Com a Selic em queda, a renda fixa continua valendo a pena em 2024?

Especialistas mostram como continuar lucrando com a renda fixa, apesar da queda dos juros

O Copom encerrou 2023 reduzindo a Selic para 11,75% ao ano. Pela previsão dos economistas ouvidos pelo boletim Focus, a expectativa é que daqui 12 meses a taxa básica esteja em 9,25%. Com essa perspectiva, a renda fixa vale a pena em 2024? O que muda em termos de rentabilidade?

A resposta é complexa e inclui uma série de variáveis, de acordo com especialistas ouvidos por nós, da Inteligência Financeira.

No entanto, no geral a resposta é… sim. A renda fixa continuará atrativa para determinados objetivos, como mitigar riscos ou formar uma reserva de emergência. Economistas ouvidos pela reportagem também argumentam que há formas de se buscar maior rentabilidade sem abrir mão da modalidade.

“A renda fixa sempre segue relevante na carteira do investidor. Essa relevância ela às vezes é maior ou menor a depender do mercado. Mas a gente não espera que a renda fixa perca tanta atratividade quanto em 2020 e 2021”, afirma Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos.

Sueishi faz referência aos anos em que a taxa básica despencou para a mínima histórica de 2,00% ao ano. Ele argumenta que, apesar da queda, o percentual que o Brasil deve ter ao final de 2024 ainda seguirá elevado.

De acordo com os especialistas, no entanto, pode ser um bom momento para que o investidor se abra a outras modalidades menos comuns de renda fixa.

Por exemplo: investimentos como CRIs, CRAs e debêntures incentivadas. Também citam a importância de um olhar atento para os títulos atrelados à inflação, tanto para ganhar na marcação a mercado quanto no longo prazo.

Renda fixa vale a pena em 2024?

Os especialistas reforçam a recomendação para que se mantenha uma carteira diversificada e adequada ao perfil do investidor. Assim, quem se pergunta se a renda fixa vale a pena, precisa saber que ela exerce uma função de representar menor risco e maior liquidez e portanto deve fazer parte da equação.

“É momento em que o investidor pode diminuir um pouco seu percentual na renda fixa, que foi muito bem em 2023, e migrar um pouco para renda variável. No entanto, é importante manter a carteira diversificada porque a renda fixa segue ancorando a rentabilidade mínima dos investidores”, explica Rafael Sueishi.

Laís Costa, analista da Empiricus Research, defende a manutenção da divisão estrutural da carteira, entre as diferentes modalidades. Por outro lado, cita que há oportunidades de buscar boas rentabilidades na própria renda fixa com um pouco mais de apetite por risco.

“O investidor pessoa física deveria priorizar percentuais mais fixos para a carteira. Essa questão de acertar o timing do mercado é muito difícil, há o risco de sair perdendo quando se corre muito atrás dos movimentos do mercado”, argumenta.

Quanto paga a renda fixa por mês?

A renda fixa tradicional em geral vê a rentabilidade cair quando o Copom reduz a taxa básica de juros. Por exemplo, um CDB que rende 100% do CDI passou a ter uma rentabilidade de cerca de 0,92% ao mês com a Selic em 11,75%.

Dessa maneira, tanto os CDBs quanto o Tesouro Selic são produtos que ficam mais distantes do grande desejo dos investidores de ter uma rentabilidade bruta acima de 1,00% ao mês. Uma vez que a Selic de fato chegue a 9,25% no final de 2024, o rendimento do CDB 100% CDI cairia para algo em torno de 0,73% ao mês.

“2024, na nossa avaliação, é um ano para o investidor reduzir a participação em pós-fixados em Selic e migrar para outros tipos de renda fixa, que podem trazer maior volatilidade mas também uma maior rentabilidade”, afirma Laís Costa.

Qual é o melhor investimento de renda fixa para 2024?

Os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira recomendam um olhar mais atento aos títulos atrelados à inflação para saber se a renda fixa vale a pena.

