Vale (VALE3), Gerdau (GGBR4) e CSN (CSNA3): o que analisar para investir em 2023

E vamos além: saiba se é possível antecipar o potencial de alta desses papéis

Quem investiu em mineração e siderurgia na bolsa neste final de 2022 – seja nas ações da Vale (VALE3), CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) ou outras do setor – tem registrado retornos interessantes. Enquanto o Ibovespa desanima os investidores, mineradoras e siderúrgicas não se abalam com o mau humor.

O setor foi responsável pelas cinco maiores altas do Ibovespa em novembro. A campeã em valorização foi a Gerdau (GGBR4), que subiu 31,75% no mês. Além dela, a CSN avançou 31,09% (CMIN3) e 28,34% (CSNA3). A Vale (VALE3) teve alta de 27,68%. A Metalúrgica Gerdau (GOAU4) fecha o top five, com alta de 26,26%.

A expectativa para as siderúrgicas e mineradoras segue alta para 2023. Analistas falam sobre o que esperar e como o investidor pode tentar antever os movimentos dessas empresas na Bolsa de Valores.

Minério de ferro

Antes de tudo, é preciso separar as atividades de siderurgia e mineração, diz Patrick Conrad, analista de commodities da Western Asset.

Ações da Vale, CSN Mineração e Usiminas, empresas que atuam nas duas frentes, são mais impactadas pelo preço do minério de ferro.

“Grande parte da geração de caixa vem do minério de ferro”, explica Conrad. E o preço dessa commodity está relacionado principalmente à demanda chinesa.

“Um setor que é muito importante para a demanda de minério de ferro é de housing (construção civil) na China”, diz. “Toda vez que há algum fator positivo para o setor na China, há uma recuperação no valor do minério de ferro”, explica.

Em 2023, o preço do minério deve se manter em alta, avalia Conrad, mas isso dependerá do socorro do governo chinês ao seu setor imobiliário. Além disso, o relaxamento das medidas de restrição relacionadas ao programa covid zero no país também pode ajudar.

Aço possui outra dinâmica

O aumento das importações chinesas de minério de ferro não é acompanhado pari passu pelo aumento das importações de aço, já que a China é responsável por cerca de metade do aço produzido no mundo todo e, portanto, é capaz de atender boa parte da sua demanda interna, mesmo diante de um aquecimento do mercado.

Ou seja, as empresas com foco na atividade de siderurgia podem sofrer um impacto menor de um eventual aumento da demanda na China, já que parte do que o gigante asiático consome é produzido internamente, ainda que o país tenha que buscar a matéria prima no exterior.

Porém, as siderúrgicas brasileiras podem se beneficiar do aumento da demanda de outros segmentos, como a produção de automóveis na China, que também é intensiva no uso de aço.

Para tanto, “a política de covid zero da China precisa ser flexibilizada para que haja um restabelecimento da demanda por meios de transporte, públicos e privados, e, consequentemente, por aço”, diz Conrad.

Ações da Vale e China, como funciona a relação?

A China é um elemento essencial da oscilação das ações da Vale porque a participação do minério de ferro é mais relevante no fluxo de caixa da companhia, com mais de 90% do ebtida da Vale relacionado à venda de minério de ferro, mais importador mundial da commodity.

Há ainda empresas que se beneficiam em menor escala da demanda chinesa por minério de ferro, como CSN e Usiminas, que tem operação de mineração, mas também de siderurgia.

Os papéis da Vale e de outras mineradoras como PHP e Rio Tinto, outras grandes do setor, estão entre os mais favorecidos pelo avanço do preço do minério de ferro. “Ainda assim, a Vale é mais afetada porque as concorrentes possuem uma participação maior de outros metais em suas cestas de produtos”, diz Conrad.

Minério de ferro em 2023

Conrad avalia que 2023 deve registrar uma manutenção das altas no preço do minério de ferro. Além do aumento da demanda chinesa, a redução da produção local da matéria prima pode encarecer o produto.

“Teremos um período de chuvas muito forte em regiões produtoras de minério no Brasil, então, a tendência é a de ter uma oferta menor, o que deve contribuir para um movimento de alta no preço do minério de ferro”, diz Conrad.

