Duelo IF: entre MRV (MRVE3) e Cury (CURY3), em qual ação investir?

Aumento do prazo de financiamento do Casa Verde e Amarela deve beneficiar ambas empresas

Por um motivo ou outro, investir em imóveis é uma tradição no Brasil e há várias formas de fazer isso. Uma delas é negociando ações de companhias da construção civil. Isso porque este é um setor tradicional por aqui e conta com várias empresas, que atendem públicos diferentes. Há algumas opções na faixa de baixa e média renda e, desta vez, o Duelo IF ajuda quem tem a dúvida: MRV (MRV3) ou Cury (CURY3)?

Momento do setor

Antes de analisar os fundamentos das duas empresas, é preciso olhar para o setor onde estão inseridas. Afinal, as duas companhias foram fortemente impactadas pelo aumento dos juros no Brasil.

Com a Selic a 13,75% ao ano, os empréstimos ficaram mais caros. Logo, comprar um apartamento se tornou uma tarefa mais difícil… Ainda mais para o público de baixa e média renda, para quem MRV e Cury vendem e alugam moradias. 

Outro ponto a ser levado em consideração é a inflação. Isso porque o avanço do aumento dos preços é fator de pressão para as empresas. Com o preço dos materiais de construção subindo, as margens das empresas são pressionadas. Assim, fica cada vez mais difícil não repassar o aumento de preços para o consumidor final, o que também impacta as vendas. 

Por último, é preciso analisar uma notícia positiva: no início de setembro, a Caixa passou a oferecer um novo prazo de financiamento para o programa Casa Verde Amarela. O limite passou de 30 anos para 35 anos. Com o financiamento mais flexível, mais pessoas têm acesso à compra de imóveis e as construtoras têm um alívio. As ações do setor subiram quando a notícia foi divulgada. 

Por que investir na MRV (MRVE3)?

Assim como a Cury, a MRV foca em construir empreendimentos para o público de baixa renda. Porém, a diversidade do portfólio da empresa é maior e pesa a favor da companhia.

“A diversificação operacional da MRV é grande e ela não depende somente do CVA. Outras subsidiárias trazem resiliência” para a companhia, segundo Victor Bueno, analista da Nord Research. 

Além da incorporadora MRV, o grupo ainda tem a Urba, de loteamento; a Luggo, com foco em condomínios para locação; e a Resia, que constrói e vende prédios residenciais para locação nos Estados Unidos.

O aperto monetário nos Estados Unidos deve estar só no começo, o que impacta os resultados da Resia, mas a subsidiária estadunidense é vista com bons olhos por investidores. 

Segundo a XP, “Os resultados (da MRV no 2T22) foram apoiados principalmente pelo desempenho da Resia”. No último trimestre, a receita operacional líquida da Resia foi de R$ 6,3 bilhões, valor muito superior aos R$ 1,7 bilhão registrado no primeiro trimestre de 2022. 

Ponto de atenção em MRVE3

Recentemente, a MRV chamou a atenção do mercado. Isso porque investidores estão de olho nos planos da MRV para a Resia desde que a empresa anunciou, no último dia 6, que suspendeu a capitalização da subsidiária norte-americana. Bancos de investimento se mostraram preocupados com a notícia, mas ainda estão otimistas com a ação da MRV, no geral. 

Por isso, o Credit Suisse reduziu o preço-alvo para o papel de R$ 16 para R$ 15, mas manteve a recomendação de compra.

Já o Bradesco BBI lamentou que a possibilidade de valuation da Resia tenha sido adiada, já que isto poderia destravar valor para a ação da MRV, mas também manteve recomendação de compra para MRVE3. 

Por que investir na Cury (CURY3)?

Se você está de olho na Cury, saiba que a diversificação não é um dos pontos fortes da companhia no embate com a MRV. Mas a empresa pode ser uma boa opção para quem pensa em investir em uma ação com grande potencial de valorização. Isso porque a empresa tem um campo de atuação menor, com foco nas capitais de São Paulo e Rio de Janeiro e Campinas, e pode se dar bem ao expandir seus negócios. 

“A Cury tem uma boa visibilidade para crescimento, ainda mais por causa das mudanças no Casa Verde e Amarela”, analisa Victor Bueno. 

Os últimos resultados da empresa geraram otimismo, mesmo em momento complicado para as construtoras: “me agradaram um pouco mais em relação à MRV”, diz Matheus Jaconelli, analista da Nova Futura Investimentos. Nos últimos três balanços divulgados, o lucro da MRV vem caindo, enquanto a Cury teve elevação no último trimestre do ano passado, queda no primeiro tri deste ano e crescimento novamente no segundo tri. 

Jaconelli ainda destaca o baixo endividamento da Cury como um dos fatores que trazem segurança ao investidor. No fechamento do dia 10 de outubro, a relação entre dívida líquida e Ebitda da empresa estava negativa em 0,51, o que mostra que se a empresa decidir quitar suas dívidas hoje ainda teria dinheiro em caixa. Na MRV, por outro lado, o indicador estava em 3,47 vezes. “Isso mostra que a Cury tem sustentabilidade, ainda que o custo de dívida esteja subindo”, diz Jaconelli. 

Com juros altos, as dívidas ficam mais caras e as empresas precisam queimar mais caixa para se livrar dos débitos. Ter baixo endividamento atrai investidores, ainda mais no setor de construção civil, que trabalha com projetos caros.

Ponto de atenção em CURY3

Por outro lado, alguns investidores não gostam de empresas com controle familiar. É o caso da Cury e isso pode gerar alguma restrição por parte do mercado, mas Bueno ameniza: “é uma empresa de 60 anos e tem a aliança com a Cyrela. O risco vem sendo diluído”. 

Precificação 

Contudo, os papéis da MRV estão mais baratos que o de sua concorrente, de acordo com os principais indicadores usados em valuation na construção civil.

O preço sobre patrimônio líquido (P/VP) de MRVE3 estava em 0,92 vez no fechamento de 10 de outubro, enquanto o mesmo indicador de CURY3 estava em 5,52 vezes. 

No preço sobre lucro, vantagem para MRVE3 novamente: 9,51 vezes contra 11,2 da concorrente. 

MRV ou Cury? 

Desta vez, cada analista convidado pela Inteligência Financeira para o Duelo IF escolheu uma empresa. Portanto, o resultado deste Duelo IF é o empate. 

Com isso, Victor Bueno prefere a MRV e diz que a companhia “é fora da curva em relação a qualquer outra companhia” do setor de construção civil” e ainda cita a relação entre crescimento e múltiplos da ação para justificar a preferência. 

Já para Matheus Jaconellli, a balança pesa a favor da Cury quando o endividamento é levado em consideração. “Entre Cury e MRV, vejo indicadores de Cury melhores para o momento, principalmente no que diz respeito a dívida e margem, que para o setor são muito importantes”.