Fundo multimercado vai bem em ambiente conturbado, mas como escolher o seu?

É preciso ter atenção para que você não corra mais risco do que deseja
Pontos-chave:
  • Fundos multimercados são hábeis para capturar a deterioração de cenário
  • Segundo a Anbima, o investimento tem dez subcategorias

Apesar da fuga de dinheiro dos fundos multimercados, esses produtos andaram bem diante do ambiente econômico conturbado, em meio ao aumento de juros e à baixa da bolsa.

O bom desempenho é fruto do que eles conseguem fazer de diferente, afirmam os gestores.

Os fundos multimercado são aconselhados para os investidores que desejam dar o primeiro mergulho na piscina dos investimentos de risco, mas eles são bastante diversos e exigem atenção na escolha para não se correr mais risco do que o desejado ou optar por uma gestora que não consegue dar rendimento consistente ao longo dos anos.

Indicador de referência de fundos multimercado, o Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA) acumulou alta de 11,7% neste ano, até agosto, enquanto o CDI apresentou valorização de 7,6% no mesmo intervalo. Apesar de não ser nada excepcional em comparação à média dos últimos dez anos, é um bom rendimento.

O que são os fundos multimercados?

Esses produtos diversificam as classes de ativos, como ações, commodities, moedas e títulos de renda fixa, no Brasil e no exterior, conforme o que os gestores entendem que tem melhor custo-benefício no momento.

Além disso, a classe não depende da direção dos mercados, porque os gestores podem apostar em altas e baixas, às vezes em direção inversa ao que as pessoas físicas estão indo.

É por isso que ela consegue andar bem em ambientes de aversão a risco.

Do que dependem os multimercados?

Contudo, o caminho depende da capacidade dos gestores de interpretar o cenário para onde o mercado está indo e se antecipar a ele.

Boa parte dos fundos multimercado que ganharam dinheiro neste ano apostaram na alta de juros para conter a inflação nos Estados Unidos, acostumados com cenários de aumentos generalizados de preços no Brasil, e na baixa das bolsas dos EUA.

Agora, os gestores precisam fazer novas apostas para continuar a sua trajetória e cabe aos investidores confiar nesses profissionais.

Os especialistas advertem que rendimento passado não é garantia de rendimento futuro.

“Não é fácil para os fundos multimercado continuarem atingindo esse desempenho. A maior probabilidade é que eles não tenham o mesmo rendimento no segundo semestre”, afirma Michael Viriato, estrategista da Casa do Investidor.

Multimercados são bons para qual perfil de investidor?

Entretanto, ele diz que a classe é boa para os investidores que desejam começar em investimentos de risco, deixando o dinheiro aplicado por dois anos, no mínimo.

“Não aconselho aos conservadores comprar fundos multimercado agora, porque o mercado está muito volátil, mas indico eles para os moderados e arrojados”, recomenda.

Qual é a aposta dos gestores de multimercados?

Renato Santaniello, chefe de soluções de investimentos e multimercados da Santander Asset, a gestora de fundos do banco, afirma que agora, um dos jeitos dos fundos multimercado andarem bem será apostando na baixa de juros no Brasil.

Aqui, a alta da Selic começou antes do que no restante do mundo e está mais perto de acabar.

“A expectativa é que os juros continuem em um nível alto até a inflação desacelerar, mas quando isso acontecer, haverá uma oportunidade gigantesca para os gestores apostarem na queda de juros”, diz Santaniello.

“Os fundos multimercados foram hábeis para capturar a deterioração do cenário e agora podem capturar a melhora no Brasil. No exterior, esse momento ainda não chegou.”

No entanto, é um desafio para os gestores acertar a hora certa de fazer essa aposta.

Carolina Oliveira, coordenadora de análise de fundos da XP, concorda que os fundos multimercado poderão se beneficiar apostando na baixa de juros no Brasil.

