Queda da Selic: quais títulos da renda fixa ganham com provável corte de juros?

Prefixados de curto prazo, títulos atrelados ao IPCA e debêntures são os ganhadores em época de queda na Selic; entenda como aproveitar cortes nos juros

A renda fixa deve chacoalhar com a próxima decisão do Banco Central (BC) sobre a taxa básica de juros do Brasil, na quarta-feira (2). Pesquisa do BTG Pactual mostra que o BC entregará uma redução de 0,50 ponto percentual (p.p.), o que colocará os juros em 13,25% ao ano. Pelo menos é nisso que 60% dos entrevistados pelo BTG acredita, enquanto 39% esperam um corte de 0,25 p.p. Mesmo assim, com a queda da Selic, quais os títulos da renda fixa que ganham ou perdem com juros menores?

No momento em que o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciar sua decisão, a resposta imediata do mercado será o reajuste da taxa de remuneração diária dos títulos pós-fixados, como o Tesouro Selic e o CDI. Contudo, os gestores concordam que, com a provável queda da Selic, a renda fixa continuará atrativa, apesar de alguns ativos ‘performarem’ melhor no curto e médio prazos do que outros.

Renda fixa vai continuar atrativa mesmo após queda da Selic

Em meio a queda de juros, a distinção entre títulos de renda fixa é de suma importância para você, investidor. Isso porque o mercado, após o corte na Selic, vai mudar expectativas na curva futura de juros, afetando os títulos pós-fixados atrelados aos juros.

Os pós-fixados são títulos da renda fixa que não tem retorno definido até o prazo de vencimento, a grosso modo. Ao contrário dos prefixados, que são contratados pelo investidor com rendimento definido, além dos juros.

Mas o que os juros escancaram é que, mesmo sendo da renda fixa, os títulos prefixados e pós-fixados podem ser voláteis.

Com a queda da Selic, os investimentos de renda fixa são reprecificados pelo mercado na chamada curva de juros. Ou seja, o que se esperava pagar por um título prefixado sofre reajuste, enquanto título pós-fixado é impactado com os efeitos da política monetária.

No fim, tanto os títulos do Tesouro Prefixado quanto opções atreladas ao CDI ou ao IPCA devem continuar atrativas por um prazo de 6 a 12 meses, dizem os gestores. Na avaliação de Luigi Wis, assessor de private banking da Genial, a renda fixa atrelada aos juros continuará atrativa até 2025.

Na análise do assessor, os juros devem encerrar 2023 no patamar de 12%, e, em 2024, devem cair para 10% até dezembro. “Isso não torna os investimentos pós-fixados menos atrativos e não quer dizer que você deva abandoná-los”, afirma. O Tesouro Selic, por exemplo, “vai permanecer sendo uma modalidade de investimento bastante interessante, porque os retornos serão altos ante o risco do título”.

As opções pós-fixadas são as mais conservadoras, mesmo após a queda na taxa de juros.

Luigi Wis, da Genial Investimentos

Prefixados ganham destaque com quedas de juros

Os títulos de renda fixa que mais ganham com a queda da Selic são os títulos do Tesouro Prefixado, além dos títulos da dívida pública de longo prazo emitidos pelo governo, como as NTN-B, ligadas ao IMAB. O IMAB é um índice, como o Ibovespa, cujo desempenho é atrelado, indiretamente, à inflação com base no índice IPCA, que é o indexador desses títulos do Tesouro.

O prefixado viveu um momento positivo entre março e junho deste ano. No período, os títulos renderem cerca de 12% a quem apostou no ativo. Ou seja, com a queda na curva futura dos juros, os títulos de taxa fixa obtiveram ainda mais valor. Esta é a lógica apostar contra o pessimismo do mercado, aponta Wis.

Contudo, o limite para o investidor de renda fixa surfar totalmente a alta do prefixado está acabando, conforme aponta a economista Ariane Benedito, da Esh Capital. “Estamos no limite para que o investidor comece suas posições em prefixado, pelo menos com retornos de 12% a 11% ao ano. Quanto maior a magnitude do corte, no longo prazo, o prefixado deixa de ser atrativo. Mas não se o mercado estiver inseguro sobre a correção na Selic”, diz.

Na análise de Ariane, contudo, os prefixados ganham um risco maior para o investidor porque dependem de “o mercado errar na intensidade da queda da Selic”.

“Os pós-fixados refletem o valor real e os ganhos até 10% ao ano ainda são elevados. Mas se o mercado pedir um prêmio maior na curva ou o ambiente ficar mais nebuloso, o prefixado ganha.”

