor. Com a taxa atual da Selic, de 13,75%, o investimento renderia cerca de R$ 41 mil no ano, considerando a manutenção dos juros nesse patamar.

A título de comparação, o retorno do aluguel de um imóvel de R$ 300 mil é de cerca de 5,6% ao ano, segundo levantamento de agosto do portal imobiliário Imovelweb.

Isso significa que os mesmos R$ 300 mil renderiam pouco mais de R$ 16,5 mil em um ano.

Mais especificamente para a alta renda, o Bradesco oferece um produto feito sob medida para as necessidades do cliente. As Letras Imobiliárias Garantidas (LIG) emitidas pelo banco têm ganhado mais espaço nas carteiras dos mais ricos, com taxas e prazos de vencimento flexíveis.

“Já emitimos uma LIG de 15 anos. É uma operação isenta de imposto de renda, que tem a característica de ‘cupom mensal’, gerando uma renda recorrente para o cliente. Tem famílias que querem retorno mensal, trimestral ou anual. Ao mesmo tempo você tem essa taxa de 13%, 14% ao ano, que depende do prazo e do cliente”, afirma Ademir Correa, diretor do departamento de investimentos do Bradesco.

Tanto as LIGs, como a LCIs e as Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), que também aparecem com opção de pagamento mensal, são títulos emitidos por bancos.

Portanto, são cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma espécie de seguro que cobre até R$ 250 mil por CPF em caso de falência da instituição financeira emissora.

Crédito privado

Ainda entre as opções sem cobrança de imposto de renda sobre os rendimentos há papéis como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs).

No caso dos CRIs e CRAs não há cobertura do FGC, por isso, o investidor deve ficar atento à nota de risco do produto (ou rating, em inglês).

Ele deve estar na descrição na hora de investir e normalmente varia de acordo com as letras do alfabeto, sendo os produtos “A” aqueles de menor risco.

Esses papéis, emitidos por securitizadoras, têm mais uma particularidade. Em alguns casos, eles incluem nos seus pagamentos periódicos a amortização da dívida.

Ou seja, ele adianta uma parte do valor investido juntamente com os juros. É uma bolada maior de cara, mas depois os retornos diminuem porque incidem sobre um capital investido menor, amortizado.

Correa, do Bradesco, destaca ainda que, apesar de a Selic hoje estar num patamar alto, de 13,75%, ela pode cair num futuro próximo. Por isso, o ideal é não investir todo o patrimônio somente em títulos pós-fixados.

Na tabela, é possível perceber que a mudança nas taxas de juros pode reduzir drasticamente o retorno mensal do investidor. Para se proteger dessa oscilação, mesmo com investimento em renda fixa, o ideal é diversificar com produtos prefixados e até mesmo de renda variável.

“Além de renda fixa, para o investidor que deseja acessar o mundo da renda variável, é possível estruturar um portfólio de empresas boas pagadoras de dividendos, intercalando as possíveis datas de recebimentos. Além dos fundos com rendimentos mensais. Ambas as estratégias contam com a isenção de imposto de renda para pessoa física na distribuição dos resultados, porém há pagamento de imposto de renda no ganho de capital”, diz Correa, do Bradesco.

Outra alternativa são as debêntures incentivadas, que são títulos de dívida de empresas, na maioria deles, de infraestrutura. De acordo com o analista de investimento da Empiricus, Alexandre Alvarenga, fundos com esses papéis estão distribuindo ganhos mensalmente, de olho no investidor que busca este tipo de aplicação.

“Já havia distribuição semestral, mas os fundos mudaram porque perceberam o que o investidor procurava e passaram a oferecer os retornos mensalmente”, afirma. Segundo ele, muita gente confunde os fundos de infraestrutura com FIIs.

Diferentemente dos fundos imobiliários, os fundos de infraestrutura não têm obrigação de distribuir os retornos mensalmente, apenas escolheram a estratégia para atender o público.

Eles não são necessariamente novos, mas se adequaram para este momento da demanda.

Ainda no universo dos fundos, há os que misturam títulos de renda fixa com ações de empresas que pagam bons dividendos e assim garantem rentabilidade recorrente para redistribuir entre os cotistas.