E se a Bolsa cair? Saiba o que fazer sempre que isso acontecer

Aqui você encontra um breve manual estratégico para seus investimentos em renda variável

Após registrar forte alta em 12 de abril, seguido de fechamento positivo no dia seguinte, o Ibovespa só cai. Desde o dia 13, o principal índice da Bolsa de Valores brasileira tem apenas fechamentos negativos e opera em forte queda nesta quarta-feira (19). E o que fazer com a bolsa caindo?

Essa tendência de baixa tem deixado muitos investidores apreensivos. A queda pode ser explicada por diversos motivos, entre eles, o atual risco fiscal do país. A seguir, confira um breve manual estratégico para seus investimentos em renda variável.

Por que a bolsa brasileira está caindo?

Primeiramente, é importante frisar que as empresas da B3 vêm sofrendo com o cenário de instabilidade econômica dos últimos meses. Desde a máxima recente de 120 mil pontos, registrada em outubro de 2022, o Ibovespa chegou a cair mais de 17%.

Os motivos para a desvalorização são muitos e passam por temas ligados tanto ao cenário doméstico quanto ao externo. Entre eles, dois fatores se destacam: o novo Arcabouço Fiscal e as incertezas em relação ao futuro da taxa de juros.

Cenário doméstico e externo

No cenário externo, a continuidade da alta das taxas de juros nos Estados Unidos segue pesando sobre os mercados, especialmente após os casos de falência de bancos no país. A sessão da Bolsa desta quarta-feira (19) é marcada pelo pessimismo nos mercados globais, com os investidores voltando a projetar que uma queda nos juros dos Estados Unidos aconteça somente no ano que vem. Diante disso, o dólar tem forte valorização ante o real e outras moedas de países emergentes.

De acordo com os analistas, as perdas da bolsa brasileira ao longo de março estão especialmente ligadas ao cenário do Brasil: as incertezas em relação ao futuro da taxa de juros e o novo Arcabouço Fiscal (leia mais abaixo). Desde que Lula assumiu, paira no mercado um medo em relação à trajetória fiscal do Brasil.

Reunião do Copom

A última reunião do Copom, em março, surpreendeu negativamente, apesar de o comitê ter seguido o consenso de mercado ao manter a taxa de juros em 13,75% ao ano. No comunicado, a instituição monetária se mostrou atenta às discussões fiscais do País e não descartou, se necessário, a retomada dos ajustes na Selic.

Essa possibilidade desanimou o mercado, que há algum tempo especulava se o Copom cortaria juros ainda neste ano e esperava um tom mais leve por parte do Banco Central. Sendo assim, no dia 23 de março, um dia após a divulgação da decisão, o Ibovespa caiu 2,29%, chegando a bater os 97 mil pontos.

Vale lembrar que a relação do Banco Central com o governo estava em foco desde que Lula e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, trocaram farpas públicas. Isso, por conseguinte, não colabora em nada na precificação de risco na Bolsa.

Bolsa caindo ou subindo: o que influencia?

O movimento de alta e de queda do Ibovespa, assim como em qualquer mercado, é definido pela chamada lei da oferta e pela demanda. Em outras palavras, quando os investidores estão comprando mais um ativo e dispostos a pagar mais por ele, os preços sobem. Por outro lado, caso a maioria resolva vender suas posições e a oferta superar a demanda, os preços tendem a cair.

A pressão compradora e vendedora de uma ação pode acontecer por diversos fatores, entre eles, questões da economia nacional, notícias internacionais e motivos relacionados à própria empresa ou às expectativas para o setor no qual a companhia está inserida.

Problemas na economia do país também afetam negativamente o desempenho das ações e, consequentemente, fazem com que elas se desvalorizem. O contrário também é válido: se a economia está sólida, os investidores podem ficar mais dispostos ao risco e a voltar a comprar no mercado de ações, o que faz com que os papéis se valorizem.

A bolsa de valores está caindo: o que fazer?

Quando a bolsa de valores está caindo, o investidor deve se planejar e diversificar a carteira para não ser pego de calça curta e, ao mesmo tempo, tentar lucrar com as baixas. Especialistas indicam que a saída é estudar as empresas e também alocar capital em opções de renda fixa e nas bolsas estrangeiras, a fim de evitar perdas mais profundas causadas pelos ventos do mercado.

