IPCA, CPI, Fed, Copom, Selic e uma supersemana pela frente na agenda econômica

Dados de inflação e decisões de juros podem levar Ibovespa à máxima histórica ainda em 2023

Sabe o meme “Que semana, hein”/”Capitão, é quarta-feira”? Pois é, o famoso diálogo entre Capitão Haddock e Tintin (ver abaixo) bem que poderia ser o título do nosso calendário econômico.

Isso porque os próximos dias estão repletos de indicadores e decisões que vão mexer nos mercados globais imediatamente e influenciarão as estratégias dos agentes financeiros para 2024.

Primeiro, a inflação

Obviamente que a ‘Super Quarta’ é o destaque do calendário econômico. Mas os dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos irão anteceder o tradicional dia de anúncios de política monetária aqui e lá.

O IBGE abre a agenda na terça (12), às 9h, com a divulgação do IPCA de novembro. Logo depois, às 10h30, vem o CPI (índice de preços aos consumidor, na sigla em inglês) americano.

Na cena doméstica, a inflação caminha para fechar 2023 dentro do teto da meta (abaixo de 4,75%). Mais do que o índice geral, os analistas ficarão de olho mais uma vez nos números relacionados aos serviços.

O motivo é que os mais recentes dados do mercado de trabalho e o PIB do terceiro trimestre mostraram que os salários estão aumentando e o consumo das famílias acelerou.

Assim, a variação dos preços nesse recorte tende a embasar análises sobre riscos inflacionários. Em linhas gerais: se o processo de desinflação continua, convergindo à meta de 3% a partir de 2024, ou se podemos ver pela frente um novo pico do IPCA.

Já na economia americana o foco deve ser na evolução do núcleo do CPI, que exclui itens voláteis, como alimentos e energia. Como no Brasil, o emprego e a atividade nos EUA têm dado sinais de resiliência.

Vale destacar que a meta de inflação lá é de 2%. O índice geral fechou outubro em 3,2% no acumulado em 12 meses, enquanto o núcleo ficou em 4% na leitura anual.

Selic a 11,75%

Passando então para a Super Quarta, o Copom deve anunciar por volta das 18h30 um novo corte de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, para 11,75%. Será o quarto corte seguido, que derrubará os juros no Brasil para o menor nível desde maio de 2022.

O consenso do mercado até aqui é de que o comitê sinalizará uma redução da mesma magnitude na primeira reunião de 2024, prevista para 30 e 31 de janeiro. Então, estará no radar se o colegiado vai manter a mensagem ou trará algo de diferente.

Caso o IPCA na véspera traga uma dinâmica benigna, crescerá a aposta de que o Copom pode acelerar o ritmo de cortes a partir da segunda reunião do ano que vem. Mas mais do que essa indicação, os números mostrarão se a Selic pode cair abaixo de 10% ainda no primeiro semestre.

A avaliação do colegiado sobre os riscos fiscais por parte do governo Lula também é um capítulo que interessa o mercado. O nível de preocupação do Banco Central com a capacidade de a administração federal fechar as contas públicas no azul reflete nas expectativas de inflação.

“Em suma, projetamos crescimento econômico mais fraco, inflação mais baixa e câmbio relativamente estável nos próximos meses, o que deve permitir ao Banco Central reduzir a taxa básica de juros”, diz a XP em relatório.

“No entanto, as incertezas fiscais permanecem elevadas e podem limitar o espaço para afrouxamento monetário no próximo ano. A pressão política pode aumentar, causando alguma volatilidade no mercado. Mas não projetamos uma deterioração nos fundamentos econômicos ou nos preços dos ativos financeiros”, acrescenta no documento a plataforma de investimentos.

Fed cortará juros quando?

Adiantamos a reunião do Copom aqui no nosso calendário econômico. Contudo, mais cedo na Super Quarta, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) informa a nova taxa de juros nos EUA.

Tudo indica que não haverá surpresas, com ela sendo mantida no intervalo de 5,25% a 5,50%.

Por isso, como de costume, os agentes financeiros estarão esperando mesmo pela coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, que sempre começa meia-hora depois do anúncio oficial.

Powell (fazendo aqui um exame de futurologia) irá reiterar que a economia tem se mostrado forte, que o emprego tem indicado um ponto de equilíbrio e que ele e seus colegas de Fed vão perseverar na missão de levar a inflação à meta de 2%.

Agora, o grau de conforto versus de preocupação do chefe da autoridade monetária com os dados da economia americana é que vai dar o tom nos mercados globais.

