SVB: Tudo o que você precisa saber sobre a quebra do banco das startups

Instituição entrou em colapso após corrida bancária ocorrida na semana passada

Os reguladores financeiros dos Estados Unidos fecharam o Silicon Valley Bank (SVB) na última sexta-feira (10), após o banco sofrer um colapso, marcando a segunda maior falência de um banco na história americana.

Dois dias antes, o SVB sinalizou que enfrentava uma crise de caixa. Primeiro tentou arrecadar dinheiro vendendo ações, depois tentou se vender, mas o movimento assustou os investidores, que venderam suas ações, e os clientes, que correram para sacar seus recursos do banco.

Ainda na sexta, o fundo garantidor de crédito dos EUA (FDIC) assumiu o banco, mas ele só garante a cobertura de até US$ 250 mil, deixando os clientes que tinham mais do que isso em apuros.

O movimento causou instabilidade no setor bancário, diante das preocupações que outros bancos possam estar com problemas ou que o contágio possa se estabelecer.

Para entender melhor e detalhadamente o tamanho desta crise, a Inteligência Financeira levantou dúvidas e respostas que vão te orientar neste caso. Confira:

O que é o SVB?

SVB é a sigla de Silicon Valley Bank, banco americano situado no estado da Califórnia, que tinha como principal foco o financiamento de startups e empresas de tecnologia.

Fundado em 1983, era, segundo o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), o 16º maior banco do país.

Em 2021, o banco afirmou ser a instituição financeira de quase metade das startups de capital de risco dos EUA.

O SVB tinha mais de US$ 200 bilhões em ativos quando faliu, sendo o maior banco a quebrar desde crise de 2008.

Como a crise começou? 

O SVB quebrou após uma corrida bancária iniciada na semana do dia 6 a 10 de março, diante de sinais de problemas que o banco passou a emitir.

Em condições normais, o banco recebe os depósitos dos clientes e aloca esse dinheiro em investimentos geralmente seguros, como títulos públicos. Como o Fed tem aumentado suas taxas de juros, esses títulos passaram a valer menos. Isso não seria um problema, pois o banco somente esperaria o vencimento desses títulos, mas, diante da desaceleração da entrada de capital no setor de tecnologia, os depósitos diminuíram e os clientes começaram a sacar seu dinheiro.

Na última quarta-feira (8), a controladora do banco, a SVB Financial Group, anunciou uma venda de ações no valor de US$ 2,25 bilhões, isso depois de vender US$ 21 bilhões em títulos de seu portfólio assumindo uma perda de quase US$ 2 bilhões.

O anúncio foi feito para reforçar o balanço, mas o que aconteceu foi que assustou seus clientes e investidores.

As ações da SVB Financial despencaram na quinta-feira (9).

Na manhã de sexta-feira (10), as negociações em bolsa foram suspensas e houve relatos de que o SVB estava em negociações para venda.

Qual foi o principal problema do SVB?

Parte do problema do SVB era a alta concentração em negócios de tecnologia.

Como esse setor foi bem na última década, o SVB surfou a onda.

No entanto, como o banco também tinha alta exposição a um único setor, isso o abriu ao risco, e quando as coisas começaram a ficar difíceis para seus clientes, a situação rapidamente afetou o banco.

SVB pode causar um risco sistêmico?

Risco sistêmico é a possibilidade de causar um efeito dominó, ou seja, da quebra de uma instituição afetar todo o sistema financeiro e causar danos em todo o setor ou até mesmo na economia.

Por exemplo, a quebra do SVB poderia levar clientes de outros bancos a desconfiar da saúde financeira das instituições e iniciar novas corridas bancárias.

Os clientes vão receber?

O FDIC (Fundo Garantidor de Crédito dos EUA) vai garantir que cada cliente receba até US$ 250 mil investidos, acima disso, não há garantia.

No domingo, os órgãos reguladores anunciaram que “disponibilizariam fundos adicionais para instituições depositárias elegíveis”, que reembolsariam os depositantes integralmente.

Esse financiamento virá de empréstimos do recém-criado Programa de Financiamento a Prazo do Banco.

Como são fatos novos, ainda não se sabe exatamente como funcionará ou quando os depositantes receberão seu dinheiro de volta. Ainda não está claro quais depositantes são elegíveis para receber acima do teto de US$ 250 mil.

