Quanto custa morar sozinho?

Aluguel, mercado, transporte, contas... o segredo é se planejar antes de dar adeus à casa dos pais

De todas as metas que você fez para o final do ano, pense na mais desafiadora de concretizar. Se a resposta foi sair da casa dos pais, saiba que você não é o único. Afinal, quanto custa morar sozinho? A resposta pesa no bolso, mas com algumas dicas, é possível criar um orçamento robusto e uma boa reserva para dar os passos necessários em direção à tão sonhada independência pessoal.

Para começar a sequer pensar em sair de casa, é preciso considerar a consistência das receitas mensais, ou seja, o quanto você ganha por mês, e do seu custo de vida.

Especialistas apontam que ter uma reserva de emergência e investir é igualmente importante.

Por que sair de casa?

O motivo para deixar a casa dos pais pode ser diverso. Mas mudar de CEP é uma medida que exige bom planejamento e meses de preparo.

Murilo Tunholi, assessor de imprensa, decidiu deixar a casa da mãe em Campo Grande, na zona oeste do Rio, para mudar de endereço. Ele percorreu 345 quilômetros de Dutra, rodovia que liga a metrópole carioca à paulistana, e alugou um apartamento no Paraíso, na zona sul de São Paulo.

A cada momento antes de empacotar seus pertences, conta que pensou em desistir por medo do custo de morar sozinho.

“Mas não tem oportunidade profissional [na minha área] no Rio de Janeiro. Queria vir para São Paulo há muito tempo por motivos profissionais, porque lá onde eu estava não tinha uma boa perspectiva para o meu futuro”, diz Tunholi.

Qual o preço médio do aluguel em São Paulo?

A busca por crescimento profissional lhe trouxe à cidade mais cara para se alugar um imóvel no Brasil. Dados do instituto de pesquisa econômica Fipezap mostram que, em novembro de 2022, o preço médio do aluguel de imóvel anunciado na capital paulista foi de R$ 45,16 por metro quadrado.

Se tivesse ficado no Rio, Murilo provavelmente pagaria um aluguel mais barato. O preço médio de um imóvel anunciado na metrópole carioca é de R$ 37,35 por metro quadrado, 28% a menor do que em São Paulo.

Um dos maiores custos de sair de casa, explica Murilo, foi o caminhão de mudança. Com um frete interestadual, a empresa cobrou mais de R$ 2.400 por enviar seus móveis. Além disso, ele fez contas com estimativa alta [ara o mercado, e as contas de luz, água e gás. Assim, ele diz, teve mais margem para se preparar para o pior morando sozinho.

Planejar a mudança com antecedência foi, portanto, foi essencial.

Como calcular o quanto custa morar sozinho?

Mas não é todo mundo que vai gastar a mesma coisa com a mudança. Para calcular o quanto custa morar sozinho, é importante rever gastos mensais e separá-los entre despesas fixas e variáveis.

Despesas fixas

São despesas que têm custo previsível e não estão tão sujeitas à volatilidade do mercado do dia para a noite. É mais difícil cortar esses custos do seu orçamento, seja porque você pode ser despejado (e ninguém quer isso) ou entrar em apuros. São, no caso, gastos com:

  • Aluguel e condomínio (apenas se houver)
  • Impostos (como IPVA se a pessoa for dona de um automóvel ou IPTU se o imóvel for em um centro urbano)
  • Plano de saúde
  • Plano de internet e rede móvel
  • Transporte público

Despesas variáveis

As despesas variáveis são mais sucetíveis ao nível de consumo e com índices de mercado, como a inflação. Elas são mais fáceis de serem cortadas na hora de aplicar a tesoura no orçamento para diminuir o custo de morar sozinho. As mais importantes são:

  • Contas de água, luz e gás
  • Mercado
  • Plano de saúde (se houver)
  • Serviços (corte de cabelo, manicure, academia, entre outros)
  • Transporte por aplicativo
  • Gasolina
  • Medicamentos

Como calcular conta de água, luz e gás morando sozinho?

