Valor das Big Techs cresce quase US$ 500 bilhões em janeiro. É hora de investir ou as ações estão caras?

Entenda o que explica esse crescimento e se é hora de ter grandes empresas de tecnologia na carteira

Depois de um período desafiador, as Big Techs voltaram aos holofotes. Isso porque o valor de mercado das cinco maiores empresas de tecnologia americanas cresceu US$ 489 bilhões no primeiro mês de 2024 — o equivalente a 54% do valor de mercado de todas as empresas listadas na B3. Os dados são de um levantamento feito pela Elos Ayta Consultoria. 

O que explica esse crescimento? 

Na visão de Enzo Pacheco, analista de mercado internacionais da Empiricus, o crescimento das “Magnificent 7” (grupo das 7 maiores empresas de tecnologia) nesse começo de ano está ligado as perspectivas que a Inteligência Artificial (IA) tem nesses negócios. Veja abaixo os valores de mercado das gigantes de tecnologia:

Fontes: Bloomberg e Empiricus

“Importante notar que a maior parte da valorização dessas empresas está diretamente ligada à IA — tanto que as companhias que estão atrás nessa corrida, como a Apple (AAPL) e a Tesla (TSLA), foram as que tiveram maior desvalorização no período”, ressalta.  

Nvidia e a busca por chips 

Por outro lado, segundo o analista, a grande beneficiada nesse movimento foi a Nvidia. “Ela é a principal empresa fornecedora de chips que farão parte da infraestrutura necessária para que os modelos e aplicações de IA funcionem, dado a grande capacidade de processamento desses semicondutores”.  

Foi neste contexto, inclusive, que Mark Zuckerberg, CEO da Meta, anunciou recentemente que para o futuro desenvolvimento da companhia, precisará construir uma “infraestrutura computacional massiva”. Até 2024, Zuckerberg ressaltou que a infraestrutura precisará de 350 mil chips H100 desenvolvidos pela Nvidia. 

“Como esse produto só chegou ao mercado no final de 2022, e em pouca oferta, isso significaria uma demanda represada pelos chips da Nvidia. E não podemos esquecer que outras Big Techs também estão fazendo o mesmo”, ressalta Enzo. 

Um ponto de atenção 

O crescimento acelerado dessas empresas pode despertar o interesse e também a dúvida entre os investidores. “Algumas dessas empresas já tiveram forte valorização, mas não seria nada absurdo uma leve realização. Uma ação se valorizar quase 50% em menos de dois meses (sendo que já havia valorizado mais de 200% no ano anterior), como é o caso da Nvidia, me parece ter uma questão psicológica envolvida nesse ativo”, destaca Enzo. 

O analista levanta um possível movimento. “Muitos investidores que perderam a oportunidade em 2023 podem estar comprando o ativo com base na performance passada, e não necessariamente com base nos fundamentos”. Na visão de Enzo, o valor de mercado atual da Nvidia já precifica um cenário extremamente positivo para a companhia. 

“Mesmo que ela entregue bons resultados nesta quarta-feira (21), isso pode não ser o suficiente para novas altas porque já estava no modelo dos analistas. Aliás, pode ser um ‘motivo’ para alguns investidores realizarem partes dos lucros”, explica.  

É hora de investir nas Big Techs? 

Thiago Finch, especialista em negócios digitais e CEO da Ticto, acredita que a decisão de investir nas Big Techs depende de vários fatores.

Isso inclui os objetivos de investimento individuais, a tolerância ao risco e o horizonte de tempo. “Embora o setor tenha mostrado um crescimento impressionante, também é caracterizado por alta volatilidade e avaliações elevadas. Portanto, os investidores precisam estar cientes dos riscos potenciais e considerar a possibilidade de correções de mercado após períodos de crescimento acelerado”, diz. 

Enzo, da Empiricus, acredita que o investidor pode investir nessas empresas, mas com cautela. “Hoje na minha carteira temos Meta (META) (com uma posição média, 4% a 6% da carteira), Microsoft (MSFT) e Apple (posição pequena, 1% a 3%). Mas, dado a forte valorização recente, prefiro ter uma pequena posição e aproveitar uma possível realização para aumentar posição em algumas teses”.  

O que analisar antes de investir em uma Big Tech 

Segundo Enzo, a análise em si não é muito diferente de uma empresa de qualquer outro setor, mas existem alguns pontos mais voltados para as teses de tecnologia. Começando pela oportunidade de mercado da companhia, também conhecido como total addressable market.  

“Apesar de ser um número que envolve muitas projeções — e, como sabemos, projeções dependem muito da cabeça de quem está projetando, com os seus vieses específicos —, é tido como uma base importante para tentar entender se a área de atuação da companhia é atrativa ou não”, ressalta Enzo.

Outro ponto que diferencia a tecnologia de outros setores é a análise de múltiplos. “Ela pode não ser a melhor métrica para decidir se uma empresa vale ou não o investimento. Isso porque essas companhias normalmente negociam em patamares muito superiores a média de mercado, porque a perspectiva de crescimento do negócio geralmente também é bem maior”, explica.  

Já Thiago destaca o posicionamento no mercado como um ponto importante na avaliação. “Examine a posição da empresa no mercado, sua participação de mercado, a força de sua marca e seu potencial de crescimento em áreas emergentes, como inteligência artificial e computação em nuvem”, explica.  

Além disso, é importante analisar as tendências do setor e os riscos macroeconômicos e geopolíticos, como mudanças na política monetária, tensões comerciais e outros riscos.

“Em resumo, investir em gigantes de tecnologia exige uma análise detalhada e uma compreensão clara dos riscos envolvidos. Os investidores devem abordar o setor com cautela, diversificando suas carteiras e realizando pesquisas extensivas antes de tomar decisões de investimento”.