Previdência privada: como se aposentar com uma renda mensal de R$ 5 mil?

Investimento tem mais benefícios do que apenas incentivos fiscais; saiba quais

Cada vez mais brasileiros têm interesse pela previdência privada. Seja para garantir desconto no Imposto de Renda ou para investir uma parte do 13° salário, a previdência está ganhando espaço nas carteiras dos brasileiros. Mas você sabia que ela pode ser uma ótima ferramenta de diversificação para complementar a sua aposentadoria e não apenas um instrumento temporário para amenizar a mordida do leão?

Embora o mercado de capitais esteja bastante sofisticado, com múltiplas opções de investimentos na renda fixa e na renda variável, ou um fundo de previdência, que é uma opção que mistura os dois mundos.

Por onde começar para diversificar a carteira?

A planejadora financeira Rejane Tamoto explica que existem dois tipos de fundos de previdência. O primeiro é o VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), geralmente indicado para quem faz declaração de Imposto de Renda Simplificada. O fundo não tem benefício fiscal paga IR outras aplicações financeiras no resgate, mas só sobre os rendimentos.

Já o outro tipo é o PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre), que oferece a vantagem de reduzir a base de cálculo do Imposto, sendo adequado para quem declara no modelo Completo. No entanto, há cobrança de IR sobre o valor investido e sobre rendimento no momento do resgate.

Segundo Rejane, este tipo específico de previdência permite deduzir até o limite de 12% da renda bruta tributável anual na declaração. “Não é uma isenção, apenas permite deixar de pagar mais Imposto de Renda no momento atual e adiar para o momento de resgate, no longo prazo”, explica.

De acordo com a planejadora, fazer esse investimento antes do encerramento do ano garante que o benefício entre na próxima declaração do IR.

Os benefícios da previdência privada

Além do Imposto de Renda, há inúmeros benefícios para o investidor de previdência privada, segundo especialistas consultados pela Inteligência Financeira.

Luciana Ikedo, educadora financeira e autora do livro “Vida Financeira – Descomplicando, Economizando e Investindo” cita outro benefício tributário. Neste caso, a ausência do come-cotas, imposto que cai no último dia de maio e novembro. Os fundos de previdência carecem deste imposto. “No longo prazo, aliado aos juros compostos, faz uma grande diferença positiva no retorno ao investidor”, destaca Luciana.

Rejane Tamoto cita também que o investidor que está de olho em uma carteira diversificada tem a possibilidade de escolher entre duas tributações.

A regressiva – na qual o imposto de renda diminui com o tempo e vai de 35% podendo chegar a 10% para recursos investidos por mais de 10 anos.

Ou ainda a progressiva, na qual o imposto cresce conforme a renda aumenta. Esta segunda alternativa é melhor para quem tem uma renda menor.

Recurso não entra em inventário

Luciana aponta também os benefícios sucessórios de investir na previdência privada. Isso porque os recursos não entram em inventário e vão para os familiares no momento do falecimento do titular. “Os custos de uma carteira diversificada serão significativamente menores do que seriam com outros ativos financeiros”, comenta.

 Para Rejane, os fundos de previdência podem ser usados como um mecanismo de apoio e proteção na sucessão.

A importância da diversificação na previdência privada

Diferente de outras alternativas para a aposentadoria, como o Tesouro Renda+ ou as ações que pagam dividendos, a previdência privada oferece a vantagem de diversificar em várias classes de ativos – renda variável e renda fixa – em apenas um investimento. E é por este motivo que o investidor deve usufruir deste benefício, destacam especialistas.

Vinicius Rossite, especialista em fundos e previdência da Acqua Vero, afirma que a diversificação é o único “almoço grátis” que existe no mercado.

Então, como o investidor não tem como saber qual será o ativo mais lucrativo no ano seguinte, é importante ter uma carteira variada, sempre respeitando o seu perfil de investimento.

