Rússia X Ucrânia: investidor brasileiro deve manter a calma

As decisões precisam ser tomadas tendo como base premissas e análises

Na última quinta-feira (24) o mundo parou para assistir incrédulo a invasão de tropas da Rússia em Kiev, a capital da Ucrânia. As bombas voltaram a estalar na sexta (25). O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, informou que 137 ucranianos morreram, mas que 361 pessoas foram feridas. Isso depois de uma pandemia que durou quase dois anos. Luiza Helena Trajano, presidente do conselho do Magazine Luiza, resumiu bem o cenário dizendo que nem bem o mundo “começou a reagir vem outra coisa. É um ano difícil”.

Para entender o caos em que o mundo está vivendo, a equipe da Inteligência Financeira (IF) se mobilizou em torno da live “Invasão russa: quais os efeitos do conflito nos mercados e na economia”. Comandada pelo editor-chefe da IF, José Eduardo Costa, e evento durou pouco mais de 1 hora e contou com a participação do superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves, e o especialista em investimentos e alocação também do Itaú Unibanco, Martin Iglesias. Nela, você vai saber como uma guerra nesta proporção pode mexer com seu bolso e quais são as alternativas neste momento. Veja, abaixo, os principais trechos da entrevista:

Quais são os impactos da invasão da Rússia na Ucrânia nos mercados mundiais?

Para Fernando Gonçalves, a aversão ao risco ficou ainda maior. O dólar, por exemplo, se fortaleceu. Mas o que aconteceu estava sendo precificado pelo mercado, já que o conflito havia sido anunciado há algum tempo. “É preciso esperar para ver se essa guerra vai ser rápida. Biden falou que não vai ser contrário à Rússia, mas pediu para não mexerem com países da Otan”, disse Fernando.

O que o investidor pode esperar desse cenário?

Martin Iglesias destacou os pontos nos quais o investidor deve ficar de olho neste momento. O primeiro deles é evitar decisões precipitadas. “Quando se toma decisão guiada pelo medo ou por uma sensação positiva, ela não vai bem”, disse o executivo. Para ele, as decisões devem ser tomadas em premissas e análises. “A volatilidade pode até ser uma oportunidade”, disse Martin. Também é preciso ter uma visão de longo prazo e foco na diversificação. Quem investe em dólar, neste momento tem uma carteira com menos perdas. “A diversificação é o jeito mais inteligente de assumir riscos”, afirmou Martin.

Como o investidor e a investidora devem ler o mercado para escolher um ativo nesse momento?

Tudo depende do perfil do investidor. “Mas pode-se procurar os ativos que pagam os melhores prêmios e que estão espalhados pelo mundo, seja na renda fixa, seja na variável“, disse Martin. De qualquer forma, a diversificação é o melhor caminho para você escolher ativos com bons prêmios, sempre com foco no longo prazo. “E há dias, meses e anos difíceis. No longo prazo, os períodos bons compensam os ruins”, afirmou Martin.

O que deve acontecer com o preço da gasolina?

O preço da gasolina acaba refletindo a cotação mundial do petróleo. “Tudo vai depender da política do governo para limitar as oscilações”, afirmou Fernando Gonçalves. “É um tema que já impacta políticas econômicas.”

Os investidores de commodities devem manter as petroleiras em carteira?

As commodities, disse Martin, são os primeiros ativos que são impactados. E o efeito inflacionário é muito relevante nesse cenário. É a inflação que dita o ritmo dos juros, por exemplo. Há mecanismos interessantes para o investidor se proteger, como os títulos públicos indexados à inflação. Os mais longos, que têm taxas bem interessantes, podem ser uma boa alternativa. Segundo Martin, as ações também oferecem proteção contra a alta da inflação. “E a lógica é simples. As empresas vendem ativos e serviços, que são, de alguma forma, indexados à inflação”, disse Martin.

O que esperar do dólar?

Para Fernando Gonçalves, este é o momento de fortalecimento do dólar, que é visto como um investimento seguro pelo mundo. Se essa valorização vai durar, vai depender da duração dessa guerra. É uma fuga em direção ao dólar. Mas vínhamos da apreciação do real, com apreciação dos juros no Brasil e investidor estrangeiro interessado na Bolsa brasileira, que está com preços baixos. O Brasil continua subindo juros e os EUA sobem os juros de lá na sequência. “A Bolsa brasileira perde atratividade com uma aversão mundial ao risco”, disse Fernando.

O que fazer se o investidor tiver ação de empresas americanas?

As empresas que pagam dividendos tendem a ter uma melhor performance, disse Martin. “A visão geral para Bolsa americana é positiva. Ainda tem espaço para valorização, com destaque para Bank of America, Procter&Gamble, Microsoft e Berkishire Hathaway, por meio de BDRs“, informou.

O que pode acontecer com as criptomoedas?

“Essa é uma tecnologia que está surgindo e ainda não sabemos quais vão sobreviver”, afirmou Martin. Em geral, os investidores já entenderam que as criptos têm um nível de volatilidade até 4 vezes maior do que a Bolsa. O que fazer? O ideal, diz Martin, é manter uma posição pequena, algo em torno de 3% da carteira, e de longo prazo nas criptos. Mas atenção: essa estratégia não vale para os conservadores. “Ter muito criptoativo em carteira é perigoso. Mas não ter nada talvez seja ainda mais perigoso”, afirma Martin.