Para mercado, comunicado do Copom evita ‘solavanco’ na economia e beneficia renda variável

Para analistas, diretores do BC optaram por um tom ameno, afastando solavancos da economia, que poderiam vir com a sinalização de uma aceleração dos cortes nas próximas reuniões

Após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) cortar de forma unânime a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 12,25% para 11,75% ao ano, os representantes do mercado ressaltaram o tom do comunicado, que acompanhou a decisão. Segundo eles, os diretores do BC optaram por um tom ameno, afastando solavancos da economia, que poderiam vir com a sinalização de uma aceleração dos cortes.

Caio Megale, economista-chefe da XP, destaca que o comunicado é mais leve que o anterior, de novembro, mas um pouco mais duro que o que o mercado esperava.

“O Comitê está bastante convicto no plano de voo de cortes de 50 pontos base”, afirma. Segundo ele, era uma expectativa da XP de que o BC iria manter o plural para as próximas projeções.

“Era muito aguardado parágrafo específico em que a autoridade monetária trata dos próximos passos e até havia uma leitura no mercado para o plural que vinha sendo utilizado desde as últimas reuniões. Muito se conversava mais cedo que, caso o BC tirasse esse plural, não seria lido como algo hawkish, como se ele fosse parar o ciclo de corte, mas algo dovish, que ele pudesse eventualmente acelerar”, afirma Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Não foi o caso. Ele manteve o plural de próximas reuniões fazendo com que assim entendêssemos que vamos começar o ano com duas reuniões, pelo menos, cortando mais 50 pontos”, destaca o especialista.

“Francamente, não acho uma solução ruim. Entendo que deva ser, inclusive, até mais saudável um processo de flexibilização monetária mais sereno, mais gradual do que com grande solavancos e, claro, isso tem desdobramentos muito positivos para ativos de risco de maneira geral”, observa o analista da Empiricus.

Confira o que disseram os agentes do mercado.

Órama

Para a economista da Órama, Eduarda Schmidt, o comunicado reforça a estimativa da casa de uma taxa terminal para a Selic de 9,50% a.a., com quatro cortes de 0,50 p.p. e um último de 0,25 p.p.

“No exterior, o recuo dos rendimentos dos juros de longo prazo em relação à última reunião foi reconhecido pelo Comitê, que indica uma melhora do cenário internacional desde então. Contudo, a resiliência dos indicadores econômicos americanos, que resultam na incerteza em relação à trajetória que será traçada pelo Fomc, ainda exige cautela”, afirma a especialista.

“No Brasil, a inflação vem apresentando um comportamento positivo nas últimas leituras, respondendo à segunda fase do processo de desinflação conforme esperado, com arrefecimento principalmente no preço dos serviços e da inflação subjacente. Esse movimento é uma peça essencial para o afrouxamento da política monetária.”

Segundo Eduarda, as expectativas de inflação apresentadas no Boletim Focus, ainda desancoradas, seguem sendo uma trava para a aceleração do ritmo dos cortes.

“A resiliência da economia, em especial do mercado de trabalho brasileiro, que apresentou recentemente uma elevação da massa salarial, também contribui para esse cenário”, diz.

“Vale destacarmos”, observa, “que o crescimento dos rendimentos reais, se mantiver o ritmo de alta, pode gerar uma pressão inflacionária nos serviços, e, eventualmente, pressionar os preços do setor, que vem apresentando uma trajetória benigna”.

Suno Research

Para Vinicius Romano, que lidera a área de renda fixa da Suno Research, o impacto da decisão para os ativos de renda fixa brasileiros, no âmbito de alocação entre os três tipos de remuneração (pós-fixados, prefixados e indexados à inflação), “nos faz entender que, apesar do ciclo de queda, o patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados.”, afirma.

Segundo ele, isso acontece porque “praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros”, observa.

No caso dos títulos indexados à inflação, os NTN-Bs, “entendemos que os papéis com vencimentos no médio e longo prazo ainda proporcionam um carrego interessante aos investidores, com um juro real próximo de, na média, 5,75% ao ano, sem risco de crédito, tratando-se de títulos públicos”.

Para os prefixados, a visão do especialista é de que existem boas opções, principalmente os CDBs com duração um pouco mais curta, aproximadamente de 3 anos.

Matriz Capital

Vinícius Moura, economista e sócio da Matriz Capital, destaca que com as decisões conjuntas do Copom e do Fed, que nesta quarta manteve a taxa de juros dos Estados Unidos no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, a expectativa é de que o Ibovespa deva se beneficiar.

“E, nesse cenário, se mantida essa questão da redução da taxa de juros no plural, as empresas mais alavancadas devem se beneficiar um pouco mais com uma redução das suas dívidas”, afirma.

André Perfeito

Para o economista André Perfeito, a decisão de reduzir a taxa de juros em ambas as reuniões reforça a busca do BC pela estabilidade de preços e o estímulo à atividade econômica, adaptando-se à conjuntura desafiadora global e às metas de inflação.

“A continuidade do processo de desinflação é reafirmada nos dois comunicados, indicando consistência na avaliação da inflação”, afirma Perfeito.

Segundo ele, a percepção sobre o mercado de trabalho permanece inalterada, com destaque para a atenção aos desenvolvimentos globais.

O que é a taxa Selic?

Selic é a sigla para “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”. É a taxa básica e, mais importante do que isso, é ela que baliza todo o mercado financeiro. Portanto, o investidor dificilmente vai encontrar juros menores do que ela.

A Selic também é um bom termômetro para os investimentos. Então, um papel que pague abaixo da taxa de juros merece ser trocado por outro que pague pelo menos a mesma coisa. A Selic é definida pelo Banco Central (BC), que sobe esta taxa todas as vezes que precisa controlar a inflação.

O que é o Copom, que define taxa Selic?

A Selic não nasce de geração espontânea, do nada. Ela é definida por um colegiado que se reúne a cada 45 dias e que decide se vai aumentar ou reduzir a taxa. Este grupo de pessoas avalia dados macroeconômicos, como o desempenho da atividade econômica, olha para as contas públicas, vê o desempenho da inflação, estuda a quantas anda o câmbio.

Tudo isso olhando sempre para a conjuntura internacional, uma vez que o investidor estrangeiro tem grande relevância para Brasil, bem como nossas exportações e importações.

O nome que se dá a este grupo é Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que pertence à estrutura do BC.

Este grupo é composto pelos chefes do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento Econômico (Depec), Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), Departamento das Reservas Internacionais (Depin) e Departamento de Assuntos Internacionais (Derin).

Os encontros do Copom acontecem durante dois dias seguidos (terça e quarta-feira), a cada 45 dias. A ata com a decisão é divulgada na terça-feira, uma semana depois do primeiro dia da reunião. É nela onde estão os detalhes da decisão, com uma sinalização do que deve acontecer no próximo encontro.