10 empresas com dividendos crescentes há mais de 25 anos para você ficar de olho

Além disso, companhias podem entregar dividend yield de até 6,52% nos próximos 12 meses

Para quem busca uma renda em dólar, existe um grupo de empresas que se caracteriza por ter uma longa trajetória na remuneração dos acionistas. No mercado, elas são conhecidas como “aristocratas de dividendos” ou “dividend aristocrats”. São companhias que pagaram de forma ininterrupta e crescente dividendos ao longo dos últimos 25 anos ou mais aos seus investidores. Existe até um índice próprio que acompanha esses papéis lá fora, e que você pode ver neste link, elencado pela S&P Dow Jones.

Assim, as empresas que pagam dividendos crescentes fazem parte do índice S&P 500 – que reúne as 500 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos. Ou seja, atendem a critérios de tamanho e liquidez. Atualmente são 67 empresas, consideradas aristocratas dos dividendos presentes no índice.

O que são as ações aristocratas de dividendos?

A ideia é que além de pagar dividendos todo ano, as ações aristocratas de dividendos paguem dividendos crescentes. Então, o valor do provento por ação em dólar aumenta a cada ano.

“Se uma empresa pagou US$ 1 em dividendos em um ano, no próximo pode remunerar os investidores com US$ 1,05 para que o valor seja crescente”, exemplifica William Castro Alves, estrategista da Avenue.

Vale destacar que o foco é o aumento do valor por ação e não necessariamente se traduz em aumento do dividend yield ou payout (parcela do lucro destinada a proventos).

Por ter essa resiliência ao longo do tempo, as empresas com dividendos aristocratas, que pagam dividendos crescentes, são consideradas opções seguras e estáveis.

Portanto, são indicadas para quem busca um portfólio diversificado, com crescimento da renda passiva, destaca Bruna Allemann, economista e head de investimentos internacionais da Nomos.

“Estas empresas têm capacidade de manter e aumentar os dividendos durante longos períodos, mesmo em ciclos econômicos desafiadores”, avalia. Nos últimos 25 anos, por exemplo, aconteceram inúmeras crises, guerras e até a pandemia da covid-19.

Entre as empresas que pagam dividendos crescentes, há um grupo que consegue ainda ser mais diferenciado. São os “dividend kings”, segundo Allemann: companhias que aumentaram os dividendos por mais de 50 anos consecutivos. Alguns exemplos são a Coca-Cola (KO) e Johnson & Johnson (JNJ), que pagam dividendos crescentes há 61 anos.

Consistência pesa mais do que dividend yield

Embora o dividend yield seja importante, este não é o objetivo principal de ações consideradas aristocratas, que geralmente capturam melhor o fator qualidade. João Visotaky Jr, analista da Ticker Research, destaca que nem sempre empresas com yield elevado oferecem boa oportunidade de crescimento dos proventos.

“As empresas aristocratas são uma escolha adequada para quem busca crescimento consistente da renda no futuro e não para quem quer receber a maior renda possível no presente”, destaca Visotaky.

Segundo o analista da Ticker Research, para o padrão norte-americano, é possível encontrar boas ações com dividend yield de entre 2,5% e 3,5%. “São papéis de empresas sem problemas graves no horizonte, em posição competitiva dominante e com histórico de geração de caixa”, afirma.

Portanto, um dividend yield muito elevado em empresas americanas pode também sinalizar um problema, aponta Lucas Schwarz, analista da VG Research. É o caso de companhias com dividend yield acima de 7% que, segundo ele, devem ser observadas com cautela.

Armadilhas dos rendimentos

O investidor deve ter cuidado para não se deparar com uma “yield trap” (armadilha dos rendimentos), segundo Schwarz – alguns exemplos são rendimento excepcionalmente alto, endividamento excessivo, dividendos superiores aos lucros, fluxo de caixa baixo ou negativo e problemas com o negócio.

“Na realidade norte-americana, um dividend yield de 3%, embora baixo, é aceitável se estivermos falando de uma tese de baixíssimo risco. Enquanto um dividend yield de 4% já é atrativo e um de 5% é excelente”, pontua Schwarz.

O analista da VG reforça que os investidores norte-americanos costumam dar maior atenção à sustentabilidade dos dividendos, ao payout e à cobertura do dividendo. Esta última é a capacidade da empresa de gerar fluxo de caixa suficiente para reinvestir no negócio e distribuir dividendos de forma saudável.

Vale a pena investir em empresas com dividendos crescentes?

Com os juros americanos no intervalo de 5,25% e 5,5%, o retorno oferecido pelos dividendos de empresas aristocratas pode não parecer tão atrativo.

Afinal, ele pode perder para o retorno das treasuries  (títulos do Tesouro Americano), que no curto prazo superam o patamar de 4%.

Contudo, Raphael Rocha, analista de ações internacionais da Dica de Hoje Research, aponta que os juros americanos já estão no seu pico e podem cair a partir da segunda metade do ano.

