Ata do Copom e IPCA-15 esquentam discussão sobre queda da Selic; Haddad e Campos Neto ficam frente a frente

Na cena externa, novos indicadores começam a esclarecer se o Federal Reserve (Fed) pode voltar a subir os juros nos Estados Unidos

A falta de compromisso do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) com a queda da Selic esfriou o rali na bolsa brasileira e requentou o debate sobre o que precisa acontecer para os juros começarem a cair no país.

Ainda que tenha descartado a chance de retomar o aperto, o recado do Copom foi de que “irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

“O comitê avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”, diz trecho do documento.

Mas o comunicado não agradou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que classificou o texto como “muito ruim”. Haddad disse que há avanços na economia brasileira que permitiriam sinalizar um corte.

Agora, com a discussão renovada, a semana reserva um encontro frente a frente entre o ministro da Fazenda e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Juntos com a ministra do Planejamento, Simone Tebet, eles se reúnem na próxima quinta-feira (29) no Conselho Monetário Nacional (CMN).

Na pauta: a definição das metas de inflação (IPCA) dos próximos três anos.

Atualmente, as taxas estimadas são de 3,25% para 2023 e de 3% para 2024 – com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Olho no IPCA-15 de junho

Antes, tanto a equipe econômica do governo (lê-se Haddad e Tebet) quanto a autoridade monetária (Campos Neto) estarão munidas de novos dados econômicos para sustentarem suas avaliações – e expectativas.

O BC divulga na terça-feira (27), às 8h, a ata da última reunião do Copom. Se o comunicado não trouxe qualquer menção à queda da Selic, a ata pode esclarecer se o colegiado chegou a discutir a possibilidade de cortes dos juros e porque a sinalização ficou de fora.

No mesmo dia, às 9h, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulga o IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de maio. A inflação tem desacelerado e o mercado, conforme o Boletim Focus, se aproxima de projetar uma taxa abaixo de 5% no fim de 2023. Um novo relatório sai nesta segunda-feira (26), às 8h25.

O corte nos preços dos combustíveis, a queda consistente do dólar para o patamar de R$ 4,80 e o programa de descontos para carros devem derrubar o IPCA-15 de junho. Há prognósticos, inclusive, de deflação para o mês.

Só que o Copom tem olhado para o horizonte e avalia que os preços devem voltar a subir no segundo semestre. O colegiado ainda quer ter a certeza de que as expectativas estão ancoradas. O Focus tem mostrado um recuo lento, com a previsão para o fim de 2024 na faixa de 4%.

Por que acompanhar a reunião do CMN?

Então aí que o encontro desta semana do Conselho Monetário Nacional (CMN) ganha importância. Na prática, pela composição de dois representantes contra um, o governo define quais serão as metas e a autoridade monetária tem a missão de adotar as medidas necessárias para alcançá-las.

Até a quinta-feira, quando ocorre a reunião, espera-se uma série de novas declarações do presidente Lula, de ministros, políticos e empresários contra a manutenção dos juros em 13,75%.

A divulgação da ata quebra o período de silêncio e libera Campos Neto e os demais diretores do Banco Central de também darem seus esclarecimentos em entrevistas ou eventos.

Para o compromisso do CMN em si, a expectativa é de que Haddad e Tebet indiquem a manutenção da meta de inflação em 3%, mas estabeleçam ajustes na forma de persegui-la. De ano-calendário à frente para meta contínua, olhando o acumulado em 12 meses o tempo todo.

Ou seja, o BC ganharia fôlego para buscar a taxa estabelecida – e não mais já no encerramento de 2024.

Analistas do mercado, conforme relatórios divulgados após a decisão do Copom, consideram que pode ser o elemento que falta para o início do ciclo de cortes dos juros. O cálculo é de que isso ajude a puxar as projeções de inflação futuras para baixo (a famosa ancoragem das expectativas) e daria o conforto que o BC quer para a redução da Selic.

Cenário internacional

Na semana que passou, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), Jerome Powell, reiterou que há espaço para mais duas altas do juros em 2023. Powell explicou que tudo vai depender de como a economia do país vai se comportar, principalmente a inflação e o mercado de trabalho.

Por isso, os mercados globais tendem a se manter voláteis até que os novos dados econômicos tragam mais clareza sobre os próximos passos da política monetária norte-americana. Para esta semana, mais especificamente na sexta-feira, o índice de preços de gastos com consumo (PCE) de maio é o destaque.

O PCE é um dos indicadores preferidos do Fed para monitorar a variação dos preços e a evolução de como a população está gastando o dinheiro.

Um cenário em que o Fed não retome o aperto é positivo para o Brasil e pode favorecer a valorização do real frente ao dólar. Além, claro, de elevar o apetite dos investidores por ativos de risco.

Assim, se o vento soprar a favor, o Ibovespa pode mirar a sua máxima histórica de 131.200 pontos, atingida em junho de 2021.

Agenda da semana de 26 a 30 de junho

Segunda-feira (26)

08h – Sondagem do Consumidor (FGV Ibre) de junho
8h25 – Boletim Focus do Bancos Central
14h30 – Discurso de Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE)

Terça-feira (27)

08h – Ata do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central)
08h – Sondagem da Construção (FGV Ibre) de junho
09h – IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15) de junho

Quarta-feira (28)

08h – Sondagem da Indústria (FGV Ibre) de junho
09h30 – Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) de maio
10h30 – Discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano)

Quinta-feira (29)

08h – Sondagem de Serviços (FGV Ibre) de junho
08h – Sondagem do Comércio (FGV Ibre) de junho
08h – IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) de junho
Sem horário – Reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN)

Sexta-feira (30)

06h – Índice de preços ao consumidor (CPI) da zona do euro de junho
09h – PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal) de maio
09h30 – Índice de preços de gastos com consumo (PCE) dos Estados Unidos de maio
10h15 – Indicador de Incerteza da Economia Brasil (FGV Ibre) de junho

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