Títulos isentos de IR: ainda vale a pena manter na carteira?

Prêmios de debêntures incentivadas, CRAs, CRIs, LCAs e LCIs estacionaram, mas carregar produtos até o vencimento ainda é atrativo

Depois de um primeiro semestre convidativo para a compra e venda de títulos isentos de IR, esse mercado ficou mais apertado para o investidor. Seja ele de grande porte, seja ele, principalmente, pessoa física. Vale lembrar que dentre os ativos que não pagam Imposto de Rendadebêntures incentivadas, CRAs, CRIs, LCAs e LCIs.

Foram praticamente seis meses de grande movimentação no trade de renda fixa. Isso porque houve correria no mercado com a notícia da fraude da Americanas (AMER3) e o pedido de recuperação judicial da Light (LIGT3). Com medo de uma quebradeira, a demanda por crédito caiu e a oferta reagiu dobrando os juros em busca de novos interessados.

Mas, agora, isso passou. Os títulos isentos de IR mais seguros já operam dentro de níveis anteriores à crise. Assim, isso faz com que o investidor precise correr muito risco para ganhar pouco menos de 1% daquilo que ele ganharia, sem sustos, com um título NTN-B do Tesouro Direto.

Sem contar a taxa cobrada pelas corretoras. Afinal, elas comem exatamente a metade do prêmio atual, cerca de 0,50% do spread do papel, em tarifa de daytrade.

Spreads dos títulos isentos de IR

“Na média, os spread dos títulos isentos de IR estão parados entre 0,84% e 0,86% acima dos títulos NTN-Bs”, afirma Ulisses Nehmi, CEO da Sparta.

Ele conta que nos últimos dois meses, os prêmios oferecidos por esses papeis no mercado secundário lembram o desempenho do Ibovespa. Ou seja, com bastante oscilação, embora andando de lado.

“Não vale a pena para o investidor pessoa física ficar comprando e vendendo esses papeis atualmente”, destaca.

Trajetória de juros

Para Mayara Ranni Sekertzis, que lidera a área de fundos da Manchester Investimentos, outro motivo para esse zero a zero nos títulos corporativos atrelados ao IPCA é a incerteza em torno da trajetória dos juros, tanto aqui no Brasil como no exterior.

“Quando a gente vai para os papéis isentos, que são geralmente indexados ao IPCA, eles têm a influência também da curva de juros, que ultimamente tem sido muito impactada por fatores externos”, afirma.

Mayara conta que os motivos para esse fraco desempenho no mercado de títulos incentivados ainda está relacionado às inseguranças internas, em torno do cenário fiscal para o ano que vem.

E, mais recentemente, a impressionante valorização dos títulos de tesouro americano, os Treasuries de 10 anos, que ultrapassaram os 5% ao ano pela primeira vez em 16 anos.

Onde estão as oportunidades

Mas existem boas notícias. Para Ulisses Nehmi, da Sparta, se ficou ruim para o trader, o mercado ainda continua atrativo para quem pretende carregar os títulos por algum tempo. Mas o risco, nesses casos, pode aumentar.

“A gente encontrava muito espaço nos títulos mais seguros, com rantings AAA. Depois passamos para as AA e agora estamos vendo movimentos mais heterogêneos nos A”, afirma. “Só que aumentar muito o risco é para o investidor bem mais agressivo”, destaca.

Com um olhar atento, no entanto, o investidor ainda encontra boas oportunidades com baixo risco para carregar até o vencimento. Em relatório do Itaú BBA, liderado pelo analista Ciro Matuo, a carteira recomendada de ativos de renda fixa mostra opções que entregam, descontada a inflação, quase 8% de rentabilidade.

Um dos títulos mais seguros da lista, uma debênture incentivada da empresa de transporte Rumo (RAIL3), com vencimento em 2019, paga 7% ao ano, fora a inflação do período. Outra, da concessionária Rota das Bandeiras, com vencimento em 2034, entrega IPCA + 7,9% ao ano.

Como funciona o crédito corporativo

O crédito privado é nada mais do que um título de dívida emitido por uma empresa que, geralmente, busca recursos para tornar possível um projeto, expandir um negócio ou por necessidade de capital de giro na operação.

Comprar um título de crédito privado nada mais é do que emprestar dinheiro para a empresa, em troca de uma remuneração definida, geralmente em CDI, acrescido de um prêmio de risco.

Apesar de ser classificado como investimento de renda fixa, já que o investidor que mantém o papel até a data de vencimento sabe exatamente quanto ele irá receber, o título de crédito sofre flutuações ao longo do caminho, o tal do spread registrado no mercado secundário.

Isso pode fazer com que o retorno fique mais alto ou mais baixo para quem quiser vender o papel antes do prazo do vencimento.

Quem costuma ganhar dinheiro com essas flutuações são justamente os fundos de investimento, que é onde boa parte dos investidores aplica nessa modalidade hoje em dia no Brasil. Acredita-se que 15% de todo o montante atualmente aportado em fundos de investimento estão expostos a crédito corporativo.