Como ficam as ações da Prio (PRIO3) e 3R Petroleum (RRRP3) com a nova alíquota de exportação?

E ainda: petroleiras menores podem sofrer impacto maior

O mercado financeiro já esperava uma volatilidade no setor de petróleo na quarta-feira (1), com o burburinho de reoneração dos combustíveis. Mas a surpresa veio com o anúncio do ministro Fernando Haddad, da Fazenda, quando foi declarado que o governo taxaria em 9,2% exportações de petróleo bruta por quatro meses.

Resultado: ações de companhias como 3R Petroleum (RRRP3), Prio (PRIO3) e PetroReconcavo (RECV3) tiveram recuos significativos no pregão da última quarta-feira (1).

As baixas da bolsa mostram que as petroleiras privadas têm mais a perder com o novo imposto do governo. Mais, inclusive, do que a Petrobras. Analistas entrevistados pela Inteligência Financeira explicam que a oneração corrói o caixa de Prio, 3R, PetroReconcavo, Enauta (ENAT3) e Dommo (DMMO3). E isso pesa no valuation.

Por que o valor de Prio, 3R e PetroReconcavo sofreu impacto?

Prio, 3R, PetroReconcavo, entre outras petroleiras privadas, operam em um setor que não consegue repassar aumentos de custos operacionais aos compradores. Quando se trata de exportação, para manter a paridade de uma commodity como o petróleo, essas empresas não conseguem aumentar o preço do produto no mercado internacional repassando o novo imposto.

Esse é o argumento de Marco Saravalle, sócio da SaraInvest, para explicar o porquê da queda mais brusca de PRIO3, RRRP3, RECV3 e ações de empresas do setor na bolsa.

“Se fizermos uma conta, o impacto negativo não deve ser tão grande assim. Estamos falando de 9%. Mas é 9% na veia, ou seja, destruição de valor para o acionista, o que representa uma distorção no valuation nessas companhias porque a gente tá falando commodities. O exportador não consegue repassar, ele simplesmente absorve esse esse aumento de custo da produção”, explica Saravalle.

A perda de receita e corrosão de caixa pelos próximos quatro meses assusta o investidor, que tenta se desfazer de sua posição das petroleiras privadas.

Qual é o desempenho de PRIO3, RRRP3, RECV3?

Na quarta, a ação da 3R liderou um dos piores desempenhos na bolsa, com queda de 10,46%, cotada a R$ 32,60. Ontem (2), dados da B3 apontam que os papéis da Prio (PRIO3) estão em segundo lugar no ranking de ações mais negociadas da bolsa de valores. Os papéis acumulam alta de 3,4%.

Nos últimos cinco dias, PRIO3, RRRP3, RECV3 e ENAT3 registaram uma queda significativa das cotações das ações em -10,66%, -21,16%, -6,% e -11,15%, respectivamente.

O abalo nos ativos dessas companhias foi maior do que nos papéis da Petrobras, que registraram a menor baixa do setor, com queda de 3,48% nas ações ordinárias. Reinaldo Oliveira, analista de renda variável da Renova Invest, explica que os efeitos do imposto sobre o lucro da Petrobras não são tão significativos, o que diferencia a companhia das ‘juniors’ do setor. “As petroleiras de menor porte focadas em extração acabam sofrendo mais os efeitos do imposto”, diz ele.

Taxa de 9,2% de imposto é ‘alta demais’ diz analista

Para Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, a taxa de 9,2% de exportação é alta demais para o setor.

“É quase 10% de uma companhia em impostos, então tributo acaba influenciando muito em empresas que tem basicamente um lucro é um custo sobre matéria-prima. A lucratividade dessas empresas, que já não é tão grande então 10%, vai influenciar e muito no Ebitda”, diz Gonçalvez. O lucro apresentado nos resultados do 1º trimestre deste ano pelas petroleiras deve ser menor, acrescenta o investidor.

O valuation de Prio, 3R, PetroReconcavo, Enauta e Dommo, portanto, deve sofrer impacto negativo, explica. “Na quarta, a 3R perdeu 14% de valor ante terça-feira”, afirma o CEO da Box.

Dentro do setor, Prio (PRIO3) deve ser mais afetada

Com o novo imposto, o impacto deve ser maior em algumas das ‘juniors’ de petróleo do que em outras. A Prio seria, em teoria, a mais afetada, uma vez que exporta 100% da sua produção, diz Luan Alves, analista-chefe da VG Research.

