BDRs de empresas de tecnologia entram no radar; mas é uma boa escolha?

Estudo mostra os papéis preferidos pelos brasileiros: Meta, Alibaba e Amazon
Pontos-chave:
  • Existem dois tipos de setores: o de crescimento e o de valor
  • Em 2021, as favoritas eram as ações de valor

Em um cenário de guerra internacional, inflação e consequentemente juros altos, é quase instintivo imaginar que os investidores escolheriam ativos mais seguros para se proteger de eventuais choques, crises e até mesmo da volatilidade. Porém, não é o que vem acontecendo. Especialmente entre o público mais endinheirado. Um estudo feito pela Smartbrain mostrou que o radar dos investidores brasileiros ricos está ligado aos BDRs, especialmente aqueles relacionados ao setor de tecnologia.

Os títulos queridinhos dos brasileiros

O BDR é uma forma de se investir indiretamente em ações da Meta (dona do Facebook), da Amazon, mesmo estando no Brasil. E foram justamente esses papéis que ganharam a atenção dos investidores no começo deste ano. Segundo o levantamento, em janeiro os três papéis mais negociados na Bolsa de Valores por esse grupo de investidores mais endinheirados foram os BDRs da Meta, do e-commerce chinês Alibaba e da mineradora brasileira Vale. Em fevereiro, os BDRs de Meta e Alibaba se mantiveram no topo e ganharam a companhia de mais uma “gringa”: os BDRs da Amazon.

A pesquisa foi feita com base na plataforma da fintech, que processa diariamente mais de 300 mil extratos de investimentos, somando mais de R$ 210 bilhões de patrimônio analisado. A maioria dos investidores considerados na pesquisa é assessorada por consultores, gestores de patrimônio, gerentes de private e wealth management e escritórios de agentes autônomos. Portanto, é possível afirmar que o estudo leva em conta os ativos que os investidores mais ricos aplicaram.

Foco em tecnologia

Segundo analistas, o comportamento desses investidores em focar em companhias de tecnologia nesse momento é considerado surpreendente, mas é justificado pela busca de boas oportunidades que essas ações podem representar. “Alibaba e Facebook sofreram quedas gigantescas recentemente. O AliBaba no começo do ano teve uma queda bem acentuada e, simultaneamente, a empresa nunca esteve melhor, ela multiplicou muito sua receita desde sua estreia na bolsa. Então, há espaço para a alta delas”, afirma Alberto Amparo, principal executivo de análise internacional na Suno Research.

Uma das principais razões para a queda das ações da companhia chinesa foi a possibilidade da “deslistagem” das empresas chinesas nas bolsas americanas. No fim do ano passado, a Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado norte-americano, semelhante à CVM no Brasil, adotou medidas que expulsariam empresas estrangeiras das bolsas nos EUA caso elas não cumprissem padrões de auditoria norte-americanos. Isso, segundo Amparo, assustou os investidores, ainda que não haja razão para isso, já que os fundamentos da empresa seguem os mesmos.

“A Alibaba nem estava entre as mencionadas. E as empresas vão ter 24 meses para se adaptarem, então a probabilidade de não se encaixarem é pequena. A Alibaba continua pujante. As ações caíram como se a empresa tivesse piorado e não foi o que aconteceu”, diz.

No caso da Meta, dona do Facebook, Amparo explica que uma das principais razões para a queda foi uma atualização feita pela Apple nas configurações de privacidade dos usuários de seus aparelhos. Isso poderia diminuir a eficiência do marketing do Facebook, que é uma das suas principais fontes de receita. “Só que a Meta é uma empresa que já venceu inúmeros desafios, caiu muito recentemente, mas não ficou muito menos capaz de gerar caixa nos próximos anos. Então segue sendo uma boa oportunidade”, afirma.

Quedas na Amazon

Por fim, a Amazon também aparece como um investimento com possibilidade de alta, justamente devido a quedas recentes, segundo Amparo. O lucro líquido baixo no trimestre foi uma das razões para as perdas. “Os investidores são muito imediatistas, o investimento da Amazon é em pessoas, em crescimento”, afirma.

