Inflação alta: Quais investimentos você deve evitar dentro e fora do Brasil?

Alguns ativos não são tão recomendados, dizem analistas

Já tem um tempinho que a gente vem se deparando com a inflação alta aqui no Brasil e em outros países também. E isto, como bem sabemos, impacta no nosso poder de compra, que acaba diminuindo.

Ainda que os dados recentes apontem uma leve queda do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação subiu 4,65% em um ano no Brasil, que foi de março de 2022 a março deste ano.

Já o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) marcou uma deflação de 0,95% em abril de 2023, de acordo com dados do Instituto Brasileiros de Economia da Faculdade Getulio Fargas (FGV Ibre). No acumulado de 12 meses, ou seja, de abril de 2022 a abril deste ano, o índice teve um decréscimo de 2,17%.

Fora do Brasil os números também merecem atenção. Isso porque, nos Estados Unidos, por exemplo, o Índice de Preços ao Consumidor para Todos os Consumidores Urbanos (CPI-U) subiu 0,1% em março deste ano.

E no acumulado dos últimos 12 meses (de março de 2022 a março de 2023), a inflação chegou a 5,0% no país norte-americano.

Diante disso, muitos investidores se questionam sobre onde investir. Sempre falamos sobre isso nas nossas páginas

Mas agora, na Inteligência Financeira, vamos inverter o raciocínio. Afinal, onde NÃO investir quando a inflação está alta? Para os especialistas, esta questão é bem complexa. Contudo, vamos destrinchá-la logo abaixo. Bora lá!

Cuidado com o mercado acionário

Afinal de contas, apontar em qual investimento você NÃO deve investir com a inflação em alta envolve diversos fatores. Um deles tem relação com o perfil do investidor.

“Se você não investe no mercado de ações, ou seja, é avesso ao risco e tem um perfil mais conservador, não é um momento para escolher este tipo de ativo”, esclarece Sérgio Ferreira, consultor financeiro focado em gestão com resultados.

Isso porque, segundo ele, de uma maneira geral a inflação alta reduz a média de retorno das empresas do mercado acionário.

Em resumo, as chances de ganhos com ações em períodos de inflação alta são menores. Já as chances de perdas aumentam.

Por outro lado, vale saber que algumas oportunidades também podem surgir no mercado de ações. Por isso, é muito importante avaliar a sua estratégia de investimentos antes de tomar qualquer tipo de atitude.

É hora de reavaliar a sua diversificação

Outro ponto bastante importante envolve a sua carteira de investimentos.

Claro que o mix de produtos escolhidos deve continuar dentro do seu grupo de ativos financeiros. Afinal de contas, independentemente do cenário econômico que estivermos passando, a gente não pode nunca abrir mão da diversificação.

“E aqui deve-se levar em consideração os riscos que você está tomando ao escolher tais investimentos. Por isso, eu sou a favor de um rebalanceamento da carteira de investimentos em cenários de inflação elevada ou diminuição das taxas”, esclarece Mayara Ranni Sekertzis, head de fundos e previdência da Manchester Investimentos.

Ela complementa: “portanto, é interessante repensar o tanto que você vai dar de risco para uma ou para outra classe”.

Onde NÃO investir com a inflação alta dentro do Brasil?

Então, na hora de fazer esta realocação na sua carteira de investimentos, é importante levar em consideração os produtos que não são tão bons de investir com a inflação em alta.

E quais ativos financeiros são estes? A seguir, você confere a lista com esses investimentos, segundo a recomendação de analistas.

Poupança

De acordo com João Ferreira, sócio e assessor especialista em renda fixa da One Investimentos, em um ambiente de inflação alta, a poupança invariavelmente acaba perdendo a sua relevância e, claro, a sua rentabilidade. “Que vamos combinar, já não é muita coisa, certo?”, aponta.

Títulos de renda fixa de longo prazo

Este tipo de investimento em tempos de inflação alta acaba tendo uma maior volatilidade. “E principalmente aqueles que são prefixados. Você tem uma rentabilidade preestabelecida desde o início, o que acaba fazendo com que o produto não se beneficie deste ambiente inflacionário em progressão”, afirma Ferreira.

Por conta disto, o ativo financeiro acabará rendendo menos do que a inflação.

Papeis de empresas com alto endividamento

Ainda de acordo com o especialista, neste caso, vale não só para o mercado de renda variável, mas também para o mercado de crédito.

“Uma vez que essas empresas com o nível de endividamento mais alto podem ter dificuldade de lidar com essa inflação mais alta. Ou seja, podem ter uma certa dificuldade financeira para honrar com suas dívidas, o que pode acabar afetando sua margem de lucro, além de impactar sua operação de forma geral”, conta.

Diante desse cenário, Ferreira argumenta que, eventualmente, estas empresas podem chegar até a uma situação de inadimplência.

“Ou acabar acarretando em um evento de crédito de não conseguir honrar com suas obrigações e não conseguir executar todo o seu planejamento financeiro”, diz.

Portanto, como dito, se você possui algum destes investimentos, o momento é de reavaliar a sua carteira e optar por aqueles ativos com menos riscos. E claro, sempre com o foco nos seus objetivos.

E onde NÃO investir com a inflação alta fora do Brasil?

Mas não é somente por aqui que os investidores precisam ficar atentos. Afinal de contas, grande parte dos outros países também está com a inflação em alta, como é o caso dos Estados Unidos e Europa. Que, aliás, são uns dos principais destinos para quem quer investir fora do país.

Diante disso, João Ferreira afirma que, neste momento, o investimento não indicado são os:

Títulos públicos

“Isso porque, com a inflação alta, é importante não investir em título públicos de países que estejam com a taxa de juros real negativa. Como é o caso dos EUA, Suíça, Chile, Canadá, Coreia e países da Zona do Euro”, diz o especialista.

Mas, o que é taxa de juros real negativa?

“É quando a taxa básica de juros estipulada pelo banco central local está abaixo do que o índice de inflação daquele determinado local em que se pretende investir”, ensina o especialista.

Então, o que ele quer dizer é que, ao comprar um título público de um país que esteja com a taxa de juros real negativa, você irá receber menos do que inflação atual.

“Por isso, vale um aviso que é importante: focar em ativos que consigam te proteger da inflação que tenham essa marcação corrigida pela inflação”, aconselha João Ferreira.

O especialista finaliza dizendo que se você pretende alocar em ativos de renda variável, o melhor é focar principalmente naquelas empresas que sejam mais resilientes, e de setores que consigam ser mais defensivos em relação aos ciclos econômicos.

“Como as companhias de alimentos e de utilities, que tendem a ter essa proteção, e eventualmente também fundos imobiliários”, afirma.