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Juros vão cair? Ex-BCs avaliam qual deve ser a decisão do Copom hoje
Crise bancária no exterior, reoneração dos combustíveis, novo arcabouço fiscal. Desde o último encontro do Copom (Comitê de Política Monetária) a economia brasileira deu sinais de que perdeu fôlego no final de 2022.
Por outro lado, a expectativa para a inflação de 2023 subiu, à medida em que o mercado continua pessimista. Em jogo, o Comitê determina se vai manter ou baixar a Selic em sua reunião que termina nesta quarta-feira (22).
Para entender os rumos dos juros básicos, a Inteligência Financeira conversou com ex-executivos do Banco Central. Nossa dúvida é sobre a possibilidade da queda dos juros no próximo Copom. Spoiler: há um consenso de que a autoridade não deve cortar a Selic. Veja logo abaixo.
Baixar juros seria tiro no pé do BC, diz Gustavo Loyola
O BC não teria ‘base técnica’ para baixar a Selic nesta semana, avalia Gustavo Loyola, sócio-presidente da Tendências Consultoria e ex-presidente do Banco Central. O principal motivo é a expectativa de inflação não ter caído nas últimas semanas. Ao contrário da queda, no último boletim Focus, o mercado relatou que espera um aumento do IPCA de 2023, antes estacionado a 5,90%, para 5,96%.
“O BC não tem mandato duplo. O objetivo da instituição é trazer a inflação para dentro da meta, e as expectativas não indicam essa convergência”, explica Loyola.
O IPCA de 2022 atingiu 5,79%, superando a meta do Banco Central de 3,5%, com margem de 1,5 p.p.
Com preços subindo, “o BC não tem espaço para fazer acomodação monetária”, completa o economista. Ou seja, a Selic não vai baixar no próximo Copom.
Copom deve ter ata ‘dovish’ de novo
Para Loyola, a ata do próximo Copom deve vir parecida com a expedida pelo comitê na última reunião, em 1º de fevereiro: um tom mais brando e dovish, mesmo que “não um dovish puro sangue”.
“O BC está atento a alguns desenvolvimentos na economia que podem ajudar na queda de juros. Mas fazer um compromisso de que vai fazer a queda de juros na reunião seguinte, em maio, acho que ele não vai não”, afirma Gustavo Loyola. Subir juros “seria um tiro no pé” para o ex-presidente do BC.
Há motivos favoráveis para baixar a Selic, diz Le Grazie
Reinaldo Le Grazie, partner da Panamby Capital e ex-diretor de Política Monetária do BC, aponta que há quatro fatores favoráveis ao corte da Selic.
- O cenário de crédito: o consumidor enfrenta dificuldades de acesso ao crédito. Le Grazie afirma que a inadimplência está alta, ao mesmo tempo em que a renda dos brasileiros está “mais comprometida”;
- Reoneração dos combustíveis: foi uma vitória de Haddad à frente do Ministério da Fazenda e veio de uma forma tripartite, diz Le Grazie, com impacto dividido entre governo federal, inflação e Petrobras;
- Novo arcabouço fiscal: Copom pode entender que o governo Lula está preocupado com o bem-estar das contas públicas e vai cortar despesas;
- Cenário externo: a crise bancária do SVB pode levar o Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos), a reduzir o avanço dos juros na economia americana, o que favorece a moeda de emergentes, como o real brasileiro.
Juros devem baixar ‘com parcimônia’
Contudo, o economista acredita que o Copom não vai baixar a Selic logo na próxima reunião, na quarta-feira.
“Eu duvido que ele reduzirá a taxa nesse comitê, é muito pouco provável. Mas eu acho que ele vai fazer um comunicado e ata destacando que o crédito ao consumidor está ruim, houve a reoneração [dos combustíveis] que andou bem, e o novo arcabouço fiscal, que o governo está discutindo.”
Le Grazie ainda afirma que a queda de juros será iniciada antes do 4º trimestre, ao contrário da previsão de maior parte do mercado financeiro, com cortes mais suaves.
“Serão cortes com muita parcimônia, talvez de 0,25%. Para a próxima reunião, o Copom comunicará a possibilidade de fazer cortes entre o 2º e 3º trimestres”, frisa o ex-diretor do BC.
BC só deve cortar a Selic em 2024, diz Kanczuk
Fabio Kanczuk, head de macroeconomia da Asa Investments e ex-diretor de Política Monetária do BC, concorda que a Selic não deve baixar no próximo Copom.
Isso porque o economista nega que o mercado de crédito vive hoje um cenário de ‘credit crunch’.
O credit crunch é um fator que gera crise no sistema financeiro pela ausência de novas ofertas de empréstimos, devido a uma forte contração bancária.
Para ele, o caso Americanas não impactou a economia de forma tão grande a ponto de fazer o BC cortar os juros. Kanczuk explica que a autoridade não aplicou as chamadas “medidas macroprudenciais” para apaziguar uma possível crise no crédito. Baixar a Selic seria uma medida “oposta”, de acordo com o ex-diretor do BC.
“A medida macroprundencial é tópica, como passar pomada em uma ferida. São mecanismos distintos para mexer nos incentivos de capital e liquidez dos bancos e fazer com que essas empresas entrem no setor de papel de debêntures que provenham a liquidez necessária. Como passar pomada em uma ferida”, diz Kanczuk.
“O juros é o oposto da pomada. É um instrumento muito forte e pouco localizado para atacar problema de funcionamento do mercado financeiro. Para problemas de liquidez, se usa o macroprudencial. Para problemas de inflação, servem os juros.”
Fabio Kanczuk, head de macroeconomia da Asa Investments
Tampouco deve haver uma sinalização de queda na Selic, diz Kanczuk. Ele também aposta em uma ata parecida com a da última reunião do Copom.
Diferentemente dos pares, contudo, acredita que a Selic só deve baixar depois do 4º trimestre deste ano, em 2024.
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