Sombra, água fresca e dinheiro no bolso: como viver de renda passiva na aposentadoria?

Saiba como ir além da aposentadoria oficial do INSS e conseguir obter um rendimento capaz de custear os prazeres da vida

Você é do tipo que sonha com poder parar de trabalhar e curtir um merecido descanso? Quer ter conforto, podendo viajar, comer em bons restaurantes e desfrutrar os prazeres da vida? Pois bem, a essa altura você já deve saber que apenas a aposentadoria oficial paga pelo governo não vai ser suficiente para bancar tudo. Mas como viver de renda passiva na aposentadoria? Onde investir para ter um rendimento legal no dia de pendurar as chuteiras?

Para responder essa pergunta, a Inteligência Financeira ouviu a educadora financeira Aline Soaper, fundadora do Instituto Soaper de Treinamentos de Desenvolvimento Pessoal e Profissional (Efinc); e Felipe Spritzer, fundador e CEO da Portfel, empresa de consultoria de investimentos do grupo Primo.

Como viver de renda passiva formando uma boa carteira de investimentos

Os especialistas recomendam, com diferentes composições, a formulação de carteiras com produtos que possam gerar uma rentabilidade futura.

“Além da aposentadoria tradicional, do INSS, é importante escolher uma previdência privada que tenha bons resultados de rentabilidade. Além disso, é possível montar uma carteira de investimentos com fundos imobiliários e ações”, exemplifica Aline Soaper.

Felipe Spritzer, por sua vez, defende a formulação de uma carteira equilibrada, que permita o comprometimento necessário para um projeto de aposentadoria.

“O melhor caminho para obter uma renda confiável na aposentadoria é equilibrar investimentos tanto na renda fixa quanto na renda variável, de modo que a carteira tenha um grau de risco adequado para cada pessoa”, diz o especialista. “Isso será importante para que ela se mantenha comprometida com a jornada de investimentos, que será longa.”

O CEO da Portfel argumenta ainda que é sempre bom ter em mente produtos que acompanham os principais índices da economia, como a Selic, o CDI e o IPCA.

“A sugestão é focar em uma carteira simples e com forte alocação nos principais índices de mercado, nacionais e internacionais. Isso uma vez que, como a comunidade científica vem nos mostrando há anos, uma abordagem em que a pessoa tenta ‘ganhar’ dos índices quase certamente irá gerar retornos muito piores”, defende.

Como se aposentar?

Primeiramente, vale você se informar sobre a aposentadoria oficial, paga pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). No aplicativo Meu INSS (Android/iOS) é possível simular as condições para a aposentadoria, prazos, documentos e os trâmites necessários.

Vale lembrar que atualmente o INSS tem um teto de pagamentos de R$ 7.507,49, sendo que as aposentadorias pagas em geral são valores bem menores. Por outro lado, o pagamento mínimo é de R$ 1.320,00 mensais.

De acordo com as regras da Reforma da Previdência, vigora uma idade mínima de aposentadoria de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres. É necessário ainda ter um tempo mínimo de contribuição de 15 anos.

Agora, para se aposentar no sentido de poder parar de trabalhar você não precisa necessariamente ter alcançado esses critérios. Em tese, desde que você consiga uma renda passiva que seja capaz de arcar com os seus custos mensais você está livre para dar adeus ao escritório e migrar para a praia. E é sobre isso que falaremos na sequência.

Como viver de renda passiva na aposentadoria?

Começemos pelo conceito de renda passiva é o recurso que você obtém que não te demanda tempo ou esforço. Assim, é o recurso que você já investiu ao longo da vida com o que obteve pela sua renda ativa e que agora é o dinheiro que está trabalhando para você.

Há diversas maneiras de se obter um rendimento desse tipo. Vamos detalhar as mais comuns abaixo, listar prós e contras e os cuidados que você pode ter para montar uma carteira adequada aos seus objetivos.

