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Conheça as lições de investidores e analistas para você atravessar a turbulência na economia
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Para começar, é importante pensar no seu perfil de investidor e nos seus objetivos financeiros
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A reserva de emergência precisa estar sempre na lista de prioridades
Inflação forte no Brasil e no mundo, Bolsas em baixa por aqui e lá fora, dólar disparando contra o real e criptomoedas derretendo. Esse foi o cenário do fim do primeiro semestre, que ainda contou com invasão da Ucrânia pela Rússia e novos surtos de covid-19 que ainda paralisam a economia chinesa, além das eleições locais pela frente.
Resultado? Praticamente nenhuma aplicação financeira escapou de ter retorno real negativo no primeiro semestre, o que significa que nem mesmo quem diversificou a carteira deve ter se dado bem nos primeiros seis meses do ano.
Fujam para as colinas
Se pudéssemos escolher uma trilha sonora para o momento, caberia bem na situação, tanto para quem investe, quanto para quem cuida dos recursos de clientes, a música “Run to the Hills”, do Iron Maiden. Numa tradução simples, fujam para as colinas, corram por suas vidas, frase que já foi muito usada no teatro, na literatura e no cinema. (Em tempo: a letra de “Run to the Hills” faz alusão à invasão das terras indígenas pelos colonizadores, os homens brancos, nos Estados Unidos).
“São raros os investidores e analistas que não tiveram perdas recentes. E, quando olhamos para frente, vemos muitos riscos. Até os índices inflacionários dos Estados Unidos assustam – são os maiores em quatro décadas”, detalha Aquiles Mosca, responsável pela área comercial, de marketing e digital da BNP Paribas Asset Management.
Com os ventos contrários vindos de todos os lados, procuramos especialistas para ouvir o que eles têm falado para seus clientes neste momento, e que sirva de orientação também para quem investe por conta própria.
Dicas dos especialistas
E se adivinhar o que vem pela frente costuma ser complicado, dado que a bola de cristal nem sempre funciona, uma primeira recomendação nestes momentos é se voltar para si mesmo. Em outras palavras, pensar no perfil e nos objetivos financeiros e de vida de cada investidor. “O cenário econômico não manda nos investimentos. O melhor é saber o que a pessoa quer fazer com o dinheiro, que tipo de oscilação ela suporta, quais os prazos envolvidos”, diz Valter Police, planejador financeiro fiduciário e chefe da Academia Fiduc.
Segundo ele, é preciso duvidar de previsões certeiras. Ou seja, toda vez que a Selic sobe um ponto, acontece um debate para saber qual seria, agora, com o “novo cenário”, a melhor opção. E como bem sabemos, e Police reafirma, trocar de investimento a toda hora não é saudável.
Além disso, os especialistas lembram que esses momentos de volatilidade reforçam a importância de que o dinheiro que será a salvação numa emergência esteja numa aplicação de renda fixa conservadora, com pouca oscilação e disponível para saque imediato sem perda de principal. “Essa resposta sempre será a mesma. A Selic pode estar 3% ou 20%. Para a reserva, o destino é a renda fixa”, diz Police.
A famosa reserva de emergência
Sigrid Guimarães, sócia e presidente da Alocc Gestão Patrimonial, diz que a formação desse colchão de liquidez é a primeira etapa no planejamento financeiro que ela monta para sua clientela na empresa, que em abril deste ano tinha R$ 10,4 bilhões sob seus cuidados. Esse “colchão” para o curto prazo, formado por opções com taxa de administração baixa e boa rentabilidade, seria calculado com base no custo de vida da família. “Se a família perdeu receita, o emprego, sofreu acidente, ou teve algum problema, esse dinheiro estará lá”, indica Guimarães.
Apenas quando o patamar de necessidade da família é atingido, ou seja, quando existir um dinheiro excedente a essa reserva, é que é possível diversificar, diz a sócia da Alocc.
Já quando se pensa em alocação do dinheiro fora da reserva de emergência, o perfil de tolerância ao risco do cliente e a meta de uso do dinheiro também entram em cena. Se o objetivo for a aposentadoria, daqui a 30 anos, o indicado é ter uma carteira diversificada: ações, renda fixa, multimercado, fundos imobiliários, opções internacionais, metais. E as proporções devem ser ajustadas periodicamente, de acordo com o perfil do cliente. “A mesma carteira não serve a pessoas diferentes. Dinheiro é um meio, não um fim”, ressalta Police.
Já se o dinheiro não vai ficar aplicado por tanto tempo assim, e o investidor é mais conservador, o cliente pode optar por ativos que ofereçam mais segurança para passar por essa fase complicada e deixar para, no futuro, rebalancear a carteira com ativos de maior risco e potencial de ganho. “(Neste momento), é preciso preservar o capital do cliente”, afirma Ricardo Rochman, professor de finanças da FGV-EAESP.
Para esse público, ele indica títulos públicos do Tesouro Direto, que são de baixo risco e com chance pequena de “calote”. Para investimentos de curto prazo, Rochman sugere opções pós-fixadas que remunerem com a taxa Selic.
Faça ajustes na sua carteira de investimentos
Segundo Luiz Cesta, sócio e chefe de análise da Monett, a volatilidade atual acaba “bagunçando” a carteira, que precisa ser ajustada com mais frequência. Isso porque, diz ele, quando o preço das ações cai muito, a fatia da renda variável no portfólio fica num nível inferior ao planejado inicialmente. “Nós fizemos uma alteração recente e pontual nas nossas carteiras. Uma delas foi adicionar fundos que estão sediados em outros países e que tenham denominação em dólar. E é possível também comprar BDRs aqui no Brasil”, ressalta. Vale relembrar que as BDR (Brazilian Depositary Receipts) são fundos de índices negociados em bolsas internacionais.
Cesta afirma que houve aumento também na exposição em ativos indexados à inflação por causa do atual cenário. Outra recomendação que pode estar na manga do gestor, para o cliente que quer focar no curto prazo, é o Tesouro IPCA+. Já no longo prazo, recomenda o especialista, o caminho são as ações.
Se o horizonte é de longo prazo…
Diante de tantas variáveis, é normal que o ser humano tente encontrar no passado uma resposta que ofereça segurança no presente. Quando começou a crise financeira nos Estados Unidos, em 2008, com a derrocada do banco de investimento Lehman Brothers – o que provocou um elevadíssimo cenário de incerteza, o megainvestidor Warren Buffett resolveu falar.
O momento era de silêncio. Ninguém sabia se a economia norte-americana aguentaria o baque e se os problemas se alastrariam pelo mundo. Buffett não só manteve o sangue frio, como veio a público batendo na tecla da análise fundamentalista (método usado para avaliar a saúde financeira e organizacional de uma empresa), dizendo quais eram as ações que ele estava comprando naquele instante. O “oráculo” de Omaha chegou a escrever um artigo sobre o tema no New York Times, defendendo a compra de ações de empresas americanas com foco no retorno de longo prazo, que era o que ele estava fazendo.
Para Aquiles Mosca, da BNP Asset, nesse momento, é preciso fazer como Buffett. Recorrer à análise fundamentalista, que leva em conta os fundamentos dos setores e das empresas, e não se prender à armadilha do curto prazo. Segundo ele, o foco é o horizonte de ao menos dois ou três anos à frente. “Se há bons fundamentos, o cliente colherá os frutos – ou os rendimentos”, diz Mosca.
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