BC mantém Selic em 13,75% ao ano pela 7ª vez seguida e evita sinalizar queda

Em tom mais duro do que esperado, Copom pode ter jogado expectativas de corte na Selic para daqui a duas reuniões do colegiado, em setembro

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) resistiu novamente às pressões do governo e de empresários ao manter nesta quarta-feira (21) a taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano. Esta é a sétima manutenção consecutiva dos juros no atual patamar.

No comunicado, apesar de deixar de fazer referência a uma chance de retomada de alta na taxa Selic, como era encontrado em textos anteriores, os técnicos do BC não sinalizaram claramente uma queda para a próxima reunião, em agosto.

A decisão, mais uma vez foi por unanimidade, mantendo o juro real do Brasil no maior patamar do mundo, de 9,44% ao ano, considerando o IPCA, índice oficial de inflação, de 3,94% no acumulado em 12 meses.

Roberto Campos Neto. Foto: Raphael Ribeiro/BCB

O ranking tem o México na segunda posição, com juros reais de 5,15%, Rússia em terceiro, com 4,88%, Chile em quarto (2,34%) e África do Sul em quinto (1,38).

Comunicado tem tom duro no final

Em um comunicado mais inclinado para o tom pessimista do que o otimista, o Comitê deixou de fazer referência a uma chance de retomada de alta na Selic. Ao mesmo tempo que fez questão de não sinalizar uma queda na próxima reunião.

Em seu trecho mais duro, os técnico do BC dizem que irão perseverar na manutenção da taxa “até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.

O texto afirma que a conjuntura econômica atual “demanda paciência e serenidade na condução da política monetária”. Os técnicos do BC enumeram o que chamam de “os passos futuros da política monetária”, que segundo eles “dependerão da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Projeções apontam para queda em 2023

Apesar do tom mais duro do que o esperado, as projeções do mercado financeiro têm apontando para uma queda na taxa Selic de 0,25% a 0,50% até o final do ano.

Na semana passada, o CEO do Itaú-BBA, Flávio Souza, afirmou que o banco espera que a taxa de juros encerre o ano ao redor de 12,50% ao ano. Já o último boletim Focus, que traz as apostas dos principais economistas do mercado financeiro, apontou a taxa de juros em 13,25% em dezembro de 2023.

Até lá, ainda restam quatro reuniões do Copom, entre os dias 1º e 2 de agosto, 19 e 20 de setembro, 31 de outubro e 1º de novembro, 12 e 13 de dezembro.

Decisão da taxa Selic era esperada

A manutenção da taxa de juros, que está em seu maior nível desde janeiro de 2017, era amplamente aguardada pelos representantes do mercado financeiro, que não acreditavam em uma manobra considerada brusca da atual gestão, liderada pelo economista Roberto Campos Neto.

Geralmente, o início de um novo ciclo por parte da autoridade monetária, seja ele de corte, seja de alta, é precedido por um comunicado prévio, geralmente emitido na reunião anterior do colegiado. 

Inflação em queda impacta taxa

No último Boletim Focus, a projeção de inflação para 2023 era de 5,12%, quase 1 ponto porcentual abaixo da expectativa para o IPCA da reunião anterior, em maio de 2023.

Mesmo assim, a inflação esperada para o ano ainda está bastante acima do teto da meta de 4,75%, o que aponta para três anos seguidos de descumprimento pelo BC de seu mandato principal, após 2021 e 2022.

Para 2024, a previsão de mercado agora está em 4% (0,18% menos que em maio), o que já supera o centro da meta de 3,00% do BC, mas mantêm o comportamento dos preços dentro do limite máximo de tolerância, estipulado em 4,50% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O que é a taxa Selic?

Selic é a sigla para “Sistema Especial de Liquidação e de Custódia”. É a taxa básica e, mais importante do que isso, é ela que baliza todo o mercado financeiro. Portanto, o investidor dificilmente vai encontrar juros menores do que ela.

A Selic também é um bom termômetro para os investimentos. Então, um papel que pague abaixo da taxa de juros merece ser trocado por outro que pague pelo menos a mesma coisa. A Selic é definida pelo Banco Central (BC), que sobe esta taxa todas as vezes que precisa controlar a inflação.

O que é o Copom, que define taxa Selic?

A Selic não nasce de geração espontânea, do nada. Ela é definida por um colegiado que se reúne a cada 45 dias e que decide se vai aumentar ou reduzir a taxa. Este grupo de pessoas avalia dados macroeconômicos, como o desempenho da atividade econômica, olha para as contas públicas, vê o desempenho da inflação, estuda a quantas anda o câmbio. Tudo isso olhando sempre para a conjuntura internacional, uma vez que o investidor estrangeiro tem grande relevância para Brasil, bem como nossas exportações e importações.

O nome que se dá a este grupo é Comitê de Política Monetária (Copom), órgão que pertence à estrutura do BC. Este grupo é composto pelos chefes do Departamento de Operações Bancárias e de Sistema de Pagamentos (Deban), Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab), Departamento Econômico (Depec), Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep), Departamento das Reservas Internacionais (Depin) e Departamento de Assuntos Internacionais (Derin).

Os encontros do Copom acontecem durante dois dias seguidos (terça e quarta-feira), a cada 45 dias. A ata com a decisão é divulgada na terça-feira, uma semana depois do primeiro dia da reunião. É nela onde estão os detalhes da decisão, com uma sinalização do que deve acontecer no próximo encontro.

Por que a decisão do Copom mexe com os investimentos?

Dependendo da definição tomada para a Selic, a renda fixa pode ficar mais atrativa (no caso de os juros subirem), ou a renda variável pode sair ganhando (em caso de queda da Selic).

As decisões do Comitê influenciam toda a renda fixa, como Tesouro Selic, CDB, LCI e LCA.