Moeda única do Mercosul
O começo deste ano foi marcado por um tema um tanto quanto desconhecido pela maioria das pessoas: a moeda única do Mercosul.
O assunto ganhou destaque após o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli, ter afirmado que conversou com Fernando Haddad, atual ministro da Fazenda, sobre a moeda única sul-americana durante um encontro entre os dois.
Já mais recentemente, durante a cúpula de países sul-americanos promovida pelo Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi além, e sugeriu a adoção de uma moeda comum a todos na região, não somente aos países que fazem parte do Mercosul.
“A iniciativa visa criar uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extrarregionais. O que seria uma forma de aprofundar nossa identidade sul-americana também na área monetária”, afirma Lula.
Vale saber, no entanto, que a proposta do presidente não é trocar o real ou as moedas nacionais dos demais países, de uso corrente pela população, mas sim instituir uma apenas para pagamentos de importações e exportações.
Então, para acabar com as dúvidas, buscamos a ajuda de especialistas que explicaram tudo o que se sabe até o momento sobre o assunto.
O que é a moeda única do Mercosul?
De acordo com Ariane Benedito, economista especialista em mercado de capitais, até o presente momento, o projeto se trata em definir apenas uma moeda para as transações comerciais entre países membros da organização (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
Mas, para quê? Para que seja facilitado o pagamento, o comércio, as transferências financeiras e os negócios transacionados entre empresas e a população que estão dentro do Mercosul.
“Vale destacar que a abrangência do projeto de unificação vai além do comércio internacional. Mas não estão sendo cogitadas outras implantações da ferramenta, conforme afirmado em discurso do atual ministro, Fernando Haddad”, aponta Ariane.
Como funciona a moeda única?
O modelo de moeda única utilizado como exemplo para o Mercosul é o europeu.
Hoje, a moeda única europeia, que é o euro, serve, basicamente, como ferramenta de aproximação política e econômica entre os países.
“Com o euro é possível saber o real custo das transações monetárias entre os países membros do bloco. Visto que não há flutuação das taxas de câmbio. Além disso, os agentes econômicos dos países se relacionam de uma forma mais fácil”, afirma a economista.
Em contrapartida, é importante saber que a possível entrada de uma moeda única no Mercosul não significa o fim do real, ou das demais moedas dos outros países.
“A ideia é que todo mundo continue com a sua moeda. Mas que exista uma moeda única em que se tenha um banco central que fale por todos os participantes do projeto”, esclarece Alison Correia, CEO da Top Gain.
Quando foi criada a proposta de moeda única sul-americana?
Apesar de parecer um assunto recente, a discussão sobre a unificação da moeda começou lá em 1960, durante os acordos firmados entre os países membros da Associação Latino Americana de Livre Comércio. “Mas nunca passou de meras trocas de informação, pela complexidade de sua implementação, até hoje”, afirma Ariane.
Além disso, o mais próximo que se chegou de uma moeda única foi em 2008. Isto porque, naquela época foi criado o chamado Unasul (União de Nações Sul-Americanas).
O grupo era integrado pelos 12 países da América do Sul e tinha como intuito fortalecer as relações comerciais, culturais, sociais e políticas entre as nações.
Inclusive, naquele ano, Lula era o presidente do Brasil e foi o defensor de que, no futuro, fosse criado um banco central único, para assim, ter uma moeda única.
Porém, o projeto, como vimos, não foi para frente. Além disso, o Unasul perdeu força. Inclusive, em 2019, no início do governo de Jair Bolsonaro, o próprio Brasil saiu da organização.
Qual a diferença entre a moeda única e a moeda comum?
Por enquanto, esta resposta é um tanto quanto simples: a moeda única do Mercosul seria uma ferramenta monetária utilizada apenas para operações comerciais e de turismo entre os países que compõe o bloco.
Diferentemente da moeda comum, em que é possível realizar transações diversas que vão além das mencionadas.
Qual seria o impacto de um projeto destes para o Brasil?
“A unificação da moeda para transações comerciais e pagamentos seria o início da estratégia para acelerar o processo de integração regional. Constituindo um poderoso instrumento de coordenação política e econômica entre os países membros. A balança comercial do Brasil seria impactada positivamente pelos baixos custos das importações e exportações, criando vantagens frente aos seus pares”, afirma Ariane.
E Alison Correia acrescenta: “nós seriamos a maior potência em relação a parametrização de valor. Tanto pelas nossas reservas cambiais, como pela nossa situação financeira.”
E qual seria o impacto para os brasileiros?
Se o projeto se mantiver apenas na esfera comercial, o impacto é a facilitação neste tipo de transação no âmbito econômico sul-americanos, sem a necessidade do câmbio.
“Hoje em dia, a gente depende muito da valorização ou desvalorização do dólar em relação ao real para gerar receitas e despesas. Então, (com a moeda única do Mercosul) a gente teria uma maior previsibilidade e uma grande facilidade para fazer transações de forma interna. Desde que a gente não precise abrir mão do real. Que isso fique claro”, explica Correia.