Blockchain verde: entenda o conceito que está transformando o mercado de criptos

Modelo surge como alternativa sustentável para a mineração de moedas digitais
Pontos-chave:
  • Já existe uma busca por alternativas mais sustentáveis
  • Indústria vai passar a usar fontes mais limpas de energia

A mineração de bitcoins (BTC) no mundo consome mais energia do que países como Holanda, Argentina e Noruega. É o que indica um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O processo de mineração de BTC consome cerca de 130,9 terawatt-horas (TWh) por ano. Na Holanda são gastos 110,68 TWh por ano, enquanto a Argentina consome cerca de 125,03 TWh. O valor gasto com a mineração representa, em média, 25% do consumo total de eletricidade no Brasil.

Resumindo: os gastos energéticos para manter o sistema do bitcoin “de pé” é alto. Isso sem contar os outras criptomoedas. “A mineração tradicional envolve o conceito de blockchain. É como um “livro” onde as transações são registradas por usuários. Mineradores ficam ao redor do mundo disputando para resolver equações e ganhar recompensas, por meio do mecanismo de proof of work (prova de trabalho, em tradução livre para o português). Para isso, usam computadores modernos e poderosos para tentar ser o mais rápido, o que aumenta muito o consumo de energia”, explica Ney Pimenta, CEO e fundador da BitPreço. 

A demanda em si não é o principal problema, mas sim a fonte de energia usada pela maioria dos mineradores: de combustíveis fósseis. Para se ter uma ideia, segundo a Digiconomist, a quantidade de CO2 emitido em uma única transação de BTC equivale a mais de 2 milhões de transações feitas por um cartão de crédito.

Blockchain mais “verde”

Com base nesses dados, tem surgido um movimento em busca de alternativas mais sustentáveis para a mineração dos ativos. Como é o caso do ethereum, que está em transição do modelo de validação de proof-of-work para o proof-of-stake (prova de participação, em português). “Nesse caso, os mineradores que investem em criptomoedas são escolhidos aleatoriamente para validar as transações. Eles vão se alternando. Dessa forma, não precisam gastar uma quantidade de energia absurda para resolver um enigma”, explica Pimenta. 

Moedas mais novas, como Solana, Cardano e BowsCoin, já usam o método proof-of-stake para validação. “No caso da Etherium, a migração deve ser concluída até o final do ano. Tudo tem que ser feito com muito cuidado para não quebrar o que já existe. São dois anos de desenvolvimento e testes de redes. É demorado e complexo, já que qualquer falha pode colocar a perder todo o valor da criptomoeda”, ressalta Pimenta.

Além da transição do modelo de validação, a mineração “verde” também pode vir do uso de fontes mais limpas de energia. No ano passado, por exemplo, Jack Dorsey, fundador do Twitter, anunciou uma parceria com a Blockstream para a construção de uma estrutura de mineração de bitcoin movida 100% a energia solar nos Estados Unidos. Por meio da Square, empresa de pagamentos digitais fundada por ele, o empreendedor investirá US$ 5 milhões na iniciativa.

Bitcoin ainda resiste

Segundo Ney, a tecnologia em si para uma mineração verde já está consolidada. Os obstáculos são outros. “Existe um volume muito grande de transações por segundo acontecendo. Ainda é um desafio lidar com essa quantidade de dados. No caso do bitcoin, que tem o maior volume de negociação, esse movimento é mais lento. Existe muita resistência por parte dos mineradores, que investiram pesado em equipamentos. Por outro lado, a comunidade já vem sendo pressionada para que isso mude”. 

Nos próximos anos, a tendência é que a mineração verde se torne ainda mais presente, colocando em destaque moedas que seguem o mesmo conceito. “A pressão vem de vários lados. Não faz sentido, por exemplo, uma empresa que tem uma filosofia sustentável investir em uma criptomoeda que vai contra isso, gastando tanta energia. No longo prazo, acredito que o bitcoin possa se tornar até menos valioso que o ether, que já está nesse processo de transição”, ressalta Pimenta.