Tesouro IPCA+ ou Selic: qual é o melhor investimento agora?

Em cenário de deflação e perspectiva de queda da taxa de juros, confira as recomendações para os dois títulos públicos

Em um cenário de deflação e perspectiva de queda da taxa Selic na próxima reunião do Copom, muitos investidores podem se perguntar sobre a rentabilidade de dois ativos de renda fixa: o Tesouro Selic e o Tesouro IPCA+.  

Na avaliação de Nayra Sombra, sócia da HCI Invest, são dois pontos de atenção. “Devemos acompanhar o cenário econômico em busca das melhores oportunidades para alinhar nossa carteira ao momento de mercado. Com a inflação baixa e a Selic em queda, abre-se novamente caminho para outros tipos de investimentos. Entre eles estão os fundos multimercados, os fundos imobiliários, ações”, analisa a planejadora financeira CFP pela Planejar.    

Nesse sentido, será que Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ ainda são bons produtos para compor uma carteira? Para responder essa pergunta, a Inteligência Financeira conversou com três especialistas. A seguir, eles analisam como esses produtos devem performar nos próximos meses e explicam para que servem esses dois títulos do Tesouro Direto. Confira.

Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ são bons investimentos?  

De acordo com os especialistas consultados, Tesouro Selic e Tesouro IPCA+ continuam sendo bons investimentos, mas sua indicação dependerá dos objetivos e prazos.  

“O Tesouro Selic e o Tesouro IPCA são atemporais. Eles não devem sair das carteiras por conta da queda dos indexadores. O que pode acontecer é a adequação do percentual conforme o perfil, prazo e objetivos”, afirma Nayra Sombra.  

De acordo com a planejadora financeira, com a provável queda da taxa Selic e a ocorrência de deflação, para quem tem mais apetite ao risco e prazos mais longos, pode-se diminuir a exposição à renda fixa e aproveitar as oportunidades dos mercados mais arriscados e voláteis. Ela salienta, entretanto, que, para um perfil mais conservador ou com o horizonte de investimento mais curto, ainda é indicado que permaneça no Tesouro Selic.  

André Fialho, analista de renda fixa da Genial Investimentos, pontua que as principais vantagens desses produtos são a segurança, “por serem investimentos em títulos soberanos, ou seja, que tem o menor risco de crédito”. “Tem alta liquidez e baixo custo. Isso, no longo prazo, pode fazer diferença no retorno do investimento, se comparado ao investimento em fundos de renda fixa”, afirma Fialho.

Rentabilidade dos títulos vai cair?  

O Tesouro Selic acompanha a taxa de juros definida pelo Copom. Com a expectativa de queda, sua rentabilidade também diminuirá, bem como a de CDBs e LCAs/LCIs.  

De modo geral, todo ativo com baixo risco terá sua rentabilidade diminuída. Na avaliação da sócia da HCI Invest, isso não quer dizer, entretanto, que o Tesouro Selic deixe de ser uma boa opção.  

“Ainda estamos com a Selic bem elevada. Logo, estes ativos continuam fazendo sentido, inclusive para reserva de emergência, por ter liquidez diária e uma rentabilidade bem superior à da poupança”, destaca Nayra.  

Para André Fialho, a queda na rentabilidade dos títulos pós-fixados não quer dizer, entretanto, que a atratividade pelo produto acabou.  

“O juro que se ganha acima da inflação segue muito alto, incorrendo baixíssimo risco. Em nossas alocações, já reduzimos a exposição aos títulos pós-fixados e elevamos a alocação em títulos de juros reais. Justamente por entender que a Selic vai chegar a um patamar mais baixo, enquanto o nível de juros reais encontrados nos títulos IPCA+ ainda têm mais espaço para cair”, afirma o analista de renda fixa da Genial.

Cautela  

Já o Tesouro IPCA+, por outro lado, deve ser analisado com mais cautela. Isso porque a expectativa é de que a inflação diminua. De acordo com o último Boletim Focus, a previsão para o IPCA neste ano é de 4,90% – esperava-se há uma semana que o índice seria de 4,95% e de 5,06% há quatro semanas.  

Assim, a taxa pré-fixada desses títulos fica ainda mais em destaque. “Para vencimentos curtos, como a reserva de emergência, este título não é indicado, por ter maior volatilidade. Agora, se o horizonte de investimento for mais longo, algo como uma poupança para os filhos ou visando aposentadoria, continua sendo uma ótima opção”, analisa a planejadora financeira Nayra Sombra.  

De acordo com Fialho, o Tesouro IPCA+ “segue com uma atratividade muito interessante, principalmente nos vencimentos intermediários, além de gerar uma proteção extra em cenários de descontrole inflacionário”.

Tesouro Selic e Tesouro IPCA+: afinal, qual escolher?  

A escolha de qual título do Testouro Direto investir tem a ver com o perfil suitability, os objetivos e o prazo.  

