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Dinheiro com passaporte
- Ter ativos no exterior deixou de ser caro, burocrático e estratégia só para os ricos
- Mas cuidado: há riscos e o prazo para retorno é longo
- Na hora de avaliar onde investir, faça um levantamento sobre o gestor e a aplicação
No último final de semana, veio à tona a informação de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da economia, Paulo Guedes, estão entre os 330 políticos, artistas e empresários do mundo todo que têm empresas abertas em paraísos fiscais, que cobram pouco ou nenhum imposto.
Podemos até questionar a postura de ambos – ou não -, mas uma coisa é fato: se eles estão procurando investimentos fora do Brasil, não seria o caso de você pensar onde investir, para além das fronteiras? Tudo de maneira lícita, óbvio.
Então, vamos lá.
Até cinco anos atrás, investir fora do Brasil era custoso, burocrático e uma estratégica para poucos endinheirados. Mas isso mudou. “E outra: lá fora você consegue investir em ações de setores que não têm presença no Brasil, como biotecnologia”, afirma Sandra Blanco, estrategista de investimentos da corretora Órama.
Sandra Blanco lembra ainda que a quantidade de empresas que seguem à risca o ESG (empresas que seguem práticas ambientais, sociais e de governança) é maior. Se isso também for um valor para você, as bolsas de valores de outros países podem te oferecer mais esta alternativa.
Mas atenção: ativos estrangeiros aceitam dinheiro de todo o mundo. Mas será que você encara os riscos embutidos? “Até a renda fixa do exterior tem mais volatilidade que a nossa. Uma pessoa que tenha o perfil conservador nos investimentos não dorme direito”, alerta Sandra Blanco.
E lembre-se: há sempre o fator moeda nesta conta. “Além do risco de cada ativo, há o risco do câmbio. No caso de investimentos em ações, você pode escolher fazer a operação com ou sem hedge, mas nós recomendamos sem hedge, porque se tiver uma realização forte, o dólar sobe. Então você já tem hedge embutido”, afirma a estrategista.
O que você deve levar em consideração
Na sua decisão, você deve levar em consideração alguns pontos, como:
- O quanto de risco você suporta. Se for nenhum, esqueça os investimentos no exterior.
- Prazo: pense em algo como pelo menos dois anos de investimento.
- Faça um levantamento sobre o gestor e o ativo.
- Acompanhe as economias mundiais, como Europa, Estados Unidos e China. Não carece ser PhD em assuntos internacionais. Mas é importante saber alguns movimentos, como o da inflação.
Sair do Brasil é uma alternativa para quem queira ampliar a diversificação da carteira. “O ideal é que o investidor brasileiro já domine o mercado nacional, e aí sim dê um passo maior, saindo do país”, afirma Cesar Crivelli, sócio e analista de investimentos internacionais da casa de análise Nord Research.
Outro ponto que você pode considerar na sua avaliação é a facilidade em investir fora do Brasil. Há corretoras que não cobram taxa de manutenção de conta ou de custódia, e fazem o cálculo automático do Imposto de Renda devido.
Se sua decisão foi pelo sim, tente abstrair do dia a dia o desempenho da carteira. “Ninguém olha rendimento de CDB ou do Tesouro Direto todo dia, mas no mercado de renda variável com câmbio, sim. Você não deve ficar apreensivo ou preocupada com perdas diárias. Pense no longo prazo. No curto prazo o mercado é louco”, afirma Cesar Crivelli, da Nord.
Ativos na prateleira
O mercado internacional tem inúmeros ativos de prateleira para você escolher. O economista Marcelo D’Agosto listou alguns deles, começando pelos fundos de ações formados por BDRs, que são administrados por gestores brasileiros de bancos ou plataformas de investimento. “E aí o investidor vai se inteirando do assunto”, afirma D’Agosto.
Ainda aqui do Brasil, há a opção das ETFs que acompanham indicadores internacionais, como o S&P500. E há a remessa de dinheiro, via corretora que negocia ativos no mercado global, para ativos como renda fixa, fundos de hedge e fundos imobiliários. “É importante ficar atento à estrutura do fundo, para você saber onde está investindo. E sempre evitar paraísos fiscais, que são muito mais arriscados”, afirma D’Agosto.
Uma nova classe de ativos
Nelson Muscari, coordenador de fundos da corretora Guide Investimentos, vem observando uma mudança entre os investidores que estão montando portfólio fora do Brasil. “Eles já consideram o investimento no exterior como uma classe de ativos, mesmo quem não vai viajar para fora”, afirma Muscari. Investir fora do Brasil pode ser, portanto, mais uma opção de diversificação ao risco Brasil.
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