A palavra-chave em momentos de quedas consecutivas do Ibovespa é calma, defendem os especialistas. Investidores mais inexperientes podem se assustar com os temores do mercado, mas é recomendável sempre planejar a carteira para rendimentos de médio e longo prazo.

O investidor de curto prazo deve se atentar aos indicadores macroeconômicos. Já o investidor de longo prazo precisa estudar mais os balanços da temporada para avaliar quais setores estão em baixa e quais vêm ganhando fôlego na bolsa.

Investidor não deve sair do Ibovespa

De qualquer forma, mesmo com a bolsa caindo, não vale a pena para o investidor abandonar o mercado de capitais, de acordo com os especialistas.

O investidor não precisa zerar sua posição na bolsa. Se ele está focando no longo prazo, existem setores que podem render ainda mais.

Se a estratégia do investidor é de longo prazo, ele não tem por que se preocupar. Quando o Ibovespa registra queda, é o pior momento para a saída da bolsa, já que o ativo é vendido na baixa. Trata-se, conforme os analistas, de uma reação emocional e não racional.

Diversidade nos investimentos

As quedas do Ibovespa são normais, assim como a queda dos ativos na renda variável. O investidor deve alocar seus investimentos em empresas de diferentes setores.

É preciso ter em mente que o Ibovespa tem diferentes empresas de diversos tamanhos. Nesse sentido,  algumas são mais sensíveis ao que acontece na política nacional e outras reagem mais aos eventos mundiais. 

Outra dica é avaliar o setor da empresa. Por exemplo, companhias de construção e de varejo e ecommerce tendem a ser mais afetadas na bolsa pelo mercado doméstico. Já farmacêuticas e negócios do ramo de supermercados dependem mais da inflação para baixas.

Renda fixa e outros investimentos

Outro meio importante de diversificar a carteira é com investimentos em renda fixa. Opções com rendimento a partir da taxa DI como o CDB  estão bem posicionadas para perdas no Ibovespa.

As bolsas internacionais também são recomendadas como mais um caminho para o investidor não colocar todos os ovos na mesma cesta. Nesse caso, vale tanto alocar capital em opções de renda fixa no mercado americano, como na renda variável dos EUA.

Atual patamar do Ibovespa: a bolsa brasileira está barata?

Caso volte a ficar abaixo dos 100 mil pontos, a bolsa brasileira pode ser considerada “barata”, de acordo com os analistas. Um dos indicadores mais vistos para fazer essa avaliação é a relação de preço sobre lucro, o P/L.

Este indicador mostra quantos anos levariam para se ter de volta o investimento feito. No patamar de 100 mil pontos, o P/L da bolsa brasileira estaria perto de 7 vezes.

Os analistas, entretanto, ainda estão em dúvida em relação ao tempo necessário para o Ibovespa se recuperar. Nesse sentido, por mais que as ações pareçam baratas, as opções de investimento precisam ser analisadas com critério.

Vale lembrar que, com a taxa de juros em 13,75% e a renda fixa oferecendo mais de 1% ao mês, o custo de oportunidade para operar na bolsa aumentou.

Mesmo com o chamado valuation descontado, os especialistas recomendam que o investimento em bolsa no momento seja feito por quem tem maior apetite a risco e horizonte de investimento mais longo, ou seja, por quem tem perfil de investidor arrojado.

Aos que estão dispostos a ver o patrimônio variar no curto prazo,  a recomendação é procurar por empresas consideradas mais resilientes. Outra dica dos especialistas é dar prioridade a ações de empresas pagadoras de dividendos. Isso porque, de maneira geral, costumam ser modelos de negócios mais sólidos, pouco alavancados e com geração de caixa constante.

Arcabouço Fiscal

Na terça-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, entregaram ao Congresso o projeto de lei complementar do novo marco fiscal do país.

Como apontou a MCM Consultores, com este arcabouço, nos próximos quatro anos, a despesa continuará crescendo a partir daquela base elevada, mas não de forma explosiva.

“Atingir as metas indicadas de resultado primário necessitará significativo aumento de carga tributária, pois não parece haver grandes incentivos para revisão de despesas nesse intervalo”, disseram, em nota.

“No cenário mais positivo do governo, a dívida se estabilizará em 2026. Em nossas primeiras simulações, sem choques negativos e extrapolando os parâmetros de 2024-2027, a dívida se estabilizaria em 2033.”

Confira abaixo uma análise completa sobre as possíveis oportunidades para a bolsa brasileira com o Arcabouço Fiscal.