“Eu sou otimista que a gente deve continuar vendo a alta do preço, que a gente não bateu no teto, e que pode ver as ações se beneficiarem junto do aumento do preço da commodity”, avalia.

Outros fatores que incidem sobre o preço do minério

Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research, ressalta que, apesar da China ser o principal influenciador dos preços das commodities metálicas, o investidor também precisa acompanhar outros fatores.

“O investidor também deve estar atento à oferta, já que os impactos da pandemia nas produções e nas logísticas restringiram a oferta e fizeram os preços das commodities dispararem”, completa Vaz. O restabelecimento da cadeia pode reduzir o preço das commodities, o que tende a impactar negativamente as ações do setor.

Diante de um cenário desses, de redução do preço da commodity, questões relacionadas à gestão da empresa tornam-se ainda mais importantes para que o investidor avalie o futuro das ações.  

“Mineradoras e siderúrgicas são empresas cíclicas, que dependem dos preços das commodities. Nesse contexto, as empresas que se destacam são as que conseguem aumentar seus resultados em ciclos negativos. E, para isso, precisam expandir sua produção e ter um forte controle de custos, reduzindo efeitos da volatilidade das commodities no seu resultado”, completa Vaz.

Como olhar para a China?

Vaz diz que o grande consumidor das commodities metálicas na China é o setor de construção, e que o investidor precisa estar atento aos dados deste setor. Isso pode permitir antecipar valorização nas ações da Vale e das outras empresas.

“Estoques de minério e aço, dados do setor imobiliário, investimentos em ativos fixos e produção industrial são indicadores importantes. Eles ajudam a entender a dinâmica de resultados de curto e médio prazo das mineradoras e siderúrgicas”, explica o especialista da Nord Research.

“Para longo prazo, é preciso entender o crescimento da economia chinesa, a atuação do estado na economia e suas políticas sociais, além do comportamento da ‘nova’ classe média chinesa”, acrescenta.

Siderurgia em 2023

Vaz diz que as siderúrgicas brasileiras têm uma dinâmica diferente das mineradoras com relação ao peso do mercado externo, em especial, chinês, no valor das suas ações. Isso se deve ao fato de o grande comprador de metais como aço e alumínio ser o próprio mercado brasileiro.

“Para as mineradoras os investidores precisam acompanhar principalmente o cenário na China. Já para as siderúrgicas, além do mercado chinês, que dita os preços, também a atividade econômica no Brasil é fundamental”, afirma Vaz.

Conrad, da Westetn, ressalta que a Vale, como mineradora, exporta quase tudo que produz e, por isso, é beneficiada pelo aquecimento do mercado fora das fronteiras brasileiras, enquanto as siderúrgicas dependem do aquecimento da demanda interna para ver suas ações alcançarem os melhores resultados possíveis.

“No caso das siderúrgicas, boa parte da produção é para o mercado doméstico, tirando a Gerdau, que tem grandes operações na América do Norte. Mas CSN e Usiminas dependem muito do mercado local”, destaca Conrad.

Papéis da Vale x da CSN

Para além das questões macro, é importante que o investidor também esteja atento à saúde das empresas dos setores de mineração e siderurgia. “Se existe algum problema de caixa que possa significar riscos no futuro”, diz Gustavo cruz, estrategista da RB investimentos.

Além disso, ele destaca a importância de conferir as políticas ESG das empresas, que tendem a pesar cada vez mais sobre o valor das ações. “Isso pode pesar mais contra a Vale, porque tem histórico de desastres ambientais”, diz.

Ele destaca que a Vale por ser maior que a CSN, também acaba sofrendo o impacto das gigantes de outros lugares do mundo. “Se as empresas australianas divulgam um guidance menor e um investimento maior, a Vale pode ir na mesma direção”, afirma o estrategista.

Porém, um fator positivo da Vale acaba sobrepondo os negativos. A empresa é uma das mais negociadas da Bolsa, e por isso se é mais beneficiada por fluxos de investimento no país. “Com IPO recente, a CSN tem um volume menor e isso acaba prejudicando. Os investidores tendem a ir para outros ativos, com maior liquidez”, completa.