Temporada de balanços: mercado aponta quem deve decolar no 3T22; confira

A expectativa é de que os resultados devam ser bons para o bolso do investidor

As próximas semanas serão agitadas aos investidores. Afinal, vem aí a temporada de balanços do terceiro trimestre (3T22) das 200 empresas negociadas na B3, a Bolsa de Valores brasileira.

O segundo trimestre de 2022 foi marcado pelo aumento dos juros e pela inflação, o que impactou o centro de custos das mais diversas companhias listadas. Então, os resultados de agora devem mostrar certo alívio? Os especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira apostam que sim, o que deve trazer bons resultados ao bolso do investidor no geral. Mas ressaltam que algumas categorias merecem um olhar mais cauteloso.

Boas perspectivas, mas com pé no freio

“É um período que já estamos evidenciando um arrefecimento nos custos das empresas, seguindo a tendência de desinflação. Será um bom trimestre para as empresas em geral, dado o cenário atual de fim de aperto monetário”, afirma João Daronco, analista da Suno Research.

A opinião é a mesma de Marcio Lorega, gerente de Research e Economia do PagBank PagSeguro. Contudo, ele ressalta três pontos merecem atenção de quem investe, principalmente na hora de escolher os setores para compor a carteira de investimentos. São eles: os juros disparados em diversos países (como Argentina, Venezuela, Chile, EUA, Canadá, por exemplo) para controle da inflação; a recente renúncia da primeira-ministra do Reino Unido; e o momento de recuperação de economia mundial.

Ele lembra também que “aqui no Brasil já tivemos o aumento de juros, mas alguns setores da Bolsa não sofreram todo o impacto disso ainda. Portanto, o que foi aumentado lá atrás, fazendo com que a Selic [a taxa básica de juros] atingisse 13,75%, pode ter efeito ainda neste ano e até em 2023”.

A temporada de balanços começou com divulgação da Sequoia (SEQL3), passará pelo segundo turno das eleições e se encerrará em 16 de novembro. A Camil (CAML3) é a única empresa a ir além da data prévia, com balanço do 3T22 marcado para dia 12 de janeiro.

Setores para decolar no 3T22

Construção civil

O mercado aposta que as companhias de construção civil terão grande destaque nesta temporada de balanços. O setor imobiliário ainda pode sentir os efeitos dos custos e da alta da Selic em uma visão mais macroeconômica. Contudo, as melhorias operacionais tendem a puxar os resultados do 3T22 para cima.

Lorega aponta a Cyrela (CYRE3) como a favorita da categoria. A divulgação do balanço da construtora acontece somente em 10 de novembro, mas a prévia de seu balanço – anunciada no dia 13 de outubro – foi considerada acima das expectativas do mercado. Isso porque as vendas líquidas somaram R$ 2,28 bilhões, o que equivale a um aumento de 67% em relação ao mesmo período do terceiro trimestre do ano anterior.

Commodities

De acordo com os especialistas, a maioria das empresas ligadas a commodities – isto é, matérias-primas como petróleo, soja, proteína animal, entre outras – devem seguir entregando bons resultados, com exceção de mineradoras.

Daronco destaca as companhias ligadas ao agronegócio para que investidores fiquem de olho – e animados. É o caso, por exemplo, de Brasil Agro (AGRO3) e Raízen (RAIZ4), que divulgam seus resultados em 8 de novembro e em 10 de novembro, respectivamente.

“Essas empresas se beneficiam do câmbio atual e têm produzido volumes interessantes. Além disso, temos o começo da plantação de soja, o que poderá impulsionar a venda de algumas empresas do setor listadas na Bolsa”, diz.

Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, segue a mesma linha de raciocínio. “Commodities devem continuar subindo e, portanto, com bons resultados, puxados principalmente pelo aumento de produção e vendas, com destaque para PRIO”. A PRIO (PRIO3), antes chamada de PetroRio, divulga seu balanço em 31 de outubro.