Um outro olhar

Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos, por outro lado, destaca que essas companhias podem sofrer ainda mais devido à perspectiva de juros maiores nos Estados Unidos. Na última semana, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) subiu os juros pela primeira vez desde 2018. A alta foi de 0,25 ponto percentual, para entre 0,25% e 0,50% ao ano.

Segundo a analista, isso impacta negativamente companhias chamadas “de crescimento”, que precisam reinvestir seu capital para fazer os negócios progredirem. Como elas normalmente fazem mais dívidas para financiar seu crescimento, quando os juros sobem, o resultado operacional delas piora. Afinal, elas vão pagar mais caro por seus empréstimos.

“Existem dois tipos de setores: o de crescimento e o de valor. Crescimento são empresas como Amazon, Facebook, Uber. Elas deixam de gerar lucro por muito tempo, mas têm potencial de gerar, mas por enquanto ainda estão crescendo. Do outro lado tem os bancos e produtoras de commodities que são empresas de valor, que já cresceram muito no passado e agora são mais sólidas. Elas pagam mais dividendos, porque não precisam reinvestir caixa pra crescer”, explica a analista.

O interesse dos investidores mudou

No ano passado, o cenário de preferência dos investidores era bem diferente. As três favoritas do grupo analisado pela Smartbrain ao longo de 2021 foram justamente ações “de valor”: a mineradora Vale, o Banco do Brasil e a própria B3. O critério utilizado para o ranking feito pela companhia foi a posição média que cada ativo teve nos rankings mensais, ponderada pela quantidade de meses em que apareceu nas listas dos mais aplicados.

Segundo analistas, o comportamento desses investidores em focar em companhias de tecnologia nesse momento é considerado surpreendente, mas é justificado pela busca de boas oportunidades que essas ações podem representar. “Alibaba e Facebook sofreram quedas gigantescas recentemente. O AliBaba no começo do ano teve uma queda bem acentuada e, simultaneamente, a empresa nunca esteve melhor, ela multiplicou muito sua receita desde sua estreia na bolsa. Então, há espaço para a alta delas”, afirma Alberto Amparo, principal executivo de análise internacional na Suno Research.

Uma das principais razões para a queda das ações da companhia chinesa foi a possibilidade da “deslistagem” das empresas chinesas nas bolsas americanas. No fim do ano passado, a Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado norte-americano, semelhante à CVM no Brasil, adotou medidas que expulsariam empresas estrangeiras das Bolsas nos EUA caso elas não cumprissem padrões de auditoria norte-americanos. Isso, segundo Amparo, assustou os investidores, ainda que não haja razão para isso, já que os fundamentos da empresa seguem os mesmos. “A Alibaba nem estava entre as mencionadas. E as empresas vão ter 24 meses para se adaptarem, então a probabilidade de não se encaixarem é pequena. A Alibaba continua pujante. As ações caíram como se a empresa tivesse piorado e não foi o que aconteceu”, diz.

Meta: capacidade de gerar caixa

No caso da Meta, dona do Facebook, Amparo explica que uma das principais razões para a queda foi uma atualização feita pela Apple nas configurações de privacidade dos usuários de seus aparelhos. Isso poderia diminuir a eficiência do marketing do Facebook, que é uma das suas principais fontes de receita. “Só que a Meta é uma empresa que já venceu inúmeros desafios, caiu muito recentemente, mas não ficou muito menos capaz de gerar caixa nos próximos anos. Então segue sendo uma boa oportunidade”, afirma.

Por fim, a Amazon também aparece como um investimento com possibilidade de alta, justamente devido a quedas recentes, segundo Amparo. O lucro líquido baixo no trimestre foi uma das razões para as perdas. “Os investidores são muito imediatistas, o investimento da Amazon é em pessoas, em crescimento”, afirma.