Porém, ela adverte que, em ano eleitoral, é esperada bastante volatilidade nos mercados de renda fixa e variável.

“Estamos bem otimistas com a classe, mas é bom lembrar que haverá volatilidade. Os produtos podem atravessar a mesma variação para cima ou para baixo”, afirma.

Como escolher fundos multimercado?

Escolher fundos multimercado para comprar não é fácil.

Conforme a classificação da Anbima, a classe tem dez subcategorias.

Boa parte dos fundos multimercado são da subcategoria “macro”.

O objetivo deles é comprar diferentes ativos, como ações, commodities, moedas e títulos de renda fixa.

Os gestores mudam a estratégia conforme o que pensam sobre a economia brasileira e mundial.

Outros fundos multimercado são da subcategoria “long and short”, por exemplo.

O objetivo deles é apostar na alta e na queda de ações, alugando papéis de terceiros e operando no mercado futuro.

As dificuldades de escolher um fundo multimercado

Além de ser complicado compreender o que é cada subcategoria, ainda é difícil identificar de qual subcategoria cada produto é, já que nem sempre ela está no nome do fundo.

Especialistas aconselham que é mais importante conhecer a gestora e entender como o fundo ganha dinheiro do que compreender a classificação em si.

“Hoje, mais do que nunca, os gestores estão abertos a abrir a cozinha, como os restaurantes. Eles se comunicam em redes sociais e sites institucionais”, afirma Oliveira.

A coordenadora de análise de fundos da XP indica comprar pelo menos quatro fundos multimercado, para diversificar o risco.

Além de um “macro” e um “long and short”, ela recomenda investir em um “multiestratégia”, que não têm compromisso com uma estratégia, e em um “quantitativo”, cuja estratégia é baseada em algoritmos.

Como escolher bons gestores de fundos multimercados

Para escolher bons gestores, a recomendação é analisar o passado dos gestores e dos fundos.

Conheça onde os gestores já trabalharam e como os fundos se comportaram durante momentos de crise e euforia do mercado.

Rendimento passado não é garantia de rendimento futuro, mas o histórico mostra do que os gestores são capazes.

Além disso, a sugestão é analisar o perfil de risco dos gestores.

Alguns são mais arrojados e, por isso, seus fundos são mais voláteis, enquanto outros são mais conservadores.

Fabiano Godoi, sócio e diretor de Investimentos da Kairós Capital afirma que, quanto mais informação o investidor tiver a respeito do fundo, mais adequada será a sua decisão.

Contudo, diz que conhecer as apostas dos gestores a cada momento é impossível para um investidor comum.

Ele aconselha contar com ajuda de casas de análises, bancos e corretoras para compreender os fundos, além de ler as cartas dos gestores para entender o que eles estão fazendo.

“Olhar o rendimento do mês passado está longe de ser a melhor forma de escolher um fundo”, indica.

Seu perfil deve estar alinhado às oscilações

Além disso, Godói recomenda adequar o perfil do investidor à oscilação do fundo.

Mais moderados devem escolher produtos que oscilam menos e mais arrojados podem escolher produtos que oscilam mais.

“Caso contrário, o investidor vai ficar nervoso e abandonar o fundo na primeira queda, e depois vai comprar quando subir outra vez. Não dá para agir assim em investimentos”, afirma.

O sócio e diretor da Kairós destaca que investidores conservadores, aqueles que não aguentam nada de rendimento negativo, não devem ter fundos multimercado.

Ele também ressalta que investidores que escolherem fundos que oscilam mais devem deixar o dinheiro aplicado durante mais tempo. “Só assim o investidor vai conseguir perceber o valor de correr mais risco.”

Para analisar a oscilação de um fundo, Godói aconselha acompanhar o histórico de rendimento, mês a mês.

“O investidor não precisa de um número para saber se aquele fundo é para ele ou não. Basta avaliar se ele tem rendimento negativo em muitos meses”, indica.