“Quando os juros caírem vão rivalizar menos com os dividendos das empresas americanas. Uma empresa com dividend yield entre 4% e 5% é bem competitiva diante do patamar atual de juros”, avalia.

A expectativa, segundo Rocha, é quando os juros retornarem ao patamar de 3% (provavelmente em 2025), estas empresas terão um desempenho interessante pela migração de investidores dos títulos do tesouro para as ações.

Boa parte do mercado, por exemplo, acredita que os juros americanos fechem 2024 entre 4,25% e 4,50%. Outros esperam juros entre 4,50% e 4,75%.

Ações baratas

Bruno Corano, economista, investidor e apresentador do programa Manhattan Connection, cita outro motivo pelo qual vale a pena comprar empresas aristocratas neste momento: elas estão baratas.

Segundo Corano, o aumento dos juros e o fim da pandemia geraram forte volatilidade nos mercados, impulsionando a valorização de empresas techs, enquanto outras indústrias sofreram uma forte correção de preços.

“Ainda é possível encontrar opções entre estas empresas que pagam dividendos e estão muito baratas. Acredito que é um bom momento para compra”, observa Corano.

10 aristocratas de dividendos mais indicadas por especialistas

Porém, em um universo de mais de 60 empresas aristocratas, quais seriam as melhores opções para um portfólio de longo prazo? A Inteligência Financeira consultou seis especialistas e apresenta a seguir as empresas mais indicadas.

Então, a Coca-Cola (KO) foi a ação mais citada pelos especialistas, com 61 anos de dividendos crescentes e um dividend yield projetado de 3,17% para os próximos 12 meses.

Veja abaixo a lista completa das indicações dos especialistas:

EmpresasCódigoCódigo BDRAnos consecutivos de dividendos crescentesDividend yield* realizado últimos 12 meses (DY)Dividend yield* projetado próximos 12 meses (DY)Indicações
Coca-ColaKOCOCA34613,01%3,17%4
ChevronCVXCHVX34363,98%4,22%3
Johnson & JohnsonJNJJNJB34612,94%2,94%3
McDonald’sMCDMCDC34482,09%2,24%3
PepsiCoPEPPEPB34512,92%2,98%3
Exxon MobilXOMEXXO34413,58%3,66%2
3MMMMMMMC34656,49%6,52%2
AbbvieABBVABBV34523,36%3,48%2
Realty Income CorpOR1IN34265,79%5,81%2
IBMIBMIBMB34283,58%3,58%2
Fonte: Levantamento Lucas Schwarz, analista da VG Research, com SeekingAlpha, Investor Relations das companhias. Indicações de VG Research, Ticker Research, Dica de Hoje Research, Avenue, Corano Capital e Nomos. Dados até: 26/02/2024.
*Dividend yield = retorno em dividendos

Os papéis mais destacados

Entre as 10 empresas que pagam dividendos crescentes, quatro tiveram destaques. Veja abaixo:

Coca-Cola (KO)

Rocha, da Dica de Hoje Research, destaca que a Coca-Cola é dividend king e uma marca conhecida e consumida no mundo todo. A companhia produz uma vasta gama de bebidas. Segundo o analista, mesmo com o aumento da inflação nos últimos anos, a Coca-Cola conseguiu aumentar o preço dos seus produtos e não teve uma queda representativa no volume de vendas.

“A Coca-Cola conseguiu repassar o aumento de custos, em função da inflação aos clientes, e continuou tendo um crescimento relevante das receitas”, aponta. Isso foi possível dada a qualidade da marca e dos produtos, segundo Rocha.

O último dividendo anunciado pela Coca-Cola foi de US$ 0,485, com pagamento em 01 de abril de 2024. Em 2023, a companhia remunerou seus acionistas com US$ 1,84. A Coca-Cola caminha em 2024 para seu 62° ano de dividendos crescentes.

A Coca-Cola também integra há 36 anos, desde 1988, o portfólio da holding Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett, que possui 400 milhões de ações da fabricante de bebidas e considera a empresa “um negócio maravilhoso”. Tudo indica que Buffett poderia receber em 2024, cerca de US$ 776 milhões em proventos da Coca-Cola (US$ 1,94 por ação).

A Coca-Cola teve lucro líquido de US$ 1,99 bilhão no quarto trimestre de 2023.  A companhia superou as expectativas de Wall Street ao se beneficiar de preços mais altos dos produtos e demanda crescente de bebidas energéticas, refrigerantes e sucos.

Realty Income Corp (O)

Schwarz, da VG Research, explica que a Realty Income atua no segmento imobiliário norte-americano (real estate) e é um dos poucos REITs (real estate investment trust, semelhante a um fundo imobiliário americano) classificado como aristocrata.

Este REIT paga dividendos crescentes há 26 anos, de forma mensal. O último provento anunciado foi de US$ 0,26 e será pago em 15 de março de 2024.

