Roberto Valério, CEO da Cogna (COGN3): ‘Empresa está saudável e com margens de lucro crescentes’

Em entrevista à Inteligência Financeira, presidente do maior grupo de educação do país defende estratégia de negócio e afirma que preço da ação não reflete momento da empresa

Roberto Valério, CEO da Cogna (COGN3), vê de forma ponderada o desempenho da empresa na bolsa de valores em 2024. O maior grupo de educação do país tem o pior desempenho da bolsa quando comparado aos seus pares do setor de educação. Desde o início do ano até o fechamento de terça-feira (21), a ação da Cogna acumula perdas de quase 39% contra a queda de 3,98% do Ibovespa, principal índice de ações da bolsa.

Valério defende que previsão de geração de caixa da empresa para 2024, após investimentos previstos para o ano, é de R$ 1 bilhão, vindo de um ano em que fez quase R$ 900 milhões. “Empresa está saudável e com margens de lucro crescentes”, disse, em entrevista à Inteligência Financeira. Ele participou da Itau BBA CEO Conference, em Nova York.

Ações de educação: momento difícil

As ações do setor de educação brilharam na bolsa no ano passado. Entre as maiores altas do Ibovespa, Cogna e Yduqs (YDUQ3) mais que dobaram de valor em 2023, com suas ações registrando altas de 64,62% e 123,19, respectivamente.

Este ano, no entanto, as ações de educação sofrem na bolsa, como mostra a tabela.

EmpresaTickerGanho/Perda acumulado(a) no ano
CognaCOGN3-38,99%
YduqsYDUQ3-35,38%
Ser EducacionalSEER3-35,15%
Cruzeiro do Sul EducacionalCSED3-13,40%
Bahema BAHI3-7,04%
AnimaANIM3-6,71%
IbovespaIBOV-3,98%
Retorno acumulado para o período de 1 de janeiro de 2024 a 21 de janeiro de 2024. Fonte: B3

Cogna (COGN3) vai se recuperar?

Este ano, no entanto, as ações de educação sofrem na bolsa, como mostra a tabela. Diante do quadro, a pergunta que fica é: a ação da Cogna (COGN3) vai se recuperar? Veja o que dizem analistas.

Valério, entretanto, afirma que setor de educação tem ciclos mais longos em relação a outros setores da economia. E que que preço da ação não reflete momento da empresa.

“Vale a pena investir na ação da Cogna. Em educação, as jornadas são mais longas (do lançamento do produto ao impacto no resultado do negócio). No longo prazo, vamos gerar muito valor”, diz.

Segundo ele, a Cogna é uma empresa de educação diversificada, que vende para estudantes, escolas e governos e tem crescido nas suas três unidades de negócios (Ensino Superior, Sistemas de Ensino e Vendas ao Governo).

Marketing agressivo

Nas linhas de custo, que impactam negativamente o resultado, as despesas de marketing são as principais detratoras do balanço. Aqui, a principal despesa, que Valério vê como investimento, é no negócio de ensino superior. O foco é a marca mãe, a Anhanguera, que é nacional. “Tem ainda muita oportunidade de crescimento”, diz o CEO.

Segundo ele, o número de matrículas cresce há três anos. “A gente cresce de 1% a 2% ano contra ano, com pequenas eficiências”, conta. Uma destas pequenas eficiências é antecipar o processo seletivo. Uma etapa que começa na internet, onde a Cogna investe a quase totalidade dos seus recursos de marketing.

“Monitoramos a busca orgânica no Google como um indicador de awareness e relevância de marca. Na apresentação de resultado (aos analistas), coloquei um slide em que mostrei que as buscas orgânicas pela marca Anhanguera neste trimestre (1T24) foram o dobro do que todas as outras marcas, na média. Então, o recall de marca é importante, especialmente no longo prazo.”, diz Valério.

No primeiro trimestre do ano, as despesas de marketing da Kroton, unidade de negócios que reúne as faculdades, tiveram aumento de 96%, ano contra ano, para R$ 115 milhões.

Retenção e inadimplência

Além do foco na construção da marca e em atrair e matricular o alunos antes das concorrentes, Valério diz que monitora os níveis de retenção e inadimplência. São variáveis críticas para o negócio de ensino.

Além de sofrer os impactos da pandemia, apresentando recordes de evasão e inadimplência, segundo relatório da Genial Investimentos, a última grande safra dos alunos financiados pelo FIES, programa do governo federal de financiamento estudantil, se formaram em 2020. Isto reduziu a receita pela queda do ticket médio.

Na retenção, alguns fatores contribuem para a permanência do aluno. “Um deles é fazer uma boa captação”, conta.

Neste sentido, o trabalho da Cogna é garantir que o aluno fez a matrícula, leu e entendeu o contrato com a (escola/universidade) e está engajado nas atividades. “Acompanhamos o engajamento) por meio do aplicativo e no ambiente virtual de ensino”, diz o CEO.

Segundo Valério, um fator que determinante para a permanência do aluno é a primeira prova.

“Se ele faz a primeira prova significa que está confiante, está aprendendo e, portanto, comparece. Os dados mostram que o aluno que não falta na primeira prova do semestre, tem maior probabilidade de concluir o semestre. Nós acompanhamos isso por meio de tecnologia.”

‘Case’ do setor

Com relação à inadimplência, Valério afirma que a Kroton é o melhor “case” do setor.

“Começamos um processo de reestruturação (em 2020) para acompanhar engajamento (do aluno) e a capacidade de pagamento dele. Nosso ‘contas a receber’ é menos de 40 dias e já foi mais de 140 dias há três anos.”

O resumo da conversa, que você pode conferir com mais detalhes no vídeo acima, é que a Cogna está focada na geração de caixa com uma agenda forte de gestão de passivos.

Neste último tema, ponto de atenção é a redução da dívida líquida. Com isso, segundo o CEO da Cogna, os resultados virão nos próximos trimestres.