Expectativa de inflação mais baixa pode afetar a renda fixa: como se proteger?

Entenda o que acontece com os títulos atrelados à inflação

A queda da expectativa de inflação no Brasil tem mudado a dinâmica dos títulos públicos e investimentos em renda fixa.

Na segunda (26), a projeção de inflação para 2022 do Boletim Focus voltou a cair. Segundo instituições financeiras consultadas pelo Banco Central, a expectativa para o IPCA deste ano passou de 6% para 5,88%.

“Com as turbulências tanto domésticas, quanto globais, como incerteza sobre a trajetória das taxas de juros no mundo, resquícios de políticas sanitárias na China ainda lutando contra a Covid-19, aproximação do pleito eleitoral no país e receios do mercado com relação ao teto de gastos, houve uma recente mudança na proporção dos títulos que compõem a dívida pública federal”, explica Daniel Marucci Soares, Head de Renda Fixa na Acqua Vero Investimentos. 

O volume de papéis prefixados, que são mais demandados em momentos de maior estabilidade, reduziu nos últimos meses.

Já a parcela de títulos corrigidos pela taxa básica de juros e as NTN-Bs, que são atreladas à inflação, apresentaram uma elevação.

Com a queda de expectativa de inflação, o movimento pode inverter, com a procura pelos prefixados crescendo, enquanto aqueles corrigidos pela inflação vão sendo deixados um pouco de lado.

Mas afinal, os títulos atrelados à inflação estão menos atrativos?

Os títulos de inflação têm uma parcela corrigida pelo indicador oficial para inflação do país, o IPCA, mais uma parcela prefixada.

“Com os dois últimos meses apresentando deflação, a correção do valor do título acaba sendo negativa. Se observarmos apenas a rentabilidade nominal que o título de inflação proporcionará nos próximos meses, de fato há uma queda na atratividade”, ressalta Daniel.

Por outro lado, segundo o especialista, é importante observar que, apesar das recentes deflações e revisões de inflação menores neste ano, em boa parte esses números vieram de dois itens: combustíveis e energia elétrica, que tiveram desonerações fiscais. 

“Na prática, a inflação que está sendo pressionada para baixo esse ano, tende a tornar o ano que vem mais desafiador por conta de questões geopolíticas, fortes indicadores econômicos ao redor do mundo e dificuldade dos bancos centrais entregarem a inflação dentro dos patamares aceitáveis, além da retomada dos impostos nos dois itens citados”, alerta Daniel.

Segundo o especialista, analisando a curva de juro real, que reflete o prêmio que os títulos de inflação estão pagando, as taxas estão historicamente elevadas.

“Isso torna o timing para alocação excelente. Nesses papéis, além da proteção inflacionária intrínseca dos ativos, há uma rentabilidade real em níveis elevados”, ressalta.

Como investir neste cenário

O primeiro passo é entender seu perfil e apetite ao risco. “Não é por que estamos com a Selic em 13,75%, que o investidor deve manter 100% da carteira na categoria pós-fixada. Aqui entra justamente a história da diversificação“, ressalta Daniel.

Para os investidores conservadores, a dica do especialista é manter a maior parte da carteira em ativos pós-fixados e de inflação, com emissão do Tesouro Nacional, que apresenta risco soberano, e de emissões bancárias, que contam com o FGC

“Como o cenário ainda é incerto, para proteção das oscilações o mais recomendado é que os investidores possuam uma parcela da sua carteira de investimentos atrelada a ativos IPCA+, com vencimentos mais curtos por apresentarem menor volatilidade, mas também de vencimentos mais longos e com foco em crédito corporativo”, ressalta.

Já para investidores que buscam mais rentabilidade, Daniel destaca opções como debêntures, CRAs e CRIs. “Eles contam com isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas e atualmente apresentam taxas bastante convidativas”, diz o especialista.

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