Entenda o que a manutenção da Selic em 13,75% ao ano significa para os seus investimentos

Renda fixa deve permanecer mais atraente do que a Bolsa de Valores por um período maior do que o previsto anteriormente

Pela quarta reunião consecutiva, nesta quarta-feira (1), o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) manteve inalterada a taxa básica de juros da economia brasileira em 13,75% ao ano, como amplamente esperado pelos especialistas.

Mais importante do que a decisão em si é a sinalização que o BC faz a respeito dos seus próximos passos na política monetária. O Copom disse, no comunicado em que justificou sua decisão, que as incertezas em relação ao cenário econômico estão mais elevadas do que o usual, e que vai perseverar “até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”.

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) ficou em 0,62% em dezembro. Em 12 meses, registrou uma alta de 5,79% nos preços, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, a expectativa do mercado financeiro para a inflação tem aumentado ao longo dos meses. Na última edição da pesquisa Focus, feita semanalmente pelo BC com analistas de instituições financeiras, a projeção para o IPCA ao final deste ano foi elevada pela sétima vez seguida, para 5,74%. A meta de inflação para 2023 é de 3,25%, e, para 2024, é de 3% – com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais e para menos.

Assim, o comitê enfatizou, no comunicado, que “os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.

Ou seja, caso as expectativas para a inflação continuem subindo, não só as expectativas de que uma redução dos juros poderia acontecer logo estão invalidadas como é provável que o BC volte a aumentar a Selic nos próximos meses.

“Não vemos mais a possibilidade de os juros começarem a cair no segundo trimestre. Acreditamos que uma redução poderá ocorrer somente no segundo semestre, mas tudo vai depender o balanço de riscos, que inclui a questão fiscal, fatores políticos e o cenário internacional”, diz Gustavo Bertotti, economista-chefe da Messem Investimentos.

Como ficam os investimentos?

BOLSA DE VALORES

Com a manutenção dos juros elevados, todo tipo de aplicação fica menos atraente — e, devido às incertezas sobre o rumo dos juros, o risco do investimento em ações também cresce. Mesmo assim, na Bolsa, há companhias que sofrem mais com a Selic alta, como as varejistas, cujos clientes frequentemente se utilizam de crédito para comprar. As empresas que estão muito endividadas também podem ter problemas.

RENDA FIXA

O patamar atual da inflação faz dos títulos públicos atrelados ao IPCA um consenso entre os especialistas em invcestimentos. Com esses papeis, é possível proteger o patrimônio da alta dos preços. A estimativa de inflação maior já estpa aparecendo nas taxas de juros oferecidas nesses papéis, que subiram nos últimos dias pela expectativa de que o Copom seria mais duro no seu discurso.

Com a Selic elevada, os ativos pós-fixados proporcionam um bom retorno com baixo risco, pois não sofrem com volatilidade e são proporcionalmente impactados pela movimentação da taxa básica de juros.

“Nosso asset allocation em renda fixa pouco se alterou de dezembro para cá e mantemos nossa preferência em ativos pós-fixados e atrelados à inflação com duration de até 7 anos. No caso de inflação, vencimentos mais longos melhoram sua atratividade com taxas nos mesmos patamares da crise de 2015-16″, diz Odilon Costa, analista do banco BTG Pactual.

“Entre os títulos indexados à inflação (IPCA+), entendemos que eles trazem consigo um carrego interessante no médio/longo prazo, já que alguns papéis oferecem um juro real acima de 6% ao ano. Considerando o objetivo principal do Banco Central brasileiro (processo de desinflação e ancoragem das expectativas), seguimos com a preferência por uma carteira de títulos IPCA+ com duration intermediária (em torno de 5 anos)”, diz Vinicius Romano, analista de renda fixa da casa de análise de investimentos Suno Research. “Com as fortes aberturas (elevações) que observamos nos juros futuros, enxergamos os títulos prefixados de curto prazo ainda interessantes em termos nominais se comparados às outras classes dentro da renda fixa (pós e inflação).”