“Quando estruturamos um plano de previdência precisamos entender o propósito na carteira do investidor – e a idade pode influenciar muito nisso – e o perfil, ambos são complementares”, avalia Rossite. Ele exemplifica, que um investidor pode aceitar correr riscos para ter mais rentabilidade, mas nem todos estão dispostos a isso, seja pela idade, seja pela tolerância a variações de patrimônio na fase de acumulação.

Para Marcus Nery, planejador financeiro da L4 Capital, diversificar é crucial para a previdência considerando um horizonte de 10 anos ou mais. “Bons fundos de renda variável, apesar da volatilidade, tendem a ter melhor desempenho a longo prazo, adicionando uma dose de risco vantajosa à carteira de previdência”, afirma.

Nery acredita que uma carteira diversificada tem que estar atrelada a idade e perfil do investidor. “Um idoso em usufruto do patrimônio não se beneficia do regime regressivo”, exemplifica. “Da mesma forma, um investidor conservador pode sentir desconforto com a volatilidade de fundos de renda variável”, acrescenta.

Segundo o especialista, é essencial considerar o momento de vida da pessoa e a tolerância ao risco na hora de escolher um plano de previdência.

Como minimizar riscos e maximizar retornos?

Rejane Tamoto aconselha ter constância nos investimentos para maximizar retornos, fazendo aplicações mensais de forma automática. Segundo a planejadora, algumas seguradoras já oferecem a modalidade de débito automático após 1 ano de aniversário do contrato.

“Faça o pagamento mensalmente como se fosse um boleto para si mesmo”, recomenda. Ela aponta que desta forma o investidor conseguirá comprar cotas de fundos de investimentos em diferentes momentos de mercado, às vezes por um preço mais baixo, o que pode aumentar as chances de retornos maiores.

“Atualize o valor da aplicação mensal pela inflação medida pelo IPCA uma vez ao ano”, lembra a planejadora. A estratégia garante poder de compra no futuro.

Rossite, da Acqua Vero, cita que para maximizar retornos de uma carteira diversificada e reduzir riscos na previdência o ideal é ter uma carteira com ativos descorrelacionados, desta forma, se uma classe de ativos do portfólio do investidor está indo mal, outra classe terá bom desempenho para conseguir “segurar” a rentabilidade da carteira.

Como funciona a portabilidade

Há ainda estratégias mais raras, como fazer uso do benefício da portabilidade que a previdência oferece para maximizar retornos. Nery, da L4 Capital, destaca que a portabilidade pode ser vantajosa, porque em períodos de rendimento favorável na renda fixa, o investidor pode optar por fundos desse tipo, como crédito privado e quando a renda variável se torna atraente, a portabilidade oferece a flexibilidade de migrar entre as classes de investimento conforme a preferência do investidor.

Danilo Carrillo, especialista em seguro e previdência privada da Warren Investimentos, lembra ainda que a portabilidade acontecem entre planos e fundos de previdência da mesma instituição financeira ou entre instituições diferentes.

Ele explica que a maioria de corretoras e entidades oferecem a portabilidade de forma digital e simplificada, o processo costuma levar 10 dias úteis e não há incidência de imposto de renda na portabilidade dos planos de previdência.

Carrillo esclarece que não é possível fazer portabilidade entre tipos diferentes de planos PGBL e VGBL, mas caso o investidor tenha um plano no regime tributário progressivo, ele pode fazer o ajuste para o regressivo. Contudo, não é possível fazer o contrário, do regressivo ao progressivo.

Investir em várias classes de ativos

Antes de escolher quais são os ativos que devem integrar sua carteira diversificada de previdência, os especialistas aconselham entender qual é o seu perfil de risco e investimento. Segundo Rejane, a partir do resultado, se conservador, moderado ou arrojado será possível fazer uma melhor distribuição entre ativos de renda fixa, multimercados, renda variável.

