Ritmo de corte da Selic pode aumentar se Fed adiantar queda nos juros, diz CIO do Itaú

Nicholas McCarthy explica que BC não deve aumentar o ritmo de corte da Selic a não ser que Fed antecipe queda nos juros dos Estados Unidos

A alta recente do Ibovespa após a Super Quarta deixou claro que as decisões do Federal Reserve importam para o mercado brasileiro. Na avaliação de Nicholas McCarthy, chefe de investimentos do Itaú, a abertura de espaço do Banco Central do Brasil para aumentar o ritmo de corte da Selic vai depender dos próximos passos do Fed. Se o órgão norte-americano antecipar quedas nos juros por lá, o BC pode ampliar a frequência atual de 0,50 ponto percentual de baixa por aqui.

“Se juros americanos caírem antes do esperado porque a inflação por lá cair mais rápido, acreditamos que existe espaço para acelerar o corte de juros aqui no Brasil”, afirmou McCarthy.

Em linhas gerais, o time de estratégia de investimentos do Itaú está otimista com o cenário para a economia brasileira em 2024. Na análise de McCarthy e Gina Baccelli, economista-chefe da equipe, o ritmo de crescimento da economia deve se sustentar pelo consumo, mas o cumprimento do arcabouço fiscal permanece como desafio.

Com cortes da Selic, Itaú escolhe um ativo da renda fixa; veja qual

O Itaú, neste momento, tem indicação de investimento pelos títulos da renda fixa ligados à inflação. Isso porque, com a sinalização do Copom (Comitê de Política Monetária) de cortes da Selic pelas próximas reuniões, a renda fixa atrelada à Selic e ao CDI deve perder força.

Por outro lado, a inflação, apesar de estar em queda, deve se manter acima da meta do Banco Central de 3% para 2024. “Temos uma desinflação gradual em curso”, diz McCarthy. “Existe a expectativa de que a inflação se estabilize em um patamar mais baixo, mas ainda acima da meta (do BC)”, completa.

No momento, o Itaú recomenda principalmente o investimento em títulos do Tesouro IPCA+ com prazo para 2035. São conhecidos no mercado como os NTNB-35. A preferência dos ativos atrelados à inflação, sobretudo os de maior prazo, correspondem a 10% da carteira indicada pelo banco aos investidores de perfil moderado. Para os mais arrojados, a exposição varia entre 20% e 30%.

Em meio ao corte da Selic, o time de estratégia do Itaú também prefere os títulos IPCA+ sobre os prefixados. Para McCarthy, não existem informações suficientes “que justifiquem a alocação” no Tesouro prefixado. O ativo, com taxa contratada e prazo, ganha prêmio se a Selic terminal de 2024 ficar abaixo da projeção do mercado, de 9%.

Bolsa tem mais espaço para capital estrangeiro em 2024, diz CIO

Em novembro, houve a entrada de R$ 22 bilhões de capital externo na B3, o que ajudou o Ibovespa a engatar um rali de fim de ano. Para o time de estratégia de investimentos do Itaú, o aumento de fluxo estrangeiro na bolsa deve se repetir em 2024.

“Vemos que a economia do país pode crescer mais e com menos inflação”, afirma Gina Baccelli. Para ela, o mercado de capitais do Brasil vem se desenvolvendo, especialmente no segmento de crédito privado. A cereja do bolo seria o corte da Selic contínuo pelo BC, uma aposta do banco para o ano que vem.

Nesse sentido, McCarthy “vê bastante espaço para a bolsa andar” em 2024.

Para o CIO do Itaú, por enquanto, os investidores estrangeiros da área de mercados emergentes vêm recomendando aplicações no Brasil, mas “não vemos tantas alocações quanto recomendações”.

“Existe a grande possibilidade de um nova entrada de investimento (estrangeiro) em janeiro ou mais para frente em 2024. É uma grande oportunidade”, diz McCarthy.

A equipe de estratégia de investimentos do banco tem posição neutra para a bolsa de valores brasileira. Na carteira do investidor moderado, a exposição ao mercado de renda variável é de 7%. O banco chegou a recomendar o aumento de exposição à bolsa neste ano, mas voltou atrás após o estouro da guerra em Israel.

Por outro lado, a exposição na carteira para fundos multimercado é o dobro, de 14%. McCarthy explica que, apesar do desempenho ruim em 2023, os fundos de hedge tendem a performar melhor sob um cenário volátil na renda variável e com cortes da Selic.

“Este ano foi uma anomalia. Mas a partir de novembro já vimos uma melhora para os fundos. Agora, eles devem encostar no CDI até o final do ano”, conclui o executivo do Itaú.