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Luiz Barsi: quem é o megainvestidor brasileiro que está sendo investigado pela CVM
Empresas citadas na reportagem:
Se você investe ou não em renda variável, não importa: você deve saber quem é Luiz Barsi Filho. Por quê? Porque Barsi é conhecido no mercado financeiro como “o rei da Bolsa” e “o rei dos dividendos”. Pois bem, majestade à parte, ele é o maior investidor pessoal da B3.
Isso porque Barsi desenvolveu uma metodologia própria de investimento, baseada em ações de empresas que garantem bons pagamentos de dividendos.
Você pode até não concordar. Mas é interessante conhecer a lógica do megainvestidor, famoso também por suas declarações polêmicas e jeito simples de ser.
Quem é Luiz Barsi?
A infância pobre
Um dos maiores investidores pessoa física da B3, a Bolsa de Valores brasileira, Luiz Barsi tem 82 anos, nasceu no Brás – bairro paulistano famoso por suas lojas de roupas – e, além disso, usa o Bilhete Único do metrô para idosos (sim, aquele que é gratuito a idosos).
Seus pais eram imigrantes espanhóis, e o pai morreu quando ele tinha pouco mais de 1 ano de idade. A família morava em um cortiço.
Ainda criança, Barsi começou a trabalhar como engraxate e aprendiz de alfaiate. Ele conta que tomou o primeiro banho de água quente quando tinha 5 anos.
A entrada no mercado financeiro
Luiz Barsi conta que, aos 14 anos, arrumou um emprego em uma corretora de valores. Ali, então, seus chefes o incentivaram a estudar contabilidade.
Com esforço e ajuda da família, formou-se como técnico em contabilidade. Posteriormente, graduou-se em Ciências Atuariais e concluiu Direito, pela Faculdade de Direito de Varginha, em Minas Gerais. Também fez Economia, pela Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária de São Paulo (FEA-USP).
E foi aí que Barsi entrou de vez no mundo das finanças.
Assim, com formação sólida, Barsi aprendeu a ler e analisar balanços financeiros. Também deu aulas sobre balanços. E isso fez e faz toda a diferença para ele – e para qualquer investidor.
O dono de corretora que virou jornalista que virou megainvestidor
Nos anos 1970, Barsi foi dono da corretora Cruzeiro do Sul. Ainda, durante quase 20 anos, foi editor de economia do jornal Diário Popular e foi também editor de Mercado de Capitais da Revista Marketing, aproveitando para estudar as empresas.
E sabe uma estratégia que ele faz e poucos investidores fazem? Barsi telefonava para o departamento de Relação com os Investidores (RI) das empresas. E claro: ligava a cobrar. Além disso, também ia pessoalmente às empresas de capital aberto.
Na entrevista abaixo, que fizemos com Melissa Angelini, diretora de RI da Procaps Group (multinacional da área da saúde listada na Nasdaq), você vai ver que a área de RI existe para isso mesmo: para tirar suas dúvidas como investidor. Confira:
Louise, uma jovem Barsi
Luiz Barsi tem cinco filhos de três casamentos. Um deles é a Louise Barsi, de 27 anos. Ela vem na cola do pai e investe desde cedo, aos 14 anos.
Hoje Louise é contadora, economista e analista CNPI. Ela desenvolveu uma metodologia de investimento baseada em renda passiva – e que tem como base a filosofia do pai -, que você confere na entrevista que ela concedeu em exclusividade para a Inteligência Financeira logo abaixo:
A metodologia de investimento de Luiz Barsi
Na década de 1970, Luiz Barsi desenvolveu uma metodologia própria de investimento no mercado acionário. Isto é, a carteira previdenciária de ações. Era, na verdade, o que o mercado chama de value investing.
O value investing é uma estratégia que olha para o potencial de crescimento das empresas no longo prazo. Portanto, o preço atual das ações da companhia e o volume de transações na Bolsa pouco importam. Esse tipo de método é bastante usado por investidores endinheirados. Outro megainvestidor, Warren Buffett, fez fortuna assim.
Só para você ter uma ideia, em uma década, Barsi angariou dinheiro suficiente para não ter mais que trabalhar. Mas ele preferiu continuar trabalhando. Tudo porque. quando ele chegou perto dos 30 anos, começou a se preocupar com sua própria aposentadoria.
Ele tinha, então, três opções: ser funcionário público, dono de empresa ou dono de várias empresas gigantes. Ficou com a terceira opção.
