Diversificação de investimentos independe do nível de juros, diz diretor do Itaú na Suíça

Stefan Jenni explica que, no longo prazo, a alocação em diferentes países se prova importante para a carteira de investimentos

A construção da carreira (e da família) do administrador de negócios suíço Stefan Jenni acompanha a expansão internacional do Itaú Unibanco há quase 15 anos.

Primeiro, em 2008, quando buscava montar uma operação em Zurique, o banco conheceu o executivo como parte da equipe que atendia brasileiros no UBS, na época dono do Pactual.

Depois, contratado, Jenni participou do processo para a obtenção da licença bancária na Suíça, onde nasceu seu primeiro filho. Depois, em 2011, Jenni foi para Miami ajudar na integração da unidade local do BankBoston, que o Itaú tinha comprado. Lá, nasceu seu segundo filho.

Quando o banco adquiriu o Munita, Cruzat y Claro (MCC) no Chile, em 2014, o administrador suíço também atuou na sua incorporação, e teve o terceiro filho. Em 2017, Jenni voltou para a Suíça como diretor de operações do Itaú Private Bank Zurich. E, em 2021, foi promovido a diretor responsável pela unidade.

O banco continua sendo o único brasileiro com licença para operar nesse que é um dos principais centros financeiros do mundo. Com cerca de 80 funcionários, proporciona serviços de investimentos para os clientes de alta renda.

Este segmento é chamado de wealth management, ou de gestão de fortunas, destacando a importância da diversificação geográfica mesmo em tempos de juros altos no Brasil.

“Manter a estratégia nos bons tempos e nos momentos difíceis é o caminho. Essa é a visão dos bancos suíços também, de preservação dos bens, do patrimônio do cliente, com uma visão de longo prazo”, diz Jenni.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida pelo executivo à IF em sua mais recente passagem pelo Brasil.

Por que a Suíça tem tanta tradição em sistema financeiro? 

O sistema financeiro da Suíça é muito sólido e eficiente há décadas. A estabilidade política e econômica são únicas no mundo. Além disso, tem a questão da neutralidade.

A Suíça normalmente não toma posição em conflitos internacionais, e tem um papel também de ajudar a resolver os conflitos. Tem um sistema político local muito estável. Eu chamo esse negócio de “no drama”. Isso nasceu 200 anos atrás, continuou evoluindo, e se mantém até hoje.

Pensando no futuro, o que está acontecendo no mundo é sério. Há temas polêmicos em todo lugar, o extremismo. Então, um lugar neutro, que não toma posição, que não se envolve em conflitos, tem um valor grande.

Por que a Suíça é importante para o cliente brasileiro?

Sempre fizemos a recomendação, para todos os clientes, de diversificação. O banco tinha uma operação muito forte de private banking no Brasil e uma operação em Luxemburgo, que é uma praça importante para fundos, mas, para wealth management, a Suíça é a principal na Europa.

A Suíça é destino de 25% do dinheiro que qualquer pessoa no mundo inteiro investe fora do seu país de origem — essa era a porcentagem em 2008, quando o banco escreveu seu plano de negócios lá, e continua sendo. O setor de private banking é responsável por 10% do PIB (Produto Interno Bruto) da Suíça, tem um ecossistema financeiro que atrai grandes talentos, é muito tradicional.

Para a ambição que o Itaú sempre tem de ser um banco global, é fundamental ter banco nos Estados Unidos e na Europa. Então, oferecemos o mundo para o cliente brasileiro.

Como é a gama de produtos que o cliente pode comprar na Suíça?

Em geral, os bancos na Suíça podem operar todo tipo de produto tradicional, de renda fixa até produtos alternativos. A Suíça é um hub de inovação, trazendo inclusive novas ideias para o Brasil. É muito forte no mundo de criptomoedas, de ESG, esses temas. Dado que a importância do wealth management é tão grande no país, acaba atraindo muitas fintechs.

Tem crescido o número de clientes brasileiros que usam o serviço do banco na Suíça?

Faz uns dois anos, mais ou menos, que o nosso crescimento se acelerou muito.

Acho que isso é obviamente um pouco pelo trabalho que nós estamos fazendo de ser um banco global, sempre olhando o cliente de forma holística, ou seja, não importa onde estão os recursos, pensamos em uma estratégia completa. O cliente também está mais preocupado com questões geopolíticas e quer diversificar mais.

Outro ponto importante é a nossa proximidade com o cliente. Os últimos 18 meses foram e ainda estão sendo muito difíceis, mas a nossa proximidade do cliente muda o jogo. Um banqueiro sentado em Zurique que tem que viajar 12 horas para chegar ao Brasil e falar com o cliente é muito diferente de ter uma estrutura global olhando para o cliente como um todo. Por isso eu estou bem otimista com os próximos meses.

Esse período de de dois anos atrás coincide com o período de juros muito baixos no Brasil, quando os investidores estavam propensos a diversificar mais. Agora, com o juro tão alto, por que você está otimista?

Obviamente, quando o juro no Brasil está alto, é preciso mais educação, mais conversa, mais explicação para convencer o cliente a comprar um título de 3%, 4% nos EUA ou na Suíça quando ele pode ganha 15% risk free no Brasil.

Mas, no final do dia, os juros não mudam o conceito de diversificação. Temos muito material e muitos argumentos para mostrar para qualquer cliente que o juro não é o indicador determinante a favor ou contra a diversificação. Olhando no longo prazo, diversificação sempre foi e é um critério importante na evolução da carteira do cliente.

Manter a estratégia nos bons tempos e nos momentos difíceis é o caminho. Essa é a visão dos bancos suíços também, de preservação dos bens, do patrimônio do cliente com uma visão de longo prazo.

Quais países são os favoritos para os brasileiros que investem a partir da Suíça?

O cliente brasileiro tem um viés para o Brasil enorme.

Então, o que muito cliente faz é mandar o dinheiro para fora para comprar título brasileiro. Tem que falar com o cliente que talvez não é a melhor estratégia de diversificação. Ele diversifica o risco de país onde o dinheiro dele está aplicado, mas volta a ter uma exposição enorme para o mesmo país.

Uma vez que o cliente entende essa parte e vai começar a olhar um pouco o mundo, obviamente também tem um viés pelos EUA, mas também estamos educando nossos clientes para olhar um pouco além, para uma alocação global. A Europa traz oportunidades, e a Ásia, pensando no longo prazo.

Como o senhor vê a evolução da economia da Europa, que está enfrentando uma crise?

A Europa teve historicamente menos necessidade de lidar com a inflação do que outras regiões. Também está mais afetada pelo conflito [entre Rússia e Ucrânia]. Mas acho que vai se recuperar com o restante do mundo, saindo dessa fase crítica nos próximos meses, ou em um ano e pouco.

O tema principal para mim é a inflação, que tem que ser debatido com zero tolerância. Os EUA hoje estão melhor posicionados, vão se recuperar mais rápido, zero dúvida. A América Latina também fez um bom trabalho de atacar a inflação mais rápido.