Cartilha Luiz Barsi: o que você pode aprender sobre investimentos em tempos difíceis

Cartilha do megainvestidor traz ensinamento, mas não é para todos

Luiz Barsi, um dos lendários investidores brasileiros (Foto: Carol Carquejeiro/Valor)
Luiz Barsi, um dos lendários investidores brasileiros (Foto: Carol Carquejeiro/Valor)

O megainvestidor Luiz Barsi Filho é conhecido como o Warren Buffett brasileiro. O apelido e a fortuna — algo em torno de R$ 2 bilhões em ações, de acordo com a revista Forbes — do guru da bolsa de valores brasileira foi construído com um método de alocação: a cartilha Barsi.

A cartilha consiste em uma posição mais conservadora na renda variável e, assim, pode ajudar a entender como é possível investir na bolsa em tempos de baixa ou na volatilidade.

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Cartilha Barsi funciona para qual perfil de investidor?

Mas a cartilha Barsi não é para todos.

Trata-se de uma tese boa para iniciantes, focada em longo prazo, mas requer uma certa ‘experiência’ do investidor. Além de um estudo sobre os ativos mais seguros da renda variável — qual está menos sujeito ao risco.

Além disso, algumas das teses de Barsi que ficaram famosas, como a de que todas as empresas de varejo devem quebrar e de que o setor é “manco”, têm exceções.

O que é a cartilha de Luiz Barsi?

Luiz Barsi e sua filha, Louise Barsi, têm uma série de mandamentos na hora de aplicar dinheiro na bolsa de valores.

A cartilha do megainvestidor tem princípios semelhantes ao de bilionários estrangeiros, como Buffett, e foca na construção de uma renda passiva de milhares de reais com base em investimentos em empresas de alto value investing.

No dicionário de Luiz Barsi, portanto, o value investing é uma técnica para analisar quais empresas estão mais descontadas na bolsa.

O método avalia indicadores de rentabilidade por ação em relação ao preço dos papéis no índice.

Também analisa a saúde financeira de uma empresa e o quanto ela pode construir de valor nos próximos anos, elevando indicadores como lucro e caixa.

O foco de da cartilha Barsi é voltado para empresas de “ciclos perenes”, aponta o analista da casa de análises Top Gain, Sidney Lima.

São companhias listadas na B3 cujas ações não são tão afetadas pela volatilidade do mercado.

O bilionário tem preferência por empresas que não estejam sujeitas aos indicadores econômicos, como a inflação ou a taxa de juros.

Não à toa, um dos setores favoritos de Barsi é o setor energético, porque “mesmo quando você não consome luz em casa, no final do mês terá uma conta a pagar”.

Quais são as ações favoritas de Barsi?

As ações favoritas da cartilha Barsi são, principalmente, as de companhias da bolsa de valores que distribuem dividendos.

Para o megainvestidor brasileiro, o investidor comum (eu e provavelmente você) deve focar em papéis que paguem um rendimento sobre dividendos (ou dividend yield) a partir de 6% — ou seja, a divisão do total recebido pelo total investido.

Fizemos um perfil de Luiz Barsi, maior investidor individual da B3 para você conhecer melhor a lenda da bolsa.

Tese de Luiz Barsi é boa para todo perfil de investidor?

A obsessão por dividendos e empresas com estabilidade nos ciclos da bolsa faz com que a cartilha de Luiz Barsi seja ideal para quem pensa em dar o primeiro passo na renda variável.

Para os Barsi, o mercado de ações pode ser mais rentável e, ao mesmo tempo, seguro que a renda fixa.

Barsi costuma recomendar os papéis de bancos.

O xodó do megainvestidor é o Santander (SANB3), cujo resultado final de 2022 será divulgado nesta quinta-feira (2).

No último ano, a companhia distribuiu rendimentos de dividendos de 9,22%.

Outras recomendações incluem Taesa (TAEE4) e Klabin (KLBN4) — sempre ações preferenciais, que pagam mais dividendos.

“O objetivo do método Barsi é a construção de carteira de estabilidade e distribuição de lucro. Por isso, é boa para o investidor iniciante. Mas ele não terá uma valorização extraordinária”

Sidney Lima, analista da Top Gain

Especialistas explicam, contudo, que os ensinamentos de Barsi requerem algum grau de experiência e estudo.

Mesmo o investidor iniciante deve analisar as companhias indicadas, e não apenas pelos dividendos cheios a ser pago aos acionistas.

A empresa poderia inflar os dividendos, por exemplo, porque se desfez de uma parte de seu patrimônio, como uma companhia de energia elétrica que vende redes de transmissão ou usinas.

“Mas depois de se desfazer de ativos, a receita deve cair e, assim, os dividendos diminuem”, diz o analista.

Cartilha Barsi não é para curto e médio prazo

Para rendimento a ser sacado no curto ou médio prazo, dizem os especialistas entrevistados pela Inteligência Financeira, quem sabe mais da bolsa pode ir atrás de oportunidades mais rentáveis.