“A maneira mais prática é investir em fundos que tenham a carteira condizente com o resultado da distribuição proposta para o perfil”, comenta a planejadora. Ela exemplifica que alguns fundos de previdência diversificam apenas em produtos de renda fixa, enquanto outros têm uma distribuição que contempla mais renda fixa, multimercados e ações.

De acordo com a planejadora, estes fundos já contam com uma gestão profissional que vai ser responsável pelas escolhas dos investimentos, rebalanceamentos de carteira e atualizações, restando apenas ao investidor conhecer o histórico do gestor e analisar as taxas de administração e a seguradora.

Em instituições como a Acqua Vero, já existem algumas divisões de portfólio de acordo com o perfil de investidor, como é possível ver abaixo, permitindo a diversificação em ativos descorrelacionados, cita Rossite.

Segundo ele, os fundos de previdência investem em outros fundos com bons desempenhos.

Quanto investir para ter renda de R$ 5 mil na previdência privada?

Uma simulação da planejadora financeira Rejane Tamoto revela quanto investir mensalmente na previdência privada, para pessoas com 30, 40 e 50 anos conquistarem uma renda mensal de R$ 5 mil a partir dos 62 anos.

A regra é investir com constância e atualizar o valor da aplicação mensal pela inflação uma vez por ano. Então, vamos aos cálculos:

Simulação 1 – para quem tem 30 anos

  • Retorno Selic (projetada para 2026/Focus): 8,50% ao ano
  • Inflação (projetada para 2026/Focus): 3,50% ao ano
  • Retorno fase acumulação: 5,00% ao ano + inflação
  • Idade em que começa a resgatar R$ 5 mil por mês: 62 anos
  • Investimento mensal: R$ 1.267*

Mas atenção: o cálculo não embute inflação que terá variações em 32 anos. Também é necessário atualizar o valor uma vez ao ano pelo IPCA. Exemplo: investimento mensal de R$ 1.267 no primeiro ano, R$ 1.311 no segundo, R$ 1.357 no terceiro.

Simulação 2  – para quem tem 40 anos

  • Retorno Selic (projetado para 2026/Focus): 8,50% ao ano
  • Inflação (projetada para 2026/Focus): 3,50% ao ano
  • Retorno fase acumulação: 5,00% ao ano + inflação
  • Idade em que começa a resgatar R$ 5 mil por mês: 62 anos
  • Investimento mensal: R$ 2.483*

Aqui também o cálculo não embute inflação que terá variações em 32 anos. É necessário atualizar o valor investido uma vez ao ano pelo IPCA.

Simulação 3 – para quem tem 50 anos

  • Retorno Selic (projetado para 2026/Focus): 8,50% ao ano
  • Inflação (projetada para 2026/Focus): 3,50% ao ano
  • Retorno fase acumulação: 5,00% ao ano + inflação
  • Idade em que começa a resgatar R$ 5 mil por mês: 62 anos
  • Investimento mensal: R$ 6.017*

Lembre-se: o cálculo não embute inflação que terá variações em 32 anos. É necessário atualizar o valor investido uma vez ao ano pelo IPCA.

Como foi feito o levantamento

É importante você saber que as simulações de uma carteira diversificada consideraram a taxa de retorno da Selic e a Inflação pelo IPCA projetadas para 2026 pelo Boletim Focus do Banco Central e divulgadas no dia 4 de dezembro.

Então, os cálculos consideram a taxa de retorno real ou descontada da inflação. Lembre-se de atualizar o valor do investimento mensal pela inflação a cada ano. E observar se a carteira está tendo retorno acima da inflação.

Além disso, o cálculo considerou a expectativa de vida de 100 anos e uma taxa de retorno da previdência privada de 4% ao ano, após a fase de início dos resgates mensais, aos 62 anos.

Porém, os cálculos não consideram o rendimento líquido após o desconto do Imposto de Renda. Isso porque há regras diferentes para VGBL e PGBL, e diferentes tabelas de tributação (Regressiva e Progressiva) e o valor dependerá de qual delas foi escolhida.