Explicando: um tom duro de Powell sinalizará que os juros não vão cair antes do primeiro semestre de 2024. Por outro lado, uma fala mais branda aumentará a expectativa de que o primeiro corte pode vir lá em março do ano que vem.

“Acreditamos que o Fed não voltará a subir os juros. Apesar da correção parcial dos juros dos títulos do Tesouro com vencimentos longos no último mês, as condições financeiras estão mais restritivas hoje. Além disso, os dados de inflação e atividade mostraram desaceleração recentemente. Portanto, acreditamos que a barra para aumentos adicionais está ficando cada vez mais alta, embora isso não possa ser descartado”, diz a XP em relatório.

“Em 2024, a pergunta muda de ‘quão alto’ para ‘por quanto tempo’. Não esperamos cortes de juros muito cedo, e a política monetária deve permanecer restritiva ao longo do próximo ano. À medida que a inflação continuar cedendo, esperamos que o Fed comece a cortar as taxas de juros gradualmente, a partir do terceiro trimestre de 2024, encerrando o ano no patamar de 4,5%”, completa o documento da plataforma de investimentos.

O diálogo entre Capitão Haddock e Tintin, do cartunista Hergé, que sempre viraliza nas redes sociais em semanas repletas de fatos importantes. Imagem: Reprodução

E o recorde do Ibovespa?

Bom, para encerrar a nossa agenda da semana, o índice de referência da bolsa brasileira tem rondado em suas máximas em 2023, no patamar de 127 mil pontos. A missão de agora até o pregão de 29 de dezembro é buscar o recorde de 131 mil pontos, alcançado em junho de 2021.

Se não superar a marca ainda este ano, provavelmente o Ibovespa caminhará para níveis inéditos ao longo de 2024. E aqui eu trago a visão de Victor Natal, estrategista de ações para pessoa física do Itaú BBA.

“O fim do ano se aproxima e nada mais justo do que analisarmos o cenário para 2024. Mesmo com o equilíbrio fiscal sendo ainda uma pedra no sapato, o caminho para o mercado de ações parece ter ficado menos tortuoso do que estava até outubro. A perspectiva de uma Selic mais baixa, aliada ao provável fim do ciclo de alta dos juros nos Estados Unidos, devem trazer impulso à bolsa brasileira em meio à expectativa de melhora da atividade econômica mais à frente”, escreve Natal na carta de dezembro do gestor.

“Com juros mais baixos, poderemos ver uma migração dos investimentos em renda fixa para ações, além da retomada da presença do investidor estrangeiro na bolsa. Nesse contexto, as ações de crescimento, aquelas de empresas que operam predominantemente em ambiente nacional, devem apresentar melhor desempenho impulsionadas pelo juro mais baixo, que estimula a atividade econômica e reduz gastos com serviço da dívida”, prossegue.

O estrategista considera que, com isso, há perspectiva de melhora de lucros, o que já pode ser visto pela revisão de projeções de resultados para 2024 para as empresas domésticas.

“Já as ações de valor – de companhias consolidadas e líderes em seus mercados – podem servir como porta de entrada para o estrangeiro voltar a alocar capital no Brasil. Por terem maior liquidez, esse tipo de ação costuma ser alvo prioritário para investidores internacionais. Além disso, devem servir como porto seguro caso a trajetória fiscal do país se deteriore”, explica.

“E como isso se traduz em números? Projetamos um preço-alvo do Ibovespa em 145 mil pontos para 2024″, completa o especialista do Itaú BBA.

Calendário econômico – 11 a 15 de dezembro

Segunda (11)

08h25: Boletim Focus (Banco Central)

Terça (12)

Início da reunião do Copom (Banco Central)
Início da reunião do FOMC nos EUA (Federal Reserve)
09h00: IPCA/Taxa de inflação de novembro (IBGE)
10h30: CPI/Taxa de inflação de novembro nos EUA

Quarta (13)

09h00: Desempenho do setor de serviços em outubro (IBGE)
16h00: Decisão de política monetária nos EUA
16h30: Coletiva de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve
18h30: Anúncio da nova taxa Selic/Comunicado do Copom

Quinta (14)

09h00: Desempenho do varejo em outubro (IBGE)
10h15: Decisão de política monetária na zona do euro (Banco Central Europeu)

Sexta (15)

09h00: IBC-Br/Índice de atividade econômica de outubro (Banco Central)*

*Divulgações econômicas do Banco Central podem ser adiadas, em razão da operação padrão do servidores