“Em relação à 3R e PetroReconcavo, ambas as empresas vendem 100% de seus produtos no mercado interno, portanto o imposto não deve mudar as previsões de lucro dessas companhias. No caso da Enauta ainda possui o campo de gás para diversificação do seu resultado”, explica.

A previsão da VG é de que o Ebitda da Prio sofra uma queda de 15% inicialmente, pelos quatro meses em que o novo imposto sobre exportação de óleo bruto. Para as outras companhias, avalia a casa de análises, o impacto é “inicialmente nulo”.

Em relatório, o banco BTG Pactual prevê uma deterioração de 11% no Ebitda da Prio.

“Mas em um segundo momento efeitos adversos podem ocorrer, essas companhias iriam aumentar o volume no mercado interno e com o governo discutindo o fim da paridade de preços internacionais na Petrobras, isso poderia manipular também a dinâmica de preços interna afetando a rentabilidade dessas empresas.”

Luan Alves, analista-chefe da VG Research

3R Petroleum e PetroReconcavo podem ter dificuldade em reajuste

Analistas do BTG frisam que isso pode ocorrer com maior intensidade ao lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações de 3R Petroleum e PetroReconcavo.

“Porque é provável que os exportadores consigam aumentar o volume de produtos vendidos no mercado interno. A 3R, por exemplo, adquire campos de petróleo que a Petrobras não utiliza mais, e pode ter dificuldade de reajustar o foco para o mercado nacional”, explica Oliveira.

Contudo, Ilan Arbertman, analista da Ativa Investimentos, afirma que o peso do imposto de exportação deve ser menor para 3R e PetroReconcavo. Isso porque a Petrobras é uma das maiores clientes dessas companhias, que podem migrar o custo de produção para o mercado nacional com facilidade.

O que o mercado acha do novo imposto sobre exportação?

O mercado está desconfiado de que o novo imposto sobre exportação de petróleo bruto não seja provisório.

Os investidores ouvidos pela IF apontam que o governo pode acabar estendendo o imposto para além dos 4 meses em que ele entra em vigor. A alíquota de 9,2% pode ser reduzida para um patamar menor, entre 7% a 4%.

“O mercado tá lendo a possibilidade de que não apenas seja por um período somente de quatro meses. Ou quando a gente chegar daqui a cinco meses, essa MP no meio do caminho pode ser transformada numa lei.”

Marco Saravalle, sócio da SaraInvest

A percepção de um risco de extensão da MP pode provocar uma queda contínua das ações das petroleiras privadas na bolsa.

“Em um segundo momento, efeitos adversos podem ocorrer. Essas companhias [Prio, 3R, PetroReconcavo, Enauta e Dommo] iriam aumentar o volume no mercado interno e com o governo discutindo o fim da paridade de preços internacionais na Petrobras. Isso poderia manipular também a dinâmica de preços interna afetando a rentabilidade dessas empresas”, diz Luan Alves.

Outro risco está nos investimentos e ativos que essas petroleiras tem sob sua gestão. Para Arbertman, o novo imposto sobre exportação pode desestimular investimentos privados e minar contratos de compra de novos campos de petróleo.

O imposto pode reverter as expectativas de receita das empresas a partir de campos de petróleo recém-adquiridos. “Isso abala não só as companhias brasileiras, mas também as estrangeiras que pensam em comprar algum plano ou projeto no Brasil”.

Presidente da Petrobras critica imposto: ‘desproporcional’

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, classificou o imposto sobre exportações de petróleo cru, de 9,2%, como desproporcional, uma vez que a tributação representa para a estatal US$ 9 milhões por dia.

Prates destacou que há outras companhias — sem mencionar nomes — com exportações maiores do que as da Petrobras, sendo do interesse delas discutir o tema com o governo.

Em conferência dos acionistas para debater o resultado do 4º trimestre de 2022 da Petrobras, quando a companhia registrou lucro anual recorde de R$ 188 bilhões, Prates sinalizou ser contra a taxação. O presidente da Petrobras afirma que prefere ter a expectativa de induzir o desenvolvimento do mercado doméstico e as vendas internas de outras maneiras.