O que é o preço-alvo de uma ação e como ele é calculado?

Especialistas levam em conta vários fatores em busca de uma árdua tarefa: descobrir o preço justo de um papel

Se você quer entender o funcionamento da bolsa de valores e como são tomadas as decisões um conceito importante é o de preço-alvo de uma ação. É um critério utilizado para justificar decisões de compra ou venda de papéis no mercado, como forma de realizar lucros e evitar prejuízos futuros.

Mas afinal, o que é o preço-alvo e como ele é calculcado?

Para responder a essa pergunta, conversamos com Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos; Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research; e Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da Sara Invest.

O que é o preço-alvo de uma ação?

Nas palavras de Gabriel Mota, da Manchester, “preço-alvo nada mais é do que o preço justo que o analista entende que aquela ação vale”.

Em outras palavras, é como se fizesse a avaliação de quanto um produto vale para analisar se o preço ao qual ele está sendo vendido atualmente está caro ou barato.

Se uma ação está sendo negociada abaixo do preço-alvo, ela está barata e tem potencial de valorização. Por outro lado, se está acima do preço-alvo, ela está super valorizada e pode cair no futuro para refletir o que a empresa de fato vale.

“É o preço que o mercado deveria atribuir àquela ação, caso todos os investidores fossem 100% racionais e fiéis aos fundamentos da empresa“, completa Larissa Quaresma, da Empiricus.

Marco Saravalle, da Sara Invest, traz a comparação para um caso do dia a dia. “Você sabe que seu apartamento vale R$ 1 milhão. Se o vizinho de baixo vender o dele por R$ 500 mil esse pode ter sido o preço atual, mas não vai mudar que você sabe que o valor do imóvel em si é R$ 1 milhão.”

Como calcular o preço-alvo de uma ação?

De acordo com Larissa Quaresma, há dois métodos principais: o Fluxo de Caixa Descontado (FCD) e a análise relativa.

“No fluxo de caixa descontado, o preço-alvo será a soma dos fluxos de caixa futuros da empresa, descontados a valor presente e a uma taxa apropriada”, explica a analista. Portanto, você projeta os prováveis números futuros da empresa e desconta as perspectivas econômicas para entender quanto isso significa para o presente da companhia.

Já na análise relativa, explica Larissa Quaresma, a comparação é feita colocando lado a lado o resultado de determinada companhia com empresas do mesmo setor.

“Na avaliação relativa, o múltiplo da empresa é comparado com aqueles dos seus pares. Por exemplo, assumindo que a ação passasse a negociar ao múltiplo P/L [preço por lucro] médio dos seus pares, chega-se a um determinado preço justo”, afirma.

O que mais impacta o preço-alvo de uma ação

No modelo FCD, o que mais pesa, explica Larissa Quaresma, são as premissas de crescimento e rentabilidade futura da empresa.

Por outro lado, na análise relativa, o que mais pesa é saber qual deveria ser o desconto (ou o prêmio) da empresa em comparação com o setor. Ou seja, o quanto ela está melhor ou pior posicionada que seus concorrentes.

Para Gabriel Mota, os analistas fazem diversas considerações sobre as condições do setor e da economia no país. No entanto, no final do dia, o resultado que a empresa apresentar será o que mais vai pesar.

“Podemos ter um cenário depreciado, como por exemplo no Brasil, mas se a empresa conseguir se reinventar e trazer números positivos para aquele cenário ela vai se destacar”, explica.

Marco Saravalle avalia que, em sua opinião, o que mais pesa para definir o preço-alvo é “saber o quanto esse ativo vai gerar em valor para o acionista ao longo do tempo”. Portanto, as projeções para fatores como a geração de dividendos esperada.

‘Não é uma ciência exata’

Como vimos acima, o preço-alvo seria o preço que equivale ao valor real de uma empresa. Uma conta excluindo os impactos da compra e venda de ações motivadas por fatores emocionais ou especulação, por exemplo.

No entanto, o pulo do gato é que cada analista pode chegar a uma conclusão diferente do que é esse valor real, ainda que se sigam alguns critérios comuns, como os citados acima. “O modelo econômico não é uma ciência exata”, resume Gabriel Mota.

Isso acontece porque há uma boa dose de subjetividade, com a possibilidade de cada analista atribuir um peso e uma extensão a um determinado fator.

“Por exemplo, empresas de varejo são prejudicadas por taxas de juros altas, mas um analista pode considerar que tal empresa vai se prejudicar mais do que o outro acredita”, prossegue o operador de renda variável da Manchester Investimentos.

Na prática: preço-alvo de VALE3 e ARZZ3

Larissa Quaresma cita o caso das ações da Arezzo (ARZZ3). Hoje cotados a cerca de R$ 61, os papéis da empresa tem um preço-alvo na faixa de R$ 100, de acordo com a analista da Empiricus Research.

Em entrevista à Inteligência Financeira, ela explica porque a projeção feita é de um valor tão acima da cotação atual.

Pelas contas, projeta-se um crescimento de cerca de 20% do lucro ao ano pelos próximos 5 anos com uma taxa de desconto que é o custo de capital do acionista, de 14% ao ano. “Uma premissa conservadora”, completa.

“Assumimos um crescimento na perpetuidade de 5%, que corresponde a uma inflação de 3% com um ganho real de 2% ao ano”, diz a especialista.

Por outro lado, Gabriel Mota cita o exemplo de Vale (VALE3). A Manchester Investimentos é vinculada à XP, que trabalha com um preço-alvo de R$ 73 para as ações da mineradora. Nesta quarta-feira (22), a empresa fechou o dia cotada a R$ 74,71, uma queda de R$ 3,06 (ou 4,09%).

De acordo com a projeção da XP, portanto, a expectativa é que a Vale ainda tenha um valor de mercado um pouco menor que esse. Por outro lado, há pouco tempo, quando as ações estavam na casa de R$ 60 e a corretora já trabalhava com o atual preço-alvo, a expectativa era de que os papéis se valorizassem.

“O mercado como um todo precificava que os riscos econômicos da China poderiam impactar mais a Vale. Para a XP, as premissas para o crescimento da economia chinesa, as condições macroeconômicas da China, falaram que essas ações valiam R$ 73”, exemplifica.

E o que eu faço com essa informação?

A lógica é mais simples que parece. Se acredita-se que o preço-alvo justo seja acima do que o valor atualmente negociado, esse pode ser um sinal para você comprar essa ação. Do contrário, para vender. “Olhar quando a ação está abaixo sugere compra, enquanto quando ela está acima sugere venda ou realização de um lucro”.

No entanto, é importante lembrar que as condições de mercado podem se alterar e, embora exista um esforço grande para prevê-las, não se trata de uma ciência exata. Cada analista chega a um número, mas há ainda o “consenso do mercado”, que reflete o preço-alvo médio entre as diferentes avaliações.