Mas como estimar gastos com contas de luz, água e gás se eu moro com a minha família?

André Sandri, educador financeiro e fundador da EDUCA$, explica que hoje, algumas empresas oferecem calculadoras gratuitas para que o consumidor tenha uma ideia do quanto gasta com eletricidade ou água.

A Sabesp tem um simulador de consumo de água por cômodo. A Enel de São Paulo e a Energisa também têm suas calculadores de uso de energia elétrica que funcionam por aparelhos instalados e o tempo que passam ligados. O gás é mais difícil de ser calculado.

Ao mesmo tempo, o mercado pode ser estimado com a ajuda de aplicativos de compras para calcular o custo mensal.

Antes de ir ao mercado, entre em algum desses aplicativos e pesquise o conjunto de preços dos mercados da sua região, o André Sandri usa e recomenda, por exemplo, um aplicativo chamado Super Poupa.

Use aplicativos e abuse do Excel

Uma boa dica é usar um programa de tabela, como o Microsoft Excel ou o Google Sheets, para contabilizar todas as receitas e despesas. Além disso, vale também utilizar aplicativos de organização financeira, como o Murilo Tunholi, que usou um app chamado Organizze.

Quanto gastar com o aluguel morando sozinho?

Sandri aponta que o recomendável a ser gasto com aluguel e condomínio por mês é, no máximo, 20% do quanto se ganha por mês. “Mas, como sabemos que o jovem geralmente tem rendimentos menores, recomendamos que se gaste até 50% com aluguel e condomínio”. Vale acrescentar o IPTU nessa equação:

Os outros 50% dos rendimentos — metade que fica de fora do aluguel e condomínio — devem ser destinados às despesas, principalmente às fixas, como o pagamento de impostos e transporte.

Como economizar para não voltar a casa dos pais?

Segundo o educador financeiro, o primeiro passo para morar sozinho é ter responsabilidade com o próprio dinheiro — e isso passa por analisar e cortar gastos fixos e variáveis onde é possível. Ou seja, aplique a tesoura nos custo que você mais controla.

“Despesas fixas e variáveis são como nossas unhas. Nós precisamos cortá-las para que não atrapalhem nossas vidas. Economizar nas contas de água e luz, por exemplo, ajuda a pagar outros gastos, como transporte e aluguel.”

André Sandri, educador financeiro

O especialista explica que deve haver uma proporção entre as receitas brutas e os gastos fixos e variáveis.

Ao sair de casa, o jovem deve ter, pelo menos, dinheiro o suficiente para se sustentar por quatro meses sozinho. Ou seja, é necessário acumular em salário, receita com vendas ou bicos pelo menos quatro vezes tudo que você gasta mensalmente.

Mas guardar dinheiro não quer dizer deixar milhares de reais parados na conta bancária. A dica do especialista é investir para criar um colchão monetário e uma reserva de emergência. Veja a diferença dos dois a seguir e porquê eles são importantes.

Como criar uma reserva para morar sozinho?

Pois bem, você colocou seus gastos na planilha, fez as contas e sabe como acumular quatro vezes o que você gasta. Agora, o que fazer?

O passo seguinte é criar um colchão para amortecer suas despesas e uma reserva de emergência para imprevistos.

Um colchão é como se fosse uma ‘gordura’ extra para queimar na planilha de gastos. Como define Sandri, é o uso de rendimento para ajudar no futuro. Além de poupar dinheiro, a pessoa pode aumentar o colchão economizando.

Já a reserva de emergência é para lidar somente e apenas com imprevistos. Por isso, a ideia é investir não o dinheiro do colchão, e sim o da reserva. Quem sai de casa deve ter em mente que se cuidar é importante, por isso lidar com imprevistos relacionados à saúde física e mental são prioridade.

