Queda da inflação: é hora de investir em renda fixa indexada ao IPCA?

Confira a análise de especialistas e entenda se este é um bom momento para essas aplicações

Você já se perguntou se uma possível queda na inflação terá impacto sobre investimentos de renda fixa atrelados ao IPCA? É bem possível que quem tem (ou pretende ter) esse tipo de aplicação esteja com essa dúvida, especialmente com os últimos dados divulgados sobre a inflação no Brasil.

Aliás, para quem não se lembra, no dia 8 de maio deste ano, a projeção do IPCA caiu para 6,02% em 2023 e para 4,16% em 2024. Os dados são do Boletim Focus, do Banco Central (BC).

Será, portanto, que é um bom momento para investir em renda fixa atrelada a esse índice, principal medidor da inflação? Vamos entender o que dizem os especialistas Fernando Siqueira, head de research da Guide investimentos, e Marcus Macedo, CIO do Andbank.

O que é o índice IPCA

Antes de tudo, vale relembrar o que é o índice IPCA, sigla para Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. “O IPCA é o índice oficial de inflação do Brasil”, define Marcus, do Andbank.  

Calculado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o índice aponta a variação do custo de vida médio de famílias que têm renda mensal entre 1 e 40 salários mínimos.

Para chegar a esse dado, o IBGE faz um levantamento de cerca de 430 mil preços em 30 mil locais de 13 áreas urbanas do país.

“A metodologia utilizada pelo IBGE para calcular o IPCA é baseada em sistema de pesos fixos, que utiliza uma cesta de produtos e serviços com pesos pré-determinados”, explica Marcus.

Isso quer dizer que os preços de cada item da cesta são coletados em um período de referência e comparados com os preços do mesmo item na pesquisa anterior.

“A variação de preço de cada item é ponderada de acordo com o peso que ele tem na cesta, resultando em uma variação média de preços para o período”, diz ele.

O IPCA, por fim, é composto por nove grupos de produtos e serviços. E cada grupo é composto por diferentes itens, que são ponderados de acordo com a participação no orçamento das famílias.

Os grupos são:

  • Alimentação e Bebidas;
  • Habitação;
  • Artigos de Residência;
  • Vestuário;
  • Transportes;
  • Saúde e Cuidados Pessoais;
  • Despesas Pessoais;
  • Educação;
  • Comunicação

Como está a inflação no Brasil?

Além das projeções do Focus, dados do IBGE também apontam uma desaceleração da inflação.

De acordo com o instituto, o IPCA de março subiu 0,71%, o que indica um resultado inferior ao de fevereiro, quando o aumento foi de 0,84%.

Apenas para comparar, vale relembrar que, em março de 2022, a variação do IPCA havia sido de 1,62%. Ainda segundo o IBGE, nos últimos 12 meses, o IPCA ficou em 4,65%.

Detalhe: foi o menor aumento registrado desde janeiro de 2021 e foi a primeira vez, em dois anos, que o IPCA acumulado de 12 meses esteve abaixo de 5%. Nos 12 meses anteriores, o índice subiu 5,60%.

É hora de investir em renda fixa indexada ao IPCA?

Primeiramente, como explica Fernando, da Guide, a queda da inflação costuma ser positiva para títulos de renda fixa em geral.

Isso porque a queda da inflação tende a gerar queda nas taxas de juros. Isso valoriza títulos prefixados (que já têm uma taxa de juros definida no ato da aplicação) e títulos atrelados à inflação (que têm parte da taxa de juros também definida no ato da aplicação).

Prefixados x IPCA

“Entre um tipo e outro, porém, o prefixado deve levar a melhor nos próximos 12 ou 24 meses, quando comparamos títulos de mesmo prazo”, diz Fernando.

Por outro lado, ele explica, títulos com vencimentos mais longos também tendem a se valorizar em cenários de queda de juros. “E esses títulos mais longos são indexados ao IPCA”, diz Fernando.

Tudo isso, claro, desde que se confirmem a queda da inflação e a consequente queda das taxas de juros.

Ou seja, para o especialista, ainda que a renda fixa prefixada possa ser mais vantajosa neste momento, títulos atrelados ao IPCA também podem ser interessantes.

Apreciação com queda de juros

Marcus, do Andbank, segue a mesma linha de raciocínio.

Para ele, o momento de mercado, com a discussão sobre o início do ciclo de corte de juros, parece oportuno para todos os investimentos que tenham um componente prefixado. “Esses investimentos apreciam em momento de queda de juros”, confirma.

Entre esses investimentos, lembra o especialista, está a renda fixa indexada ao IPCA, que também tem um componente prefixado.

“Por exemplo, quando um título como a NTN-B é negociado a IPCA + 5,8%, a parte IPCA é pós-fixada, claro, porque não sabemos qual será a inflação do período”, diz ele. “A taxa de 5,8%, no entanto, é prefixada”, lembra.

Ainda que o timing do início dos cortes de juros seja incerto e possa ocorrer tanto ao longo do segundo semestre quanto no próximo ano, Marcus acredita que apenas sua expectativa já esteja levando a uma apreciação dos papéis.

“Até o dia 5 de maio, o índice IMA-B, que indica o desempenho dos preços de mercado de títulos públicos indexados ao IPCA, já mostra valorização no ano de 6,97% – contra um CDI de 4,41%” diz ele.

Só para complementar, o IMA-B é um índice formado por títulos públicos indexados à inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Eles são as NTN-Bs (Notas do Tesouro Nacional – Série B ou Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais).

E o CDI? Falamos sobre ele recentemente, lembra? CDI (ou taxa DI, mais precisamente) é a taxa de juros que um banco cobra para emprestar recursos a outro banco.

Investimentos atrelados ao IPCA para ficar de olho

Para quem está interessado em incluir na carteira aplicações de renda fixa atreladas ao IPCA, os especialistas recomendam ficar de olho em títulos públicos e ativos isentos de Imposto de Renda, como debêntures, LCIs, LCAs, CRIs e CRAs.

Confira um pouco sobre cada alternativa lobo abaixo:

Tesouro IPCA+/NTN-B

O tesouro IPCA+ é um título do Tesouro Direto que, como o nome já indica, está atrelado à inflação. Como está atrelado ao Tesouro Nacional, é considerado um dos investimentos mais seguros do mercado.

“É um investimento mais simples, com liquidez diária e vencimentos em vários prazos, desde muito curtos até bastante longos”, afirma Marcus.

“Esses títulos têm o imposto de renda retido no momento da venda”, complementa.

Ativos Isentos (LCI, CRI, LCA, CRA, debêntures incentivadas)

Marcus também recomenda que os investidores prestem atenção a ativos isentos de imposto de renda, como LCIs e LCAs, CRIs e CRAs e debêntures incentivadas.

Como não têm a garantia do Tesouro Nacional, esses investimentos normalmente oferecem um retorno melhor do as NTN-Bs. “Para compensar o risco”, diz o especialista.

Mas existe um ponto de atenção. “Algumas instituições definem as regras de liquidez na emissão do papel”, diz o especialista. “Na maioria dos casos, porém, eles precisam ser levados ao vencimento”, alerta.

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