Para Denis Medina, professor da Faculdade do Comércio de São Paulo (FAC-SP), os fundos imobiliários são uma boa opção além do mercado de ações.

“Um bom investimento de curto e médio prazo que contraria a tese do Luiz Barsi é a compra de títulos de fundos imobiliários, mas não no momento do lançamento. Os FIIs de shoppings, por exemplo, já estão rendendo bem neste ano”, diz Medina, lembrando que é possível receber os dividendos desses fundos.

Ele não recomenda a bolsa para quem busca lucro mais imediato, sob o argumento de que a alta na Selic (13,75%) alavanca investimentos de menor risco, como os que estão atrelados ao CDI.

Luiz Barsi estava certo ao falar do varejo?

Com a crise da Americanas e o pedido de recuperação judicial da companhia na Justiça, alguns investidores revisitaram falas de Barsi sobre o varejo.

Ao se referir ao setor de venda de eletroeletrônicos e de linha branca, categoria Magazine Luiza, Americanas e Via, o megainvestidor disse em um podcast que “as próximas empresas de varejo quebrarão”, depois de citar que “umas 40 já quebraram”. Barsi afirmou que “varejo não gera riqueza”, além de o setor ser “manco”.

O motivo seria a inflação. Para Barsi, a margem operacional do setor é baixíssima e sofre muita pressão inflacionária, que corrói rápido os preços dos produtos. “A inflação corrói de forma vingativa. O varejo é uma atividade em que você sempre está aportando recursos. Por isso, na minha avaliação, ele não é um setor bom”, avaliou o bilionário.

A lista de fornecedores da Americanas deixa claro que o varejo depende de margens arriscadas para atuarem em um mercado competitivo. Analistas reconhecem que as varejistas estão mais propensas a falir.

Uma vez decretada a recuperação judicial, nenhuma empresa do setor conseguiu se reerguer, destaca Luan Alves, analista da VG Research.

“Eu diria que sim, é um setor manco e com muitos desafios. A chance de você investir na empresa de varejo e ganhar dinheiro nesse contexto tem sido menor do que a de você perder”

Luan Alves, analista da VG Research

Exceções: Renner, Droga Raia, Renner

Alves lembra que há, contudo, exceções para essa regra.

O analista afirma que, apesar das dificuldades, setores mais ligados à economia não devem ser evitados por investidores.

A tese é de que cada ramo da bolsa tem companhias de destaque, como Localiza (RENT3) para o aluguel de carros, ou Droga Raia (RADL3) no caso de farmácias. São empresas que deram rentabilidade de longo prazo, afirma Alves. No varejo de vestuário, a Renner também é exceção.

Barsi não recomenda criptomoedas

Outro ativo a ser evitado segundo Luiz Barsi são os criptoativos.

O megainvestidor já disse que “exorciza” as criptomoedas porque são um investimento “sem fundamento”.

Em janeiro, as criptomoedas ensaiaram uma recuperação depois de hibernarem no longo “inverno cripto“.

O bitcoin (BTC) foi a que mais aproveitou a alta, com valorização de 41%.

O ether (ETH), a segunda maior das moedas digitais, subiu 32%.

Para Patrick Silveira, gerente de estratégia e operações da Bybit no Brasil, é natural que Barsi não recomende criptomoedas.

Isso porque os ativos digitais ainda não caíram no senso comum do investidor.

“Quando olhamos pelo prisma de investimentos tradicionais, os ativos digitais realmente não atendem a uma série de critérios do value investing, que para eles são importantes e a base das suas teses de investimento”.

O que a cartilha Barsi ensina sobre escolher ações?

A cartilha de Luiz Barsi é preferida entre analistas pelo fator de a escolha das ações, o que o bilionário e sua equipe chamam de ‘picks’.

Analistas costumam adotar alguns métodos de Barsi para recomendar as ações.

Um dos métodos favoritos dos agentes do mercado financeiro envolve o cálculo do preço sobre lucro (P/L) e do preço sobre valor patrimonial (P/VP).

O quociente do P/L mostra ao investidor se a ação que ele quer comprar está descontada em relação ao lucro da empresa que emite os papéis, nos últimos 12 meses.

Acontece que esse também é um método consistente de avaliar a segurança de um papel na B3.

Sidney Lima, da Top, afirma que quanto menor o resultado da divisão de preço sobre lucro, melhor. O especialista aponta um P/L menor do que 15 como interessante.

Já o preço sobre valor patrimonial, que também pode ser chamado de V/VPA, atinge um objetivo semelhante: saber se a ação está subvalorizada ou supervalorizada. Se o resultado da divisão for igual ou menor a um, o papel da companhia está descontado.

Algumas ações indicadas por Luiz Barsi pagaram bons dividendos em 2022 e continuam com preços atrativos:

  • Copel (CPLE6): dividend yield de 11,65%, P/L de 23,68, P/VP de 0,69
  • Taesa (TAEE4): dividend yield de 16,99%, P/L de 6,69, P/VP de 1,81
  • Santander (SANB3): dividend yield de 9,22%, P/L de 7,38, V/VP de 0,89
A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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