“A escolha entre Tesouro Selic e Tesouro IPCA vai depender da estratégia relacionada ao objetivo que o investidor tem. Mesmo com a taxa de juros caindo, para a reserva de emergência, o Tesouro Selic é uma ótima recomendação. O mais importante é que esse investimento preserva o ganho em relação ao IPCA”, diz Carlos Castro, planejador financeiro CFP e sócio fundador da SuperRico – Projetos de Vida.  

De acordo com Nayra, para um perfil mais conservador, o indicado são títulos pós-fixados que acompanham a taxa Selic, caso do Tesouro Selic, pois sua volatilidade é menor, além de ter liquidez diária.

Tanto Tesouro Selic quanto Tesouro IPCA podem estar em uma carteira de investimento, independente do perfil de risco.  

“O Tesouro Selic pode ter uma alocação tática maior em momentos, como o atual, em que a taxa Selic está em um patamar bastante elevado e a inflação começa a dar sinais de arrefecimento. Em momentos em que a taxa começa a cair efetivamente, uma redução nesse título pode fazer sentido”, avalia o analista de renda fixa André Fialho.  

Perfil moderado e arrojado  

Porém, se o perfil for moderado ou arrojado, além do Tesouro Selic, também pode-se incluir na carteira o Tesouro IPCA+, que renderá a inflação mais uma taxa real.  

“Este título tem mais volatilidade, portanto, vale se atentar às datas de vencimento, pois, caso seja necessário o resgate antecipado, dependendo do cenário econômico, o investidor poderá sair com deságio”, recomenda Nayra Sombra.  

O Tesouro IPCA+, reforça Carlos Castro, é para o longo prazo. “Esse título deve compor a carteira da aposentadoria. No curto prazo, se o IPCA ficar em 5%, mais os 5% de juro do Tesouro IPCA, nós estamos falando de 10%, que é inferior ao Tesouro Selic”, destaca ele.  

Só que são finalidades distintas, porque, no tempo, o Tesouro Selic vai cair e o Tesouro IPCA tende a preservar esse juro real, de acordo com o planejador financeiro da SuperRico.    

No frigir dos ovos…  

Em resumo, se o seu perfil é conservador, você precisa de liquidez diária ou tem um prazo curto de investimento, a recomendação é optar pelo Tesouro Selic.  

Por outro lado, de acordo com os analistas consultados pela Inteligência Financeira, se o seu perfil é moderado ou arrojado – ou seja, aceita certa volatilidade -, e você dispõe de um horizonte de tempo maior, é importante que parte da alocação de sua carteira tenha Tesouro IPCA+ ou outro investimento indexado à inflação.

Saiba mais  

Ainda tem dúvidas sobre Tesouro IPCA+ e Tesouro Selic? Confira mais informações sobre esses dois títulos do Tesouro Direto.  

O que é Tesouro IPCA+?  

O Tesouro IPCA+ é um título público emitido pelo governo. Ele tem como finalidade captar dinheiro de investidores para o governo investir em áreas como infraestrutura, saúde e segurança.   

Ao aplicar nesse ativo, você estará emprestando dinheiro ao poder público. Em troca, ele paga uma taxa de juros que é híbrida. Ou seja, é uma combinação da inflação (IPCA) e de uma taxa prefixada.   

Esse ativo pode ser utilizado em estratégias de médio e longo prazo. Normalmente, o Tesouro IPCA+ é um investimento seguro e conservador. Em resumo, ele é ideal para manter o seu poder de compra no futuro.  

“O Tesouro IPCA+ é muito importante para proteção contra cenários de descontrole inflacionário. E, se pegarmos o histórico brasileiro, a inflação projetada por exemplo pelo boletim Focus muitas vezes foi mais baixa que a inflação efetivamente realizada, pontua André Fialho.  

Além disso, de acordo com o analista de renda fixa, o título indexado ao IPCA leva em conta algumas questões extras, como a sustentabilidade do endividamento público, por exemplo.  

O que é Tesouro Selic?   

Quando falamos em Tesouro Selic, estamos nos referindo a títulos pós-fixados que possuem rentabilidade atrelada à taxa Selic. Também chamado de Letra Financeira do Tesouro (LFT), o título é considerado o investimento ideal para quem quer começar a investir no Tesouro Direto.   

Ele também funciona como um empréstimo para financiar gastos e investimentos do governo federal. Este, por sua vez, devolve, como contrapartida, os valores corrigidos por uma taxa e um prazo definidos na hora da negociação.   

Na hora de investir, é importante ter em mente que o investidor que opta pelo título não recebe como remuneração exatamente 100% da taxa básica de juros, apesar de ela ser referência para o Tesouro Selic.  

Isso porque pode haver custos incidentes sobre a operação, como as taxas de administração das corretoras. Além disso, o Tesouro Nacional cobra uma taxa de custódia de 0,2% para aplicações acima de R$ 10 mil em títulos públicos.  

“Para a reserva de emergência, apenas o Tesouro Selic é uma opção válida, dadas suas características de baixíssima volatilidade, diferentemente do Tesouro IPCA+, que sofre variações diárias maiores”, diz André Fialho, analista de renda fixa da Genial Investimentos.