O que esperar do Ibovespa agora com a taxa Selic a 10,75%?

Novidade na decisão do Copom foi a sinalização de apenas mais uma corte de 0,50 ponto percentual

Como esperado, o Copom confirmou na quarta-feira (20) a queda da Selic de 11,25% para 10,75% – menor patamar desde fevereiro de 2022.

Assim, entre os destaques do comunicado sobre a decisão, o comitê de política monetária deixou de sinalizar o que pretende fazer nas próximas duas reuniões para garantir apenas mais um corte de 0,50 ponto percentual.

Logo, a taxa básica de juros do país deve cair para 10,25% na reunião de maio.

Mas o colegiado pretende reduzir o passo e quanto mais o afrouxamento pode ser prolongado? As dúvidas a partir do encontro girarão em torno de tal ponto.

Próximos passos

“A retirada do plural indica decisão reunião a reunião”, avalia Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter. “Nesse sentido, pode-se ler o comunicado com um tom um pouco mais hawkish“, aponta.

Mesmo com o tom mais duro, a economista sustenta a visão de que o Copom vai manter o ritmo. Isto pelo menos até o encontro de junho, para então colocar o pé no freio. Em suma, mais dois cortes de 0,50 ponto percentual e quedas de 0,25 ponto percentual no segundo semestre.

“O comitê, portanto, parece ter adotado o meio termo, indicando a magnitude de corte apenas para a reunião subsequente e deixando em aberto os passos seguintes, a depender da evolução do cenário”, reitera Rafael Vitória.

Maior flexibilidade

Para Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa, a justificativa para o Copom não se comprometer com mais reduções, como fez ao longo das últimas reuniões, é que a incerteza do cenário aumentou.

“(Isso) exige maior cautela na condução da política monetária, ensejando por maior flexibilidade e menos rigidez no compromisso atribuído ao ritmo” afirma Sanchez.

“Não faria sentido que a autoridade buscasse graus de liberdade para a reunião de 19 de junho (de 0 a -50 bps) se tivesse ampla clareza de que o juro deveria continuar caindo com tamanha antecedência”, acrescenta o economista.

“Como o BC afirmou que não tivemos alterações substancialmente e ainda assim buscou ganhar graus de liberdade, é natural imaginar que a taxa terminal deverá ficar acima do que se precifica no Boletim Focus atualmente (9,0%)”, completa.

Impacto no Ibovespa

Na esteira do avanço da queda da Selic, o Julius Baer manteve a visão positiva para as ações brasileiras. Apesar do desempenho negativo do Ibovespa em 2024, o banco suíço ainda aposta na recuperação nos próximos meses.

“Vários argumentos otimistas permanecem em vigor, inclusive como uma sólida recuperação dos lucros das empresas em 2024, perspectivas robustas de crescimento econômico, avaliações em mínimas históricas, um ciclo de flexibilização global e um dólar americano mais fraco”, elenca Nenad Dinic, estrategista de ações do Julius Baer.

Oportunidades e riscos

Contudo, o estrategista faz uma divisão de empresas e setores que podem evoluir melhor ou puir. Dinic menciona principalmente riscos governamentais e regulatórios. Em outras palavras, interferências da gestão Lula, como no caso dos dividendos extraordinários não distribuídos da Petrobras.

Adicionalmente, o especialista do Julius Baer lembra que o rumo dos juros nos Estados Unidos, com o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) dependente de dados. Além disso, afirmou que o Fed continuará a ter um forte impacto no desempenho do mercado de ações brasileiro.

“Na frente local, os riscos regulamentares e de governança avultam especialmente para as empresas públicas e para os setores sujeitos a um forte escrutínio regulamentar, como os serviços públicos (dada a renovação das concessões aos distribuidores de eletricidade), a educação e os cuidados de saúde”, lista Nenad Dinic.

“Por outro lado, setores como a alimentação e bebidas, o agronegócio e as telecomunicações podem permanecer em grande parte isolados destas mudanças”, acrescenta.

Positivo para a bolsa

Em relatório assinado por Fernando Ferreira, Jennie Li e Júlia Aquino, a XP analisa os ciclos de corte de juros nos últimos 20 anos no Brasil para ter uma estimativa de quanto a bolsa pode valorizar.

“Juros mais baixos tendem a ser positivos para empresas e ativos de risco de forma geral. Afinal, significa que o custo de capital para as empresas fica mais barato, ou seja, que a empresa tende a pagar menos para financiar suas atividades”, explica a equipe de ações da plataforma.

“Ao mesmo tempo, ciclos de corte de juros também reduzem a taxa de desconto utilizada pelos analistas do mercado para avaliar uma empresa, aumentando seu valor justo (que é de onde vem o preço-alvo de uma ação)”, prossegue o time.

Na sequência do documento, os profissionais da XP apontam as três principais conclusões do estudo:

  • Nos seis ciclos de queda da Selic durante o período analisado, o Ibovespa teve valorização em todos eles, uma média de 38%;
  • Na média, para cada 1 ponto percentual de corte na taxa Selic, o Ibovespa valorizou 5,5%;
  • Para cada 1 p.p. de queda da Selic, em pontos, o Ibovespa valorizou em média 1.700 em pontos.

Visão otimista

“É claro que a taxa Selic não é a única — ou a mais importante — determinante dos rumos para o índice Ibovespa. Recentemente, o macro global tem ganhado bastante relevância, afetando ações brasileiras principalmente pela saída do capital estrangeiro no ano de 2024”, ponderam os especialistas.

Por último, Fernando Ferreira, Jennie Li e Júlia Aquino destacam por que a XP mantém uma visão positiva para a bolsa brasileira.

“O retorno dos fluxos de capital. Vemos que o investidor estrangeiro continua com uma visão otimista em relação ao Brasil, conforme as últimas rodadas de reuniões que tivemos com gestores globais. Enquanto isso, os investidores domésticos estão gradualmente voltando a comprar bolsa nesse ano”, apontam.

“O valuation do Ibovespa continua muito descontado comparando com a média histórica e seus pares globais. E o ciclo de corte de juros ainda tem espaço para continuar, com o nosso time de Economia projetando a taxa terminal em 9,0%”, finalizam.