“Os títulos indexados à inflação em médio e longo prazo funcionam em uma carteira de investimentos como um coringa. Quando tudo dá certo, as taxas nesses títulos caem e o investidor tem a possibilidade de ganhos de marcação a mercado. Por outro lado, no cenário pessimista eles também te protegem com um carro extremamente positivo”, argumenta Rafael Sueishi, da Manchester.

A lógica aqui é a seguinte: se a inflação seguir controlada e os juros caírem mais, os novos títulos serão vendidos a taxas menores. Pela lógica da marcação a mercado, quem entrar agora poderá revender o título com valorização.

Por outro lado, nesse cenário “pessimista”, os títulos garantem a cobertura da inflação mais um adicional, de modo que protegem o investidor da perda de recursos no longo prazo. Lembrando que os títulos indexados à inflação só garantem as condições pactuadas no momento do vencimento dos papéis.

CRIs, CRAs e debêntures incentivadas

Outro ativo que merece atenção, explicam os economistas ouvidos, são os títulos de crédito privado. Por exemplo, os certificados de recebíveis imobiliários (CRI), os certificados de recebíveis do agronegócio (CRA) e as debêntures incentivadas.

Joga a favor o fato de que esses títulos estão pagando, de acordo com os especialistas, a inflação somada a percentuais maiores que os títulos públicos. Além disso, com isenção de imposto de renda. Por outro lado, é imprescindível frisar que há maior risco, uma vez que há o risco da empresa tomadora do crédito dar calote e não há a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC).

“Quando falamos de CRIs, CRAs e debentures, demanda-se que o investidor tenha uma maior cautela em relação ao emissor. A decisão não pode ser apenas com base em rentabilidade mas também com base na qualidade do emissor”, explica Rafael Sueishi.

O investidor precisa estar atento nessa difícil equação. Em geral, empresas que oferecem rentabilidades mais altas são aquelas que possuem maior risco de crédito. No entanto, para o head de renda fixa da Manchester, “tem empresas boas com taxas que estão com taxa acima dos bancários. Consideramos essa classe de ativos com um risco-retorno bastante atrativo”, argumenta.

Fundos de debêntures

Para Laís Costa, da Empiricus, uma alternativa a ser considerada são os fundos de debêntures incentivadas listados em bolsa. A vantagem, explica, é o fato de que os fundos possuem uma diversificação interna, entre diferentes emissores, e contam com gestão profissional.

“Os fundos que possuem menos têm cerca de 25 diferentes emissores, enquanto outros têm 40. Se você tem um investimento que de fato vai para o default [calote] o prejuízo é limitado e você tem uma equipe para a execução das garantias”, afirma.

Ela explica que apesar de ter uma liquidez menor que a de uma ação, a cota do fundo de debênture em geral tem uma liquidez maior que a da própria debênture isolada, o que facilita o resgate antecipado caso o investidor precise dos recursos.

O que fazer com os investimentos quando a Selic cai?

Quando a taxa de juros está mais altas, ativos com altíssima segurança, como Tesouro Direto, pagam rentabilidades maiores. Por outro lado, quando os juros caem, é normal que os investidores tolerem um pouco mais de risco em nome de manter ou ampliar o rendimento.

No entanto, como já citado, os especialistas recomendam que isso seja feito com parcimônia, mantendo a diversificação e o cuidado com o perfil de investidor. Por exemplo, no que diz respeito à reserva de emergência.

“A reserva de emergência vira um dilema quando os juros caem. Coça a mão migrar para uma renda fixa mais arrojada. Mas sendo muito honesta, o investidor não deveria colocar na conta dos recursos que ele vai mudar de onde estão. O ideal é que essa reserva esteja separada dos recursos que ele vai usar para ganho de capital”, argumenta Laís Costa, da Empiricus.

Portanto, no que diz respeito à reserva de emergência, a orientação é manter esse recurso em ativos de baixíssimo risco e alta liquidez, mesmo que haja perda de rentabilidade.

“Se eu tenho 12 meses de custos mensais na reserva de emergência e eu decido reduzir para 6 meses e investir em outras coisas. Se eu for demitida, eu consigo me recolocar com certeza em 6 meses? No Brasil a tendência da maior parte das profissões é não ter uma possibilidade de recolocação tão grande”, completa a analista da Empiricus.