“Construir os dois paralelamente é ideal”, afirma Sandri, recomendando também poupar aos poucos para atingir esse objetivo.

Prazo para construir o colchão e a reserva emergencial

  • Reserva de Emergência: corresponde a 10% do valor de todas as suas despesas. É melhor que seja acumulada em 4 a 6 meses. Se você ainda não acha que está pronto para morar sozinho, mas pensa na ideia, comece a investir desde cedo na reserva.
  • Colchão financeiro: Ter um bom colchão demora mais. O ideal é acumular mais 10% do seu custo de vida ao longo de, no mínimo 8 meses. Seriam cerca de 2 meses depois de terminar de construir a reserva.

Como investir pode ajudar a morar sozinho?

Dito isso, ter a ajuda do mundo dos investimentos é um passo à frente na procura pela independência pessoal. Para morar sozinho, um investimento consistente na renda fixa é a melhor pedida, com liquidez diária e de curto prazo. O prazo é importante porque, se tratando de uma reserva de emergência, é interessante sacar quando o imprevisto acontece.

Bons investimentos para quem está interessado em morar sozinho são:

  • Tesouro Direto: Os títulos da dívida pública do Brasil são boas opções pelo rendimento previsível. A melhor opção segundo Sandri é o que rende com base na taxa básica de juros, o Tesouro Selic. Com a Selic em 13,75% ao ano e a inflação em cerca de 5%, o rendimento torna esse título atrativo em 2023.
  • LCI e LCA: Letras de Crédito Imobiliário e Agrícola são emitidas por bancos e financiam seus respectivos setores. O bom desse investimento é que a pessoa não paga impostos e o rendimento bruto é igual ao líquido
  • CDB: Versátil, o Certificado de Depósito Bancário pode ser uma boa alternativa à poupança. Ele pode ser prefixado ou pós fixado. Para quem não entende muito de investimentos, é melhor optar por um de rendimento fixo.

E cuidado com os investimentos que dizem oferecer rendimentos gigantescos. Não existem milagres no mundo das finanças. O que existe é técnica, estratégia e, se você puder, paciência. Sem isso, você pode voltar algumas casas no jogo da vida. Perder dinheiro pode fazer o sonho de morar sozinho demorar mais tempo para acontecer.

O jovem geralmente tem grandes ambições, o que eu admiro. Mas me preocupo pela procura pelo dinheiro fácil. Isso não existe.

André Sandri, educador financeiro

Um dos ditados preferidos do mercado financeiro é ‘quando a esmola é demais, o santo desconfia’.

Descuidos podem custar caro para quem sai de casa

Por fim, lembre sempre de exigir o que é seu por direito. Afinal, morar sozinho é sinônimo de independência, mas acompanhada de processos burocráticos.

Murilo Tunholi, o carioca que veio para São Paulo, teve mais dor de cabeça ao descobrir falhas no apartamento mesmo depois de fazer visita ao imóvel. Sua imobiliária disse que não cobria o sistema elétrico e hidráulico na vistoria. Após se mudar, ele descobriu gambiarras na pia e teve que gastar com um marido de aluguel para consertar o problema.

Fernanda Viana, especialista em direito imobiliário, explica que, nesses casos, a vistoria deve ser realizada pela imobiliária com “total diligência e prudência”.

“A imobiliária não deve negligenciar os cuidados que deveria ter ao vistoriar um imóvel colocado à venda, devendo sempre esclarecer ao comprador interessado todos os riscos que a propriedade oferece”, conta a profissional do Juveniz Jr. Rolim Ferraz Advogados. Caso contrário, a empresa está sujeita a responder por perdas e danos.

Outro descuido que pode custar caro são multas por desobedecer regras do condomínio ou vizinhança, se houver. É bom pedir pelo documento atualizado de normas do prédio antes de concluir a mudança, diz Pedro Theberge, do Serur Advogados.

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