Blockchain verde ainda tem muitos desafios no Brasil e no mundo

Custos altos travam o desenvolvimento de fazendas sustentáveis
Pontos-chave:
  • A mineração precisa consumir menos energia e ter menor emissão de carbono
  • O preço da eletricidade é o principal gargalo do setor

Já falamos por aqui sobre o conceito de blockchain verde e como ele tem transformado o mercado de criptomoedas. Além da transição do modelo de validação de proof-of-work para o proof-of-stake (prova de participação, em português), a mineração verde envolve o uso de fontes de energia renováveis para a mineração das moedas digitais. O termo, que ainda é novidade para muitos, se relaciona diretamente com o conceito de ESG. “A mineração verde está ligada aos princípios do Environmental, Social and Governance quando falamos de uma diminuição do consumo de energia e pensamos em fontes renováveis e menor emissão de carbono”, explica Sabrina Lawder, sócia de Tributos Internacional da Grant Thornton Brasil.

Qual é a função de uma fazenda de mineração verde?

Seguindo o conceito de blockchain verde, a startup Plouton Mining está construindo uma fazenda de mineração de bitcoin no deserto de Mojave, na Califórnia. Com uma área total de mais de 200 mil m2, ela será totalmente abastecida de energia por meio de sistemas solares fotovoltaicos. O local foi especialmente escolhido por ser um dos 12 melhores lugares do mundo para produzir energia solar. 

Ao anunciar a construção da fazenda, em 2019, Samuel Del Real, cofundador da empresa, disse que o grande desafio do setor de mineração de criptomoedas é vencer os altos custos com eletricidade, já que são necessários equipamentos e computadores com alta capacidade de processamento de dados. Nos modelos sustentáveis, isso se torna ainda mais difícil. 

Fontes renováveis custam caro no Brasil

“No exterior, a mineração verde tem sido um pouco mais desenvolvida. Quando falamos do Brasil, o investimento em fontes renováveis e de energia limpa é muito alto. Temos uma condição política, econômica e social extremamente difícil, com índices de inflação ultrapassando os limites. Consequentemente, torna a mineração verde mais difícil também”, explica Sabrina. 

Um ponto importante, e que deve incentivar a migração do modelo tradicional para o mais limpo é o incentivo ao uso de fontes renováveis do Projeto de Lei que regulamenta o mercado de criptos no Brasil. Aprovada pelo Senado, ele traz benefícios fiscais para empreendimentos que usarem 100% de energia elétrica vinda de fontes renováveis, capazes de neutralizar 100% das emissões de gases de efeito estufa das atividades envolvendo a mineração das moedas. “Isso tende a impactar toda a cadeia do setor. As expectativas são boas”, ressalta Sabrina. 

Na visão da especialista, a mineração verde, assim como outras iniciativas que focam em questões sociais e ambientais, são tendências que vieram para ficar, mesmo que a implementação leve um tempo. “Quando falamos de blockchain e criptomoedas, estamos falando de um setor muito tecnológico e inovador, mas que também precisa seguir esse movimento de ser mais sustentável e ter uma preocupação ambiental”.