Previdência privada

“A previdência privada é uma ferramenta bem interessante para quem quer se aposentar, mas demanda cuidado”, alerta Felipe Spritzer. O principal risco é deixar de se considerar o histórico de retornos do produto considerado e avaliar se as taxas cobradas para a manutenção desse fundo de previdência não são excessivas.

“Além disso, costuma não haver um planejamento tributário adequado, fazendo com que a escolha entre PGBL e VGBL, que são as suas formas de previdência privada, não seja a melhor possível”, prossegue o CEO da Portfel.

A principal diferença entre os dois é que no caso do VGBL cobra-se o imposto apenas sobre a rentabilidade, enquanto no PGBL a dedução ocorre sobre o total arrecadado. Por outro lado, no PGBL é possível deduzir o aporte feito na declaração anual de imposto de renda. Entenda as diferenças e qual é a melhor opção para você nesta reportagem da Inteligência Financeira.

Os especialistas ouvidos pela reportagem orientam que o interessado busque um profissional independente, que não seja representante da instituição que está oferecendo o produto em questão, em busca uma opinião idônea sobre a conveniência do investimento.

Como viver de renda passiva com Tesouro Direto

Os títulos públicos são uma opção comum de investimentos no Brasil para diversas finalidades. O Tesouro Selic, por exemplo, é uma das formas mais comuns de constituição de reserva de emergência indicadas pelos especialistas.

O Tesouro Nacional tem se esforçado em elaborar novas formas de investimento com o objetivo de atrair mais investidores para a modalidade. Neste ano foi o lançado o Tesouro RendA+, que é voltado justamente para engordar a aposentadoria no futuro.

“O Tesouro RendA+ é uma opção muito interessante, porque paga um rendimento mensal corrigido pela inflação durante vinte anos, com aporte inicial mínimo na casa dos R$ 30”, explica Felipe Spritzer. A correção pela inflação evita que o aposentado perca o poder de compra, ainda mais considerando que o Brasil já teve ao longo da sua história diversos momentos de disparada nos preços.

Há nesse caso também uma ponderação. O produto visa o investidor que de fato quer aguardar o fim do prazo e receber o retorno ao longo dos 240 meses. Caso seja necessário resgatar antecipadamente o total, o investidor terá que lidar com a marcação a mercado e, portanto, corre o risco de perder dinheiro.

Imóveis e fundos imobiliários

De acordo com Aline Soaper, o investimento em fundos imobiliários é uma das principais formas de se obter renda para a aposentadoria. O investimento em FIIs, especialmente os chamados fundos de tijolo, tem a característica de pagamento recorrente de dividendos oriundos dos aluguéis dos imóveis possuídos pelo fundo.

Há também a forma tradicional de investimento em imóveis, sendo diretamente proprietário de casas e apartamentos e embolsa os aluguéis pagos pelos inquilinos.

A educadora financeira afirma que se trata de uma boa opção, mas pondera que “é preciso levar em consideração que exige mais trabalho na administração dos imóveis e considerar que se o imóvel ficar vago por um longo período ele gera despesa com taxas e manutenção”.

Investimento em ações

Uma opção muito citada no planejamento de renda passiva é o aporte em ações de empresas listadas na bolsa de valores. Não com o objetivo de compra e venda no curto prazo, o chamado day trade. Mas, sim, com o objetivo de receber os dividendos, a parcela do lucro de uma empresa que é repartido entre os seus acionistas.

A estratégia é popularizada no país pelo megainvestidor Luiz Barsi, conhecido como o “rei dos dividendos”, e pela filha dele, Louise Barsi. No vídeo abaixo, Louise detalha, em entrevista à Inteligência Financeira, como funciona a sua estratégia de investir em ações no longo prazo para obter retorno com dividendos.

Por outro lado, Felipe Spritzer argumenta que também há possíveis riscos em optar em ações diante do dilema de como viver de renda passiva na aposentadoria. “A estratégia dificulta a capacidade de planejar seus gastos, porque não sabemos quanto cada empresa ou fundo imobiliário irá pagar em dividendos no futuro”