Dessa forma, começou a estudar o mercado financeiro e chegou à conclusão de que alguns setores teriam mais chances de darem bons retornos no longo prazo, como mineração, financeiro, energia e alimentos. Todos esses segmentos, aliás, são necessários para a sociedade.
De quanto é a fortuna de Luiz Barsi?
Só com ações, a fortuna de Barsi gira em torno de R$ 2 bilhões – que obviamente oscila conforme a cotação dos papéis.
Quanto Barsi ganha investindo em dividendos?
Recentemente, Barsi chocou o mundo financeiro anunciando quanto ele ganhou só com dividendos. Foi R$ 1,15 milhão por dia, em média, em dividendos, só em 2021.
Essa é a média dos lucros do megainvestidor? Não, ele mesmo respondeu. Afinal, 2021 teria sido um ano atípico. Mas que ano!
Como Luiz Barsi ficou rico?
Não foi fazendo mil cálculos. Luiz Barsi desenvolveu um racional bastante simples: ele olha sempre para o longo prazo, escolhe as ações de empresas que pagam bons dividendos e que estão sendo negociadas abaixo do valor patrimonial.
A sacada é ter paciência, porque neste caso estamos falando de investimentos por décadas a fio.
O objetivo de Barsi não é fazer trader, ou seja, comprar e vender papéis várias vezes em um dia, semana ou em um mês.
Em quais ações Luiz Barsi investe?
Barsi tem em carteira ações de cerca de 15 companhias.
A cada passo que dá, Barsi analisa profundamente a empresa, seu nível de governança, a gestão, o balanço e, claro, com que frequência a empresa distribui dividendos.
Na carteira de ações de Barsi estão ações de empresas como, em ordem alfabética:
- AES Tietê (AESB3),
- Banco do Brasil (BBAS3),
- Cemig (CMIG4),
- Eternit (ETER3),
- Grupo Ultra (UGPA3),
- Isa Cteep (TRPL4),
- IRB Brasil (IRBR3),
- Itaúsa (ITSA4),
- Klabin (KLBN4),
- Suzano (SUZB3),
- Taesa (TAEE11),
- Taurus (TASA4),
- Transmissão Paulista (TRPL4),
- Unipar Carbocloro (UNIP6)
Em quais setores Barsi não investe?
O megainvestidor, contudo, não investe em papéis da Petrobras (PETR3, PETR4). E também tirou do foco empresas de varejo de eletrodomésticos, turismo e aviação.
Ele não acredita no mercado futuro, que chama de “vento”, nem na alavancagem, que seria, segundo ele, a especulação pela especulação.
Por outro lado, se você quer ver o investidor irritado, pergunte a ele o que acha da renda fixa. Aliás, da “perda fixa”, como ele costuma chamar a classe de ativos.
Barsi sob a mira da CVM
Nem tudo, porém, é lucro na vida de Barsi. Em outubro de 2022 veio a público que ele estava sendo acusado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) em um processo que analisa o uso de informações privilegiadas envolvendo a Unipar (UNIP6).
O megainvestidor disse em nota que tem “plena convicção de que nada de errado foi praticado”. As informações foram publicadas pelo colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo.
Segundo dados públicos no site da autarquia, o processo sancionador “apura responsabilidades pelo uso de informação privilegiada ou insider information, como o mercado prefere, pelo administrador da Unipar Carbocloro, antes da divulgação do fato relevante do fato relevante de 2 de junho de 2021 pela companhia”.
Barsi é o único acusado no processo. O investidor é dono de 13,9% da companhia e conselheiro de administração desde 2017, de acordo com o formulário de referência da Unipar.
No dia 2 de junho, a empresa publicou um fato relevante ao mercado em que confirmava que havia assinado, com a Compass Minerals, um “acordo de confidencialidade e outras avenças” com intuito de analisar informações para uma possível operação.
O documento foi divulgado ao mercado depois que uma reportagem do Valor dizia que a petroquímica estava próxima de comprar uma fábrica de cloro-soda da Compass por R$ 300 milhões.
Na nota, o investidor afirma que as operações questionadas ocorreram fora do período de silêncio, e, portanto, lícitas, conforme previsto pelas regras da autarquia.
Luiz Barsi também informa que os negócios trataram de ” valores extremamente imateriais” perante sua posição acionária e também em comparação ao volume médio diário negociado. A nota enviada à imprensa diz, ainda, que foram operações exclusivamente de compra, “sem evidência de venda ou qualquer lucro auferido”.
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