Aumenta o número de investidores entre 12 e 25 anos na Bolsa

Eles eram 16 mil em 2016; hoje são cerca de 516 mil pessoas
Pontos-chave:
  • Tem muita gente falando sobre o mercado de ações nas redes sociais, ambiente dominado pela Geração Z
  • O investidor, que sai do aplicativo de entretenimento e entra no home broker, está sujeito a muitos passos errados no mercado acionário

A Geração Z, que compreende a faixa etária de 12 a 25 anos, já conquistou seu lugar, ainda que tímido, na Bolsa de Valores brasileira. Mais especificamente, eles representaram 1,24% dos investidores registrados na B3 em 2021, segundo dados divulgados pela empresa. Na série histórica, o número passou de 16 mil pessoas, em 2016, para 516 mil no ano passado. Ao todo, o investimento dessa geração na Bolsa soma quase R$ 6 bilhões. Esses jovens investidores têm se preocupado em cuidar melhor do dinheiro que entra na conta. Afinal, nada mais “cringe” (gíria adaptada do inglês para falar de alguém que é visto como brega ou fora de moda) do que pagar boleto com o dinheiro dos pais depois de uma certa idade.

Eventos inesperados tornam-se educativos

Amadurecer e cuidar do próprio dinheiro envolve também lidar com crises, sejam elas econômicas, fiscais ou até geopolíticas, como a guerra protagonizada pela Rússia e Ucrânia. Para muitos deles, essa é a primeira vez experimentando o estresse causado por tensões entre potências mundiais sobre a sua grana.

Até por uma natural falta de experiência, a interferência do conflito externo nas Bolsas de Valores alcançou os jovens investidores. De acordo com levantamento feito pela Anbima, entre as gerações, essa faixa etária tem menos conhecimento sobre investimentos e são os que menos utilizam produtos financeiros.

“Eventos inesperados como a guerra acabam sendo educativos, apesar de sofríveis. Eu nunca tinha conferido tanto meus investimentos como tenho feito nos últimos dias. Cada notícia que leio, busco entender como se desdobra nas ações que escolhi”, conta Marina Siqueira, de 23 anos, natural de Franca, interior de São Paulo.

O principal motivo para o ingresso dela no mercado acionário foi a aposentadoria. “Quero ter uma renda para ser usada ao envelhecer. Nem sempre é fácil me manter disciplinada, mas não abro mão desse colchão, porque mesmo sendo jovem, já entendo a importância de pensar nisso”. Ela conta que sua carteira ainda é pouco diversificada e só investe em ações, brasileiras e americanas. “Tenho bancos, energia, setor de saúde e tecnologia”.

O presidente da Fiduc, fintech que oferece serviços de educação financeira e gestão patrimonial, Pedro Guimarães, acredita que o motivo que levou Marina à Bolsa é o mesmo da maioria dos jovens investidores que está na B3. “Se você tem 20 anos, hoje em dia, você não conta com o Estado para garantir sua aposentadoria daqui a 40 anos. Consequentemente, os jovens estão mais ativos na busca por novos investimentos”.

O que leva os mais jovens para a Bolsa?

Outra possível justificativa para a chegada cada vez mais cedo dessa faixa etária na Bolsa é que tem muita gente falando do mercado de ações nas redes sociais, ambiente dominado pela Geração Z. A estudante Carine Pereira, de 18 anos, faz parte desse grupo. Prestes a concluir o ensino médio na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, onde mora, o interesse pela bolsa surgiu quando ela começou a acompanhar o trabalho de influenciadores de finanças no Instagram.

“Quero fazer intercâmbio em breve e, acompanhando esses criadores de conteúdo, entendi que o meu investimento hoje vai me ajudar a acelerar esse processo. Conto com isso”. Como ainda mora com os pais, a jovem tem poucas despesas, o que garante uma folga no orçamento. No planejamento mensal, o valor destinado às ações representa 40% do que recebe no estágio onde trabalha atualmente.

Mais tempo para construir a carteira

Mas, independentemente do motivo para ingressar no mercado de ações, a Geração Z já chega com vantagem. Com quase 20 anos de diferença da faixa etária dominante na B3, esses investidores têm mais tempo para construir a própria carteira e possuem mais apetite ao risco, portanto, podem lucrar mais e mais cedo. Conforme dados do último ‘Raio X do investidor brasileiro’, divulgado pela Anbima, esse público, de até 25 anos, são os menos conservadores quando o assunto é investimento.

O levantamento da Anbima mostra que os entrevistados que fazem parte da Geração Z buscam mais informações sobre ações (26%) e criptomoedas (6,3%). Empresas ligadas à tecnologia, como Amazon, Google e Tesla, estão no pódio das mais procuradas por esse público. O apetite ao risco dessa faixa etária passa, ainda, pela negociação de bitcoins.

O estudante Antônio Valle, de 21 anos, no entanto, já aprendeu que o caminho da diversificação é o mais seguro. “Eu tenho uma mínima parte em renda fixa, outra fatia maior na Bolsa e em fundos de investimentos, e uma parte média que está apostando contra o resto. Então, se o mercado brasileiro sobe, eu ganho dinheiro na maioria das ações, mas perco um pouquinho fora e se o mercado brasileiro cai, mas o mercado internacional sobe, eu não perco tanto, porque uma coisa acaba compensando a outra”.

Geração X e a caderneta

Ainda segundo o levantamento da Anbima, a Geração X (de 41 a 56 anos) é a que mais deixa recursos na poupança, com 32,5% dos entrevistados. Os boomers (de 57 a 75 anos) lideram os investimentos em títulos privados (7,1%), fundos de investimento (5%) e planos de previdência (3,6%). Entre os millennials (de 25 a 40 anos), 5,1% investem na bolsa e 3,8% em títulos públicos via Tesouro Direto – mais do que qualquer outra faixa etária pesquisada. Já na Geração Z (entre 12 a 25 anos), 2,8% dos entrevistados investem em moedas digitais, superando os demais grupos etários.

Apesar do apetite da geração mais jovem, essa confiança em ativos de riscos não tem muitos fundamentos. Dados levantados pelo GoBankingRates mostraram que 38,8% dos entrevistados da Geração Z aprenderam sobre finanças pessoais no TikTok, YouTube ou outros meios de comunicação social, como Twitter ou Instagram. O que se vê, portanto, é que esse perfil mais arrojado tem a ver mesmo com a pouca idade e com as características desse grupo.

“Esse investidor, que sai do aplicativo de entretenimento e entra no home broker, está sujeito a muitos passos errados dentro do mercado acionário. É importante saber exatamente a fonte daquela informação, a experiência de quem está falando e seguir o seu perfil enquanto investidor. Quem já trabalha no mercado há mais tempo vai saber levar esses jovens pelos caminhos mais corretos”, orienta Guimarães.

Com reportagem do Valor Investe