Mundo tem se adaptado a juros altos melhor do que esperávamos, analisa Campos Neto

Para presidente do Banco Central, Brasil ainda pode atrair mais investimentos estrangeiros

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, comentou nesta sexta-feira (7) sobre os dados fortes de criação de vagas de emprego (payroll) nos Estados Unidos e disse que “o mundo tem se adaptado muito melhor a juros altos do que esperávamos”. O chefe da autoridade monetária se refere aos bancos centrais em diferentes países que aumentaram juros para controlar a inflação, como o Brasil.

Campos Neto, ao mesmo tempo, afirma que o payroll “não tem uma correlação mecânica” com a condução da Selic no Brasil. “Agora, é óbvio que o mundo segue a apreciação de juros nos Estados Unidos. Muitos países vão pensar no processo de corte de juros, alguns até já iniciaram este movimento”, afirmou o banqueiro central.

‘Brasil tem potencial’ para atrair capital, diz Campos Neto

Mesmo com o saldo negativo da bolsa de valores no ano em capital estrangeiro, com saída de cerca de US$ 35 bilhões em 2024, Campos Neto afirmou que “o balanço financeiro do Brasil melhorou bastante”. Para ele, “é necessário separar o fluxo financeiro do balanço de pagamentos”, medido pelo BC e usado para calcular o Investimento Direto no País (IDP).

Em abril, o IDP acumulou ingresso de capital de US$ 3,9 bilhões, ante US$ 9,6 bilhões em março. Já o déficit em conta corrente atingiu US$ 35,3 bilhões em 12 meses.

Assim, Campos Neto vê o Brasil “bem-posicionado” para receber investimentos estrangeiros. Por duas razões, segundo o executivo do BC: procura por produção sustentável e práticas mais caras em outros países emergentes.

“O Brasil é excelente candidato a receber capital estrangeiro”, disse Roberto Campos Neto no evento Monte Bravo Experience, em São Paulo. “O país pode se tornar receptor de recursos em um mundo que busca produzir insumos de forma sustentável. A realocação de nearshoring e friendshoring não está se desenvolvendo em ritmo esperado, tem se provado mais cara para empresas”, comentou.

“Mas, para ser atrativo, tem muita coisa para fazer. Por enquanto estamos vivendo um movimento de realocação de mundo emergente para desenvolvido.”

Para Campos Neto, a eleição do México “foi um gatilho” dessa fuga de capitais.

“Vejo o Brasil bem posicionado, com as reformas feitas durante a pandemia”

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central

Saída do BC

Ao ser questionado sobre os rumos de sua carreira a partir de 2025, quando termina o mandato na Presidência do BC, Roberto Campos Neto afirmou que “deve tirar um descanso”, pelo menos num primeiro momento.

“Disseram que eu ia abrir corretora, ir para o mercado no exterior, tentar ser ministro. Mas o que vou mesmo fazer depois de sair é tirar um descanso”, disse o executivo.

Ontem, durante evento na B3, Campos Neto recomendou a seu sucessor na Presidência do BC para que “fosse técnico”.

“Seja técnico e saiba dizer não.”

Na última reunião do colegiado, em maio, numa discordância incomum, cinco dos nove diretores, incluindo Campos Neto, votaram por um corte de 0,25 ponto percentual da taxa básica de juros para 10,50% ao ano.