O que os órgãos reguladores dos EUA determinaram?

Na tarde de domingo (12), os reguladores do sistema financeiro dos EUA garantiram aos depositantes o saque dos valores investidos.

Segundo os órgãos (FDIC, secretaria do Tesouro e Federal Reserve), o intuito da ação é proteger a economia do país e fortalecer a confiança no sistema bancário.

Sendo assim, os clientes terão acesso a todo o seu dinheiro a partir desta segunda-feira (13).

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reforçou o que havia sido dito no comunicado triplo e reiterou que nenhuma perda associada à resolução do Silicon Valley Bank será suportada pelo contribuinte.

Desta forma, foi feito uma espécie de bailout, ou seja, uma injeção de liquidez no banco, para evitar um temor em cadeia de outros bancos dos EUA.

Além disso, o FDIC anunciou que disponibilizará recursos adicional para instituições elegíveis para ajudar a garantir que os bancos tenham a capacidade de atender às necessidades de todos os seus clientes.

O que é bailout?

Sendo direto ao ponto: bailout é o ato de injetar capital em uma empresa, ou Estado, para salvá-lo de falência ou algum outro tipo risco de liquidez.

A palavra, em inglês, remete a “fiança”, e pode ser feito por uma empresa, um indivíduo ou, até mesmo, pelo governo.

Nos EUA, o bailout é uma prática que remonta ao Pânico de 1792, uma crise financeira ligada ao crédito que ocorreu com a expansão do crédito pelo Bank of the United States e a especulação de grandes banqueiros.

Em 1998, o Brasil passou por um bailout. O motivo foi a descapitalização da economia brasileira, como efeito da Crise Financeira Asiática de 1997 e o Fundo Monetário Internacional (FMI) injetou mais de US$ 42 bilhões na economia brasileira.

Como o caso SVB afeta o Brasil? 

Ainda é cedo para saber o tamanho do impacto, mas certamente haverá, mesmo que lateral, ou em uma “flight do safety”, com investidores optando por alocar seu dinheiro em opções mais seguras do que os mercados emergentes.

Hoje, em evento dos jornais Valor Econômico e O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo brasileiro monitora os impactos da quebra do banco e que, em conversa como presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ainda não tem informações suficientes para saber o tamanho do impacto no Brasil.

“É grave o que aconteceu e o Fed agiu positivamente [ao garantir liquidez para pagar os clientes]”, afirmou o ministro.

Haddad disse também que será preciso analisar os impactos da falência do SBV nas taxas de juros globais, inclusive no Brasil, citando as elevações dos juros básicos pelos bancos centrais.

“Aí que entra o prudencial”, disse Haddad. “Qual o limite para aumentar juros sem desorganizar a economia como um todo? A quebradeira pode vir do descasamento de carteira”, completou.

Quais bancos têm exposição ao SVB?

Banco Inter, Nubank, C6 Bank e PagSeguro, bancos digitais brasileiros listados na bolsa de Nova York, enviaram comunicados dizendo não ter qualquer exposição ao SVB, nem negócios com o banco do Vale do Silício.

Como esse caso pode afetar novas startups?

O SVB ganhou destaque no mundo da tecnologia nas últimas décadas por fazer empréstimos com condições bastante flexíveis para startups, mesmo que elas não tivessem fluxo de caixa nem muitos ativos como garantia.

O banco também participava ativamente do meio se envolvendo em eventos do setor, seja como um patrocinador central ou cedendo executivos para palestrar.  

Nos bastidores, o SVB também era disposto a trabalhar com startups de tecnologia de maneiras que outros bancos relutariam, como ajudar, por exemplo, funcionários a obter empréstimos pessoais para uma casa.

O SVB também era um banco disposto a trabalhar com empresas cujos sócios não fossem cidadãos americanos, o que seria um obstáculo para os bancos mais tradicionais.

Agora, sem o SVB no mercado, outro banco pode ocupar o espaço, ou as empresas terão maiores dificuldades na obtenção de crédito.

Essa crise pode alterar os planos do Fed?

Não dá para saber a resposta. Mas como a crise foi causada essencialmente pelos juros altos praticados nos EUA, o mercado espera que a próxima alta de juros seja em menor intensidade.

Antes do payroll da última sexta-feira (10), a maioria dