Quais ações do agronegócio vale a pena ter na carteira?

SLC Agrícola (SLCE3), BrasilAgro (AGRO3), 3Tentos (TTEN3), entre outras; veja quais as melhores ações do agronegócio para se investir

O agronegócio surpreendeu o mercado no primeiro trimestre deste ano, com um crescimento de 28% no PIB do começo do ano. O setor, contudo, ainda não é representativo da bolsa de valores e vale a pena ser analisado mais a fundo por investidores. Esta é a avaliação de analistas ouvidos pela Inteligência Financeira que justificaria investir em ações do agronegócio.

O mercado enxerga oportunidades no setor, com perspectiva de expansão de capital das principais empresas do setor. Por outro lado, existem ações do agronegócio que estão mais baratas do que outras e podem representar menos risco dentro de um setor que costuma sofrer com volatilidade alta devido às condições climáticas, como o El Niño. Até 2024, numa visão de longo prazo, analistas preferem empresas que focam em diversificação.

Por que investir em ações do agronegócio?

O agronegócio é um dos principais setores da economia brasileira, representando 8% do PIB de acordo com o IBGE. Apesar de ser expressivo na produção brasileira, o setor ainda é mais tímido na bolsa de acordo com analistas. O que também apresenta oportunidades para investir no agronegócio.

Para Johny Nicolas, analista de commodities na gestora Esh Capital, a diferença do peso do agronegócio PIB e na bolsa tende a diminuir cada vez mais. Se, por um lado, o setor é considerado volátil e possui efeitos sazonais, por outro existe a percepção de que as ações do agronegócio tendem a movimentar um volume maior através de capital privado.

“Historicamente quando temos setores pouco expressivos em bolsa, mas que demonstram crescimento constante e são pouco cobertos pelo mercado, existe tendência exponencial de crescimento”, afirmou Johny.

Afinal, é um setor que “está em constante crescimento e racionalização”, aponta Nicholas Kawasaki, estrategista-chefe de private equity da Nova Futura.

Para ele, as ações de agronegócio também não constam o suficiente nos “morning calls” do mercado. “Vale a pena para o investidor pessoa física ficar de olho no setor de lavoura. Porque, quanto mais profissionais cobrindo as ações, maiores as chances de evolução e valorização dos papéis”, afirma Kawasaki.

Mesmo sob volatilidade, o investidor pode montar posições de longo prazo com ações do agronegócio, aponta o especialista.

Vem aí uma safra recorde? Como isso afeta as ações do agro?

Refletindo o desempenho surpreendente do agronegócio, o Levantamento de Produção Agrícola (LSPA) do IBGE de setembro indica que a expectativa da safra de grãos, como milho e soja, tende a ser 20% maior em 2023 do que em 2022.

Ou seja, o relatório prevê que o agronegócio deve atingir mais uma safra recorde, principalmente de milho e soja, as duas principais commodities do setor.

A perspectiva de safra da soja, principal commodity do segmento, para 2023, é 26,5% superior à de 2022, com produção de 151 milhões de toneladas até o final do ano. Já para o milho, a previsão é de uma lavoura recorde de 131 milhões de toneladas, ou 19% a mais que no ano passado.

Contudo, o efeito da safra recorde para investir no agronegócio é misto. Empresas como SLC Agrícola tiveram impacto negativo em resultados porque “a oferta com a super safra de 2022 foi significativa” e reduziu margens, diz Gabriel Boente, analista da Varos Research.

Quais ações do agronegócio valem a pena ter na carteira?

Analistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam que a tese de investir no agronegócio está em empresas com potencial de valorização. Ou seja, que mostram resiliência a fatores cíclicos e comuns na lavoura, como chuvas e fenômenos climáticos como o El Niño.

BrasilAgro (AGRO3)

Para o longo prazo, Kawasaki, da Nova Futura, recomenda ter na carteira o papel ordinário (AGRO3) de BrasilAgro.

O principal argumento do estrategista de mercado é de que a companhia vem distribuindo proventos “interessantes” desde 2021, algo que deve continuar por 2024. Recentemente, a BrasilAgro anunciou dividendos de R$ 320 milhões, o equivalente a R$ 3,21 por ação ON.

“Ainda acredito em continuação da política de proventos, mas não no mesmo nível de 2022”, afirma Kawasaki.

Além de surfar na alta da soja e da cana-de-açúcar por meio das lavouras, outro ponto forte da empresa é a receita oriunda da administração de fazendas. Isso ajuda a BrasilAgro diminuir o risco de sofrer aperto nas margens, aponta Sergio Neto, analista da Capitalizo.

SLC Agrícola (SLCE3)

Outra favorita entre ações do agronegócio brasileiro é o ativo ON da SLC Agrícola (SLCE3). A empresa participa do plantio e cultivo de algodão, milho e soja.

Para os analistas, a ação da SLC está descontada na bolsa, com múltiplo de dez vezes de preço sobre lucro (P/L). Ou seja, o lucro dividido pela quantidade de papéis no mercado.