Em quais títulos prefixados eu posso investir?

O prazo dos prefixados faz toda a diferença na hora de investir, diz Cal Constantino, líder de renda fixa da Santander Asset.

Os prefixados disponíveis a mercado são, principalmente, os títulos do Tesouro Prefixado ou a NTN-F. Neste último ativo, o investidor recebe semestralmente os juros ligado ao título – na forma de cupons – e ainda ganha o valor contratado se mantiver o título até o vencimento .

Mas Constantino alerta que, em um movimento para diminuir riscos, é prudente aplicar dinheiro em prefixados de prazo menor atualmente. Um dos títulos citados pelo gestor é o popular Tesouro Prefixado 2026, a ser adquirido diretamente no site do Tesouro Direto ou por uma corretora de investimentos.

“O que percebemos é que investidores que compram prefixados de prazo muito longo, eles sempre olham para o passado. Na verdade, o que o cliente deveria projetar é como esses títulos devem render daqui para frente”, diz. Esse movimento é antecipado pelos fundos, completa.

IPCA+ ou Selic: qual título comprar quando o juro baixar?

A unanimidade entre gestores é de que os títulos de IPCA, além de protegerem contra a inflação, são a melhor opção contra a queda dos juros. Apesar de ser o preferido, contudo, os títulos desta categoria tem um risco maior.

A grande vantagem dos títulos indexados à inflação é que eles já precificam queda na curva de juros antes dos títulos Selic, cujo impacto após a decisão do Copom é instantâneo.

Sergio Seabra, CEO da gestora Étre-Davos, explica que os títulos ligados ao IPCA, como o Tesouro IPCA+ ou as NTN-Bs, do índice IMAB, são boas escolhas considerando investimentos de longo prazo. No mercado de renda fixa, há dois fatores que justificam a escolha de investimentos com validade esticada: o prêmio de risco e a duration, ou o quanto esse ativo se valoriza ao longo do tempo.

Por que a ‘duration’ importa na renda fixa?

“Quanto maior o duration do ativo, maior o prêmio [de risco]. Quando olhamos para prêmio na curva de juros de 2 a 3 anos, ele me parece pequeno porque não há tanta possibilidade de os juros não caírem tanto. Para 5 a 10 anos para frente, aí sim tem-se um prêmio mais significativo”, afirma Seabra. Portanto, o CDI de curto prazo é uma escolha conservadora, mas corre o risco de pagar menos que a inflação no longo prazo, na visão do especialista.

“O CDI tem um prêmio de 3% a 4% acima da inflação acima da inflação. Quando olhamos NTN-B de longo prazo, ela está pagando 5% a 6% ao ano. Me parece mais atrativo. Na melhora da economia, pode haver ganhos por mais tempo.”

Luigi Wis, da Genial, também prefere os títulos em IPCA. O gestor não recomenda apenas títulos da dívida pública emitidos pelo Tesouro, mas também CDBs (Certificado de Depósito Bancário) indexados à inflação.

Debêntures: com queda da Selic, dívidas de empresas melhoram

Com a provável queda dos juros em agosto, o mercado de debêntures pode voltar a reaquecer. No começo do ano, a emissão de crédito privado e bancário sofreu com as insolvências de Light e Americanas, mas pode ter um retorno forte no segundo semestre, na visão dos gestores ouvidos por nós da Inteligência Financeira.

O Santander tem aumentado as posições em debêntures de empresas de infraestrutura. Constantino explica que isto não é um acaso: na visão da gestora, as empresas ganham maior margem de emissão com o corte da Selic – inclusive as “super sólidas”, explica.

“No primeiro semestre, os gestores de fundo de crédito tiveram que vender debêntures para gerarem caixa e liquidar os resgates. Com isso, as debêntures perderam valor. Contudo, no geral, percebemos o movimento contrário.”

Rodrigo Abreu, estrategista da ASA Alpha, da ASA Investments, afirma que o crédito privado em geral se beneficia da queda da Selic. Isso porque a queda de juros fecha o chamado spread de crédito, ou seja, a diferença da taxa de empréstimo para a taxa de emissão.

Mas os prêmios de risco do crédito são, potencialmente, alguns dos maiores entre títulos da renda fixa. Seabra alerta para que o investidor tenha cautela, porque os prêmios já estão embutidos na curva de juros. Vale lembrar que debêntures são isentas de imposto de renda.