Segundo Schwarz, a Realty Income é especializada em propriedades comerciais, com foco em monoinquilinato e contratos triple-net-lease (ou seja, onde o locatário se faz cargo, além do aluguel, de despesas como impostos do imóvel, seguros e custos de manutenção, garantindo aos investidores fluxos de receita mais estáveis e consistentes).

“Ainda que maior parte das 13.250 propriedades do gigantesco portfólio do Realty Income Corp. estejam localizados nos Estados Unidos, o REIT também possui imóveis na Europa, como no Reino Unido, França, Espanha, Itália e Portugal”, explica Schwarz.

Allemann, da Nomos, destaca que o REIT pode se beneficiar quando as taxas de juros começarem a cair, tornando-se uma escolha interessante para investidores que buscam renda passiva estável.

PepsiCo (PEP)

A PepsiCo é conhecida por ser uma “Coca-Cola diversificada”, porque uma parcela relevante da sua receita vem do segmento de snacks e salgadinhos, diminuindo a dependência de refrigerantes, explica Visotaky, da Ticker Research. A companhia também é dona do refrigerante Pepsi, do Gatorade, Toddy, Quaker, Ruffles e Doritos e aumenta seus dividendos há 51 anos consecutivos.

Segundo Visotaky, a PepsiCo tem capacidade de ver seu faturamento aumentar mais de 4% ao ano nos próximos 3 anos. O último dividendo anunciado pela empresa foi de U$S 1,26 por ação, que será pago em 01 de abril de 2024.

Schwarz destaca que apesar do menor potencial de valorização, a PepsiCo é uma companhia com forte “moat” – vantagem competitiva que uma empresa tem sobre outras do mesmo setor de atuação-  e que, graças ao seu portfólio com alcance global, apresenta boas oportunidades de crescimento em mercados desenvolvidos e emergentes.

Vale lembrar que os dividendos pagos pelas empresas americanas são tributados em 30% já retido na fonte se o investidor aplicar recursos nas ações (stocks). Contudo se o investidor se expor a elas via BDRs (Brazilian Depositary Receipt, BDR, ou recibos de ações) o desconto deve ser maior – com o investidor recebendo de 60% a 70% do dividendo pago no final.

Stock, BDR ou ETF: como comprar ações que pagam dividendos crescentes?

A recomendação dos especialistas consultados é se expor diretamente as ações americanas, abrindo uma conta em corretora internacional.

Allemann explica que o processo é simples, enviando o valor em reais para o aplicativo da corretora americana, onde ocorre o câmbio para dólares.

A vantagem é que o investidor terá acesso a inúmeros ativos que não estão presentes na bolsa brasileira.

“Se você não tem o valor total da ação, é possível comprar pelo valor que você possui disponível, ou seja, mercado fracionado”, explica a economista.

Como investir por BDRs?

É possível também investir diretamente desde a bolsa brasileira, sem precisar de conversão de moeda, por meio dos BDRs, mas Allemann lembra que a valorização destes recibos está sujeita a variações cambiais e alguns BDRs podem ter baixa liquidez no mercado dificultando a negociação.

ETFs: para quem não tem tempo

Para quem não tem muito tempo para acompanhar a carteira e nem experiência, os especialistas recomendam a exposição por meio de ETFs (fundos de índice) que repliquem índices como o S&P 500 Dividend Aristocrats.

Algumas alternativas citadas pelos especialistas são o: O ProShares S&P 500 Dividend Aristocrats ETF (NOBL), que replica diretamente o S&P 500 Dividend Aristocrats Index, com 67 empresas de diversos setores na sua carteira, que têm um histórico de pelo menos 25 anos de aumento consecutivo dos dividendos.

Allemann explica que a concentração é baixa e entre os maiores pesos tem companhias como West Pharmaceutical Services, W.W. Grainger, Clorox Company, Emerson Electric Co. e Caterpillar Inc.

O problema do ETF é que seu rendimento anual de dividendos é baixo, em torno de 2,10%. Para ter uma rentabilidade maior, os especialistas acreditam que valeria o investidor selecionar suas próprias ações.

Schwarz cita também o ProShares S&P MidCap 400 Dividend Aristocrats ETF (REGL), que busca replicar o índice S&P MidCap 400 Dividend Aristocrats, para aqueles investidores que procuram exposição a companhias aristocratas mid-cap, com valor de mercado intermediário entre US$ 300 milhões a US$ 10 bilhões.

O economista Bruno Corano cita ainda o SPDR S&P Dividend ETF (SDY) – que oferece exposição a 121 ações dos EUA que aumentaram consistentemente seus dividendos por pelo menos 20 anos consecutivos.

E o Vanguard Dividend Appreciation ETF (VIG), que segue o S&P U.S. Dividend Growers Index, composto por ações de grande capitalização que têm um histórico de aumentar proventos todos os anos.

No entanto, Corano defende, que a exposição via ETFs pode ser muito abrangente, considerando uma carteira com mais de 60 companhias, e que os investidores poderiam replicar estrategicamente apenas as 20 ou 30 principais ações aristocratas de alguns índices, garantindo um melhor desempenho e menos taxas.