Investidores focam em ETFs de temas específicos

Destaque são os fundos de criptomoedas, ESG e empresas com menor valor de mercado
Pontos-chave:
  • Investidores buscam teses de investimentos mais diretas
  • A popularização deste mercado começou em 2020

Um dos principais instrumentos para diversificação dos investimentos são os ETFs. Dentre os fundos que mais captaram neste ano, estão produtos com temas relacionados a criptomoedas, ações de empresas com menor capitalização e investimento em ESG. Um levantamento feito pela Teva Indices mostrou que até o dia 18 de fevereiro de 2022, os ETFs que tiveram maior captação foram o SMAL11, que reúne empresas chamadas de ‘small caps’ por ter menor valor de mercado; e o HASH11, que segue um índice de criptomoedas.

Em terceiro e quarto lugares aparecem dois fundos que reúnem empresas bom boas práticas ESG, o ESGU11, que contempla companhias listadas nas bolsas norte-americanas, e o ESGD11, com as empresas listadas na bolsa brasileira.

Em quinto lugar, aparece o DEFI11, que acompanha um índice de serviços financeiros digitais que só são possibilitados pela blockchain (espécie de livro de caixa criptografado que registra transações de forma permanente e imutável e é o mesmo sistema usado nas criptomoedas). “Os investidores estão procurando teses de investimentos mais diretas e menos generalista. Isto é uma evolução do mercado de ETFs”, afirma Gabriel Verea, principal executivo da Teva Indices.

Em busca de alternativas

Esse comportamento do investidor em buscar alternativas mais específicas aparece em outros dados do estudo feito pela Teva. Um deles é, segundo Verea, a popularidade do TECB11, que acompanha um índice de empresas de tecnologia no Brasil. O ETF foi lançado em outubro do ano passado e já reúne 6,1 mil cotistas e tem patrimônio líquido de R$ 15,8 milhões. No ano, a captação dele foi de R$ 195,7 mil. “Olhamos ele hoje e vimos que ele continua crescendo e é um setor que é novidade, que sofreu bastante e está em recuperação”, afirma o executivo.

Segundo Verea, outros ETFs com teses específicas vêm ganhando espaço entre os investidores, como aqueles que investem em companhias bem pequenas e os que apostam em produtoras de commodities.

“Vemos ainda um aumento da busca pelo TRIG11, um índice que seleciona empresas ainda menores do que o SMAL11, e pelo o CMDB, que investe em empresas produtoras de commodities. Ele é o único ETF no mundo que investe em commodities por meio de companhias e não investindo diretamente no produto”, afirma Verea.

O economista Rafael Panonko concorda que os investidores têm “saído do óbvio”, mas destaca que isso também foi parte da movimentação da própria indústria que começou a lançar produtos diferenciados. “O investidor está tentando sair um pouco do óbvio. Até dois anos, o que tínhamos eram ETFs de índices tradicionais, como Ibovespa, S&P e alguns outros. Hoje temos uma realidade diferente. Nos EUA, os ETFs são bem famosos e aqui no Brasil está caindo no gosto do público de pessoa física justamente porque é uma alocação que você consegue fazer com pouco capital e está em uma carteira diversificada”, afirma.

“Você assiste esse movimento da popularização deles de 2020 pra cá, quando se tem não só ETFs de índices como ETFs com temátcas diferentes que atendem assuntos específicos, como o ELAS11, lançado nessa semana”, completa.

O ETF em questão tendo como referência o índice Mulheres na Liderança, organizado pela própria Teva. O índice parte de um amplo estudo quantitativo considerando a presença de mulheres em todos os órgãos de liderança de empresas de capital aberto nos últimos 5 anos.

Panonko destaca, no entanto, que apesar de os ETFs serem um instrumento de diversificação fácil e barato, o investidor também precisa ter atenção, especialmente na hora de olhar a composição da carteira e as taxas cobradas. “Tem que ter um ponto de atenção: olhar a carteira composta por aquele ETF, ver se são empresas boas. Tem um trabalhinho de casa de não só se identificar com a temática do fundo, mas pesquisar e estudar o que é a carteira, a taxa de administração e os custos envolvidos na hora de investir”, diz.

Outro ponto de atenção, segundo Panonko, são as condições de negociação, como a liquidez do ETF. “Tem investidor pessoa física que as vezes quer fazer aportes maiores, então precisa olhar o quanto os ETFs negociam em média por dia e a liquidez de ofertas para não ter nenhuma surpresa na hora de vender ou alocar o capital”, diz.

Diversificação por ETFs

A estratégia de diversificar por meio de ETFs, no entanto, é vista de forma positiva pelos especialistas. Especialmente em um cenário de volatilidade como o atual. “Ano passado houve um grande aprendizado de não ter só bolsa brasileira e o investidor buscou outras geografias para investir. Nesse ano, acredito que com esses eventos e vendo a bolsa americana em declínio por causa do aumento de de juros nos Estados Unidos, agora bolsa europeia também caindo por causa do conflito da Rússia contra Ucrânia e mostrando que não basta só investir no mundo desenvolvido, tem que ter diversificação mesmo no portfólio”, afirma Paloma Brum, analista da Toro Investimentos.

Maiores ETFs do mercado

Atualmente, os maiores ETFs do mercado brasileiro em termos de cotistas são o IVVB11, que replica o índice S&P 500 da bolsa americana, e reúne 173,5 mil investidores. Em seguida, vem o próprio HASH11, que figura a lista dos que mais captaram, com 148,7 mil cotistas. Em terceiro lugar aparece o BOVA11, o mais popular fundo que replica o Ibovespa, com 123 mil investidores.

Com reportagem do Valor Investe