Como a alta dos juros nos Estados Unidos impacta o seu bolso

Movimento da maior economia do mundo atinge países emergentes

Enquanto o mercado global volta a precificar uma alta agressiva dos juros nos Estados Unidos, investidores brasileiros não estão olhando o assunto com o nível de urgência que ele pede.

Segundo Roberto Setubal copresidente do Conselho de Administração do Itaú Unibanco, empréstimos mais caros no país norte-americano “têm impacto enorme no mundo todo” e “o Brasil deveria acompanhar o assunto mais de perto”. A declaração foi dada no podcast Visão de Líder, produzido pela Inteligência Financeira

O mercado dos Estados Unidos é referência para o Brasil e qualquer outra nação, já que a economia norte-americana é a maior do mundo.

Portanto, movimentos importantes como a alta de juros influenciam a economia brasileira e conhecer esses efeitos ajuda investidores a saber o que fazer com seus valores. 

Países emergentes são mais arriscados 

Se você acompanha a cobertura diária dos mercados de câmbio e acionário da Inteligência Financeira, já percebeu que notícias relacionadas a juros nos EUA fazem preço no dólar.

A moeda norte-americana geralmente sobe ante o real quando o mercado vê sinalização de alta de juros ou taxas elevadas por um longo tempo e perde valor quando há sinais de juros menos agressivos nos EUA. 

“Fica mais atrativo investir na economia mais forte do mundo e na moeda considerada mais segura em momentos de estresse econômico”, explica Felipe Steiman, gerente comercial da B&T Câmbio. 

Países emergentes, como o Brasil, são vistos como mercados arriscados para os investimentos. Com a renda fixa pagando mais na maior economia do mundo, a tendência é que pelo menos parte do capital estrangeiro alocado aqui migre para uma opção mais segura.

“É natural que investidores busquem mais segurança, tirando dinheiro de países emergentes e transferindo para países desenvolvidos quando os juros estão mais altos”, afirma Fabrício Gonçalvez CEO da Box Asset Management. 

Desaceleração da economia 

O objetivo de qualquer banco central ao aumentar as taxas de juros é desestimular a atividade econômica para que os preços parem de subir. O Banco Central brasileiro é um dos mais adiantados nesse movimento e o mercado já espera o fim do ciclo de alta dos juros em setembro.

Os EUA, porém, começaram esse movimento mais tarde. 

Por aqui, economistas ouvidos pelo BC esperam aumento de apenas 0,39% do PIB em 2023. Um dos fatores mais impactantes para a estimativa é justamente a Selic nas alturas. 

Com a taxa de juros nos Estados Unidos subindo, a maior economia do mundo perde o estímulo para girar e negócios domésticos e com outros países, como o Brasil, não devem crescer como observado nos últimos anos. 

Este é um fator que coloca ainda mais pressão na nossa economia e ajuda a embasar estimativas de crescimento fraco para o Brasil. 

Alta dos juros nos Estados Unidos pode segurar inflação aqui 

Nem todos os efeitos da alta de juros nos Estados Unidos são ruins para o Brasil.

Por aqui, lutamos contra uma inflação que não era tão forte há décadas. Apesar de desaceleração em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 10,07% nos últimos 12 meses. 

Mas com a alta de juros nos Estados Unidos e em outras economias importantes – principalmente as europeias -, a tendência é que haja desaceleração na demanda global por commodities.

Para a atividade econômica brasileira, esta não é uma notícia boa. Afinal, somos um país forte no fornecimento de matéria-prima para nações mais industrializadas. Porém, isso deve ajudar a controlar a inflação por aqui. 

A disparada das commodities foi um dos grandes pontos de pressão na inflação brasileira.

O preço da gasolina subiu 47,49% em 2021 e foi um dos principais responsáveis pelo aumento de 10,06% na inflação do país no ano passado.

Com Estados Unidos e outras economias desenvolvidas demandando menos petróleo, os preços devem cair ou pelo menos manter a estabilidade por aqui.