Copom: Comunicado aponta manutenção da Selic por um período maior que o previsto

Comitê prometeu se manter vigilante à inflação e disse que irá perseverar na política monetária restritiva até que o cenário de desinflação se consolide no país

O comunicado do Comitê de Política Monetária, divulgado junto da decisão unânime de manter a taxa Selic em 13,75% ao ano, indicou que o Copom avalia manter a taxa básica de juros nos níveis atuais para a próxima reunião, a ser realizada nos dias 21 e 22 de março.

“O Comitê segue vigilante… e reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião”, diz o comunicado.

“O comunicado veio em tom mais hawkish e duro do que o esperado. O comitê adicionou que estão com uma postura mais vigilante e ativa na tomada de decisão sobre os juros e voltou a assumir o leme de forma mais rígida para que, além do controle da inflação, possa fazer um ‘pouso suave’, sem desacelerar tanto a atividade econômica a ponto de gerar uma recessão econômica local”, afirmou o chefe da mesa de operações da Ação Brasil, Idean Alves.

Para Nicola Tingas, economista da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), afirmou que o comunicado foi claro no sentido que irá trabalhar para convergir a inflação para o centro da meta, ou seja, que irá manter as taxas pelo tempo que for preciso. A decisão veio em linha com o que o mercado esperava.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirmou que o Copom foi “direto ao ponto” ao afirmar que irá manter o juro por período mais prolongado que no cenário de referência. Fora isso, o BC afirmou que a incerteza fiscal e a desancoragem “demandam maior atenção na condução da política monetária.

O diretor de investimentos da Nomad, Celso Pereira, afirmou que nesse cenário incerto, a autoridade monetária brasileira deve permanecer cautelosa, mantendo a taxa de juros elevada, mirando um possível corte de juros no segundo semestre de 2023, a depender dos resultados econômicos.

“O Comitê também foi firme em desqualificar um cenário de queda de juros em 2023, ao mostrar projeções de inflação acima das metas usando a Selic de mercado. Já no cenário alternativo, em que a taxa de juros se mantém estável por todo o horizonte relevante, as projeções ficam mais próximas às metas. Na nossa opinião, esse exercício teve a finalidade de diluir as quedas de juros embutidas na curva”, apontou a estrategista-chefe da MAG Investimentos, Patrícia Pereira.

Para Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, a manutenção da taxa já era precificada e não muda nada em relação a curva de juros, principalmente a mais curta. A volatilidade vai ficar por conta de todas essas incertezas em relação à política fiscal com impacto mais significativo nos vértices de médio e longo prazos.

Entre os principais destaques do comunicado, o ambiente externo foi citado como marcado pela perspectiva de crescimento abaixo do potencial, alta volatilidade nos ativos financeiros e um ambiente inflacionário pressionado.

Apesar da política monetária estar em direção a taxas mais restritivas, os dados recentes de atividade global têm sido resilientes e o relaxamento de restrições sanitárias na economia chinesa alivia a possibilidade de novas disrupções nas cadeias de suprimento globais.

Em relação à atividade econômica brasileira, o Copom afirmou que o conjunto dos indicadores mais recentes corrobora o cenário de desaceleração inflacionária esperado pelo Copom.

“Tanto a inflação ao consumidor quanto suas diversas medidas de inflação subjacente seguem acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação”, diz.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 5,6% para 2023 e 3,4% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 10,6% para 2023 e 5,0% para 2024.

Recado ao governo

Em recado ao governo, o BC apontou: “A conjuntura incerta no âmbito fiscal e expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.  O Comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, completou.

Oportunidade de investimento

Para Jaiana Cruz, planejadora financeira e sócia da AVG Capital, a manutenção da taxa em 13,75%, deixa mais atrativos os títulos indexados ao IPCA, visto que estão pagando um juro real alto (em torno de 6% acima da inflação).

“O ideal é o investidor optar por títulos do Tesouro Direto que tenham vencimentos nos vértices intermediários da curva de juros (entre 2028 e 2033). Vale considerar também investimentos em títulos de crédito privado que não são tributados, como as debêntures incentivadas, por exemplo, ou os certificados de recebíveis, tanto do agronegócio quanto do setor imobiliário (CRA e CRI, respectivamente). Lembrando sempre de atentar para a nota de crédito do papel, dando preferência aos títulos AAA”, apontou.

Além disso, em um cenário de juros altos por mais tempo no Brasil, os títulos pós-fixados com vencimentos entre 1 e 2 anos podem ser uma excelente alternativa para aquele investidor que deseja continuar recebendo 1% ao mês sem precisar adicionar risco à carteira, dado que as taxas pós-fixadas acompanham a Selic.