Bancos

O setor bancário é apontado, pelos especialistas, como outro grande destaque esperado para a temporada de balanços do 3T22.

Analista de investimentos do Andbank, Fernando Bresciani, diz que a expectativa é que as receitas líquidas dos bancos cresçam no período.

Se por um lado há um menor volume de aporte de investidores na categoria e um número de brasileiros inadimplentes (68 milhões) de espantar, por outro a alta dos juros por aqui privilegia os resultados dos bancos.

Lorega, do PagBank, tem a mesma opinião. Ele ressalta que o Banco do Brasil (BBAS3) deve ser o queridinho da vez. O banco divulgará seus resultados no dia 9 de novembro.

Mesmo que haja uma política de redução de juros a partir do presidente a ser eleito, ele acredita que o BB tem uma forte expansão em agronegócio, o que pode mantê-lo firme até mesmo no último trimestre deste ano.

Setores para “apertar os cintos” no 3T22

Varejo

No caso dos bancos, os juros lá em cima são uma oportunidade. Mas o mesmo não se pode dizer do varejo. Quanto mais altos os juros, menos estimulado é o consumo – o que impacta diretamente o setor. “Ainda devemos ter pressões do aumento dos juros no Brasil em cima do varejo”, segundo Bresciani.

Danielle, da Nord, concorda. “Na comparação anual, o varejo demonstra resultados mais positivos em 2022, com sinais de recuperação. Mas os balanços das varejistas ainda não devem ser dos melhores, porque ainda temos um cenário de juros mais altos e o consumo ainda não está nos níveis normalizados”, afirma.

Lorega, do PagBank, complementa, afirmando que as varejistas de imóveis, eletrodomésticos e materiais de construção devem ser os segmentos mais afetados e, portanto, com piores resultados. A inadimplência, puxada principalmente pelo cartão de crédito, também deve afetar negativamente o varejo de moda.

Contudo, o analista afirma que o PagBank mantém a confiança em bons resultados no varejo focado em e-commerce, como Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3).

Mineração

O balanço da Vale (VALE3) sairá no dia 27 de outubro, mas a companhia já soltou uma prévia operacional de seu balanço do 3T22, que “veio em linha com o esperado”, de acordo com Bresciani.

A produção de minério de ferro da Vale chegou a 89,7 milhões de toneladas entre julho e setembro deste ano. Ou seja, um crescimento de 21% em relação ao segundo trimestre. Já na comparação com o mesmo trimestre de 2021, o crescimento foi de 1%.

“Mas a expectativa para um setor como um todo é que os resultados venham abaixo do esperado”, comenta o analista do Andbank.

O mercado, então, aguarda balanços mais fracos para o setor, porque as mineradoras devem sofrer impactos da queda de preços de minério de ferro, níquel e cobre. Seria o caso também de CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3) e CBA (CBAV3) – em que as duas primeiras divulgam os balanços em 31 de outubro, enquanto CBA soltará os resultados no dia 8 de novembro.

Educação

O setor educacional ainda caminha a passos lentos, o que pode ter desdobramentos nos balanços do 3T22. Danielle diz que “há uma queda de receita dessas empresas, que ainda brigam para preencher todas as vagas de alunos e manter bons resultados”.

Ela afirma ainda que “mesmo tendo uma retomada aos poucos do mercado de educação, ainda há uma grande dificuldade da volta ao presencial, além dos altos custos”.

Análises clínicas

Outra categoria para que investidores fiquem atentos e não “apostem tantas fichas” é a de análises clínicas. Isso porque, de acordo com Danielle, “essas companhias estão enfrentando uma dificuldade de crescimento. Isso se dá, por exemplo, pela queda de exames de Covid-19, que antes garantiam altas margens de lucro”.

Como exemplo, ela cita Fleury (FLRY3) e Hermes Pardini (PARD3), que terão seus balanços anunciados em 3 de novembro, 10 de novembro, respectivamente.