Ibovespa em 2024: investidor institucional pode ser gatilho de nova alta da bolsa

Gestores veem maior apetite de fundos e entidades de previdência pelo Ibovespa em 2024, mas juros altos ainda garantem conforto; entenda

O Ibovespa decolou no final de 2023, com atribuição ao investidor estrangeiro, mas um dos gatilhos para a disparada do índice em 2024 pode ser a entrada do investidor institucional. A avaliação entre gestores ouvidos pela Inteligência Financeira é de que a postura dos fundos e institutos de previdência em relação à renda variável pode ter mudado com o rali de final de ano.

Gestores comentam, contudo, que a entrada do investidor institucional pode levar o Ibovespa à atingir as principais previsões do mercado para 2024, atingindo assim 140 mil pontos. Mas o sentimento que predomina é o de cautela. Até porque, com juros altos, os principais fundos não precisam se preocupar com as metas.

Por que o investidor local não entrou no Ibovespa?

O final do ano contou com a presença dos investidores estrangeiros, que alocaram cerca de R$ 35 bilhões nos últimos dois meses de 2023. Mas dados mostram que o investidor local, o institucional, não compareceu no rali de final de ano, quando a bolsa saltou 18,6%.

Fundos de pensão e de investimentos aguardam mais sinais de alívio no mercado local para o retorno ao Ibovespa em 2024.

É um público que, segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), vem fugindo da renda variável e alocando mais em renda fixa ou investimentos privados. Dados da associação apontam que, em 2023, o investidor institucional retirou R$ 6,4 bilhões de fundos de ações. Já para os fundos multimercado, o saque foi de R$ 28,3 bilhões.

Em contrapartida, houve injeção de R$ 21,9 bilhões nos fundos de investimento em renda fixa e R$ 14,9 bilhões em Previdência.

Na gestora Tarpon, se confirma a percepção de que o investidor local “está mais vendido” no Ibovespa.

“O movimento da pessoa física e do varejo é mais pró-cíclico, enquanto vemos os fundos de pensão apontando para a venda de bolsa”, afirma Rafael Maisonnave, gestor do fundo Tarpon GT.

A Tarpon chama a atenção para quanto a bolsa perde sem a entrada dos fundos de previdência. Gestoras de pensão de estatais, como Previ, Petros e Funcef, têm uma carteira de ativos de R$ 1,1 trilhão de acordo com o último dado consolidado da Abrapp (Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Complementar).

Desse montante, R$ 134 milhões, ou 11,7%, estão alocados em ações ou fundos de renda variável. A maioria esmagadora dos ativos geridos, cerca de R$ 920 bilhões ou 80,5%, está na renda fixa.

Gestoras conversam com investidor local, mas juros barra ânimo

Maisonnave afirma que a água no chope do institucional na bolsa de valores tem sido os juros reais. A maioria dos fundos tem uma meta atuarial mínima de rendimento. Assim, a concentração em renda fixa busca o rendimento sobre a inflação, e a solução é o Tesouro IPCA+ ou NTN-B.

A NTN-B com vencimento menor do que cinco anos paga um yield de 5,6%, enquanto o título com prazos maiores paga em média 5,4% além da inflação. É uma diferença que está acima da meta atuarial dos fundos, diz Maisonnave.

“O investidor institucional ainda está olhando um momento de queda de juros que não refletiu no longo prazo. Em geral, a meta atuarial de inflação mais 3,5% a 4%”.

Mas gestores revelam que o mercado institucional vem manifestando interesse em investir novamente no Ibovespa em 2024. Na Trígono Capital, por exemplo, representantes dos fundos de pensão como Previ e Petros, assim como a TAG Investimentos, manifestaram interesse no investimentos em small caps.

Homem observa ações da Bolsa de Valores de São Paulo
Painel mostra desempenho do mercado de ações na B3, a bolsa brasileira – Foto: Daniel Texeira/Estadão Conteúdo

Werner Roger, sócio e diretor de investimentos da Trígono, afirma que os fundos de pensão “não têm dúvidas de que existe oportunidades em small caps porque estão baratas”. A expectativa do gestor é de que o institucional deve investir “uma parte parte em ações e uma outra parte em fundos, como ETFs”, diz Roger.

Outro fator que impede a entrada do investidor institucional do Ibovespa em 2024 é o histórico. Em 2023, investidores sacaram R$ 128 bilhões de fundos, e os agentes estão preocupados em preservar os cotistas que ficaram. Esta é a avaliação de João Luiz Braga, fundador da Encore Asset.

Ele revela que diretores de instituições financeiras estão “com apetite” para a renda variável, mas que os juros e o resgate de recursos é imperativo. “Juros são a gravidade dos ativos, mas o fato é que, por exemplo, os fundos de ações tomaram resgates. Esses fundos estão com pouco dinheiro para alocar”, explica.

Ibovespa subiu com estrangeiro; 2024 é ano do institucional?

O Ibovespa subiu com aporte estrangeiro nos últimos meses de 2023, mas gestores tem uma visão mais mista para 2024. “O gringo já voltou à bolsa”, diz Roger.

“E quando o institucional vai voltar? Ainda está bom na renda fixa, talvez não seja nesse primeiro momento. Também não sentimos apetite, por enquanto, do investidor pessoa física”, completa.

A Tarpon também avalia que o institucional deve demorar para entrar no Ibovespa neste ano. As condições traçadas pela gestora para a volta dos fundos de pensão à bolsa, por exemplo, é a melhora da situação fiscal do Brasil, assim como cortes de juros por aqui e nos Estados Unidos.

“Qual é o gatilho para o institucional voltar para o Ibovespa em 2024? Talvez uma ata do Copom (BC) mais otimista.”

Werner Roger, sócio e diretor de investimentos da Trígono Capital

“Caso o fiscal tenha sustentabilidade e os juros americanos cedam, isso fará com que a Selic recue. Assim, esses três fatores devem fazer a NTN-B ter uma realização, o que vai estimular esses alocadores a voltarem para a bolsa”, diz Maisonnave, da Tarpon. Mas o prazo da virada de chave é indefinido.

Mesmo assim, gestores veem a entrada do mercado local no Ibovespa como parte de uma nova alta em 2024. Braga explica que “há um espaço grande” de recuperação do índice. “Vai ser junto com a entrada do investidor institucional na bolsa de valores”, afirma. O avanço, contudo, não precisa vir do fôlego dos fundos.

“Acho que o varejo e a pessoa física também podem ser relevantes para a alta do Ibovespa, porque será o primeiro ciclo positivo após o financial deepening

João Luiz Braga, fundador da Encore Asset

De acordo com Gianlucca Galdi, gestor da Panamby Capital, “a entrada do investidor local pode ajudar o índice”.

Ele destaca que gestores vendidos no Ibovespa apostam em uma alta de 10% no ano, o que é pouco “pensando na perspectiva de juros abaixo de dois dígitos”.

“O estrangeiro deve funcionar como um gatilho para a entrada do investidor local. Nesse sentido, deve sobrar investimentos em setores da bolsa esquecidos, como varejo e saúde”, conclui.