Conforme a explicação de Boente, as ações de SLC estão baratas porque “a percepção é de que o milho vai continuar em baixa”, afetando a empresa. Mas a companhia vai trocar boa parte da produção de milho por algodão, o que, na minha opinião, o mercado ainda não precificou.”

De fato, segundo apresentação da empresa do dia 24 de outubro, a SLC planeja aumentar em 16% a área plantada de algodão na safra de 2023 em relação a hectares cultivados em 2022. Por outro lado, a área plantada de milho deve diminuir em 25% na segunda safra do produto.

Além disso, Boente, da Varos, destaca que a SLC é campeã de produção, com uma safra de soja 38% acima da média mundial para o grão. “Em termos globais, a empresa consegue bater com outras concorrentes e é o ‘case’ do momento das commodities”.

O risco, aponta Sergio Neto, da Capitalizo, é de que a SLC Agrícola está mais exposta à volatilidade das commodities e, portanto, da flutuação do câmbio.

3 Tentos (TTEN3)

O papel de 3Tentos (TTEN3) também foi indicado por analistas como uma opção de investimentos entre ações do agronegócio. A companhia atua no segmento de revendas de produtos e no cultivo de soja para biodiesel.

Top pick da Esh Capital no setor, Johny Nicolas explica que a 3Tentos faz parte de uma tendência de mercado: a agro indústria.

“Mesmo com um crescimento menor da área plantada, a 3Tentos é uma oportunidade no setor, conseguindo mostrar avanço e estar mais competitiva que seus concorrentes”, afirma.

“A 3Tentos fez um bom trabalho em 2022. Com um bom plano de negócio, foco em regiões específicas e replicando estratégias logísticas que tinha no Rio Grande do Sul, ficou com balanço (financeiro) melhor para 2024”, diz o analista da Esh Capital.

A companhia, sobretudo, entregou o que prometeu no IPO, afirma Johny. E a dívida com os acionistas era a inauguração e operação da usina em Vera (MT). Recentemente, a planta obteve autorização da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para produzir biodiesel – a capacidade é de 1 milhão de litros por dia, informa a companhia

Na previsão da Esh, o EBITDA da 3Tentos deve crescer em 2024.

‘Trunfos’ da carteira de ações do agronegócio

O mercado seguiu um consenso ao escolher as ações de agronegócio, mas analistas divergiram sobre casos mais especiais de empresas do setor.

Para a Nicholas Kawasaki, a ação de Kepler Weber (KEPL3) também está barata. negociando em seis vezes o P/L. De acordo com o estrategista da Nova Futura, o papel pode avançar à medida em que mais produtores rurais sentem falta de estoques para safras. “A Kepler trabalha essa parte de armazenagem e maquinário para o agronegócio.”

Outra oportunidade está entre as small caps. Uma ação do agronegócio que pode se beneficiar com a expansão do mercado de etanol é a Jalles Machado (JALL3), na visão de Gabriel Boente.

O analista da Varos destaca que tem potencial de crescimento grande frente a concorrentes, como Raízen e São Martinho. “A Jalles está barata na carteira de small caps. E começou a pagar o que prometeu no IPO, tem duas usinas em Goianésia e são bem conservadores na hora de se alavancar”, afirma. “Mas é uma ação mais volátil”, conclui.

Outro setor mais fora do radar de mercado é o de insumos agrícolas e fertilizantes. A ação do agronegócio que pode surfar uma maré positiva com a onda de agroindústria é a Vittia (VITT3). “É um segmento que achamos interessante porque o produtor aumenta a efetividade com o uso de defensivos biológicos. Ele também reduz custos”, comenta Sergio Neto.

Qual a melhor ação do agronegócio em 12 meses?

Em 12 meses, a ação da São Martinho (SMTO3) foi a que performou melhor na bolsa de valores. O papel acumula valorização de 45% de acordo com dados do Estadão Broadcast.

No intervalo de 6 meses, contudo, o pódio fica com a ação ON de Kepler Weber, que subiu 47%.

Confira o desempenho das ações do agronegócio em 2023:

EmpresaTicker B3Retorno em 6 mesesRetorno em 2023Retorno em 12 meses
3TentosTTEN30,46%18,09%-10,21%
AgroGalaxyAGXY3-46,31%-62,14%-53,63%
Boa SafraSOJA313,78%20,02%-4,81%
BrasilAgroAGRO310,38%-10,98%-9,32%
Jalles MachadoJALL39,26%12,43%22,96%
Kepler WeberKELP347,23%10,93%-9,37%
Pomi FrutasFRTA3-9,52%-13,28%-34,89%
RaízenRAIZ413,97%0,56%-7,24%
São MartinhoSMTO316,91%38,41%45,39%
SLC AgrícolaSLCE3-5,00%-11,90%-7,81%
Terra SantaLAND3-36,30%-34,84%-37,32%
VittiaVITT3-15,37%-27,39%-33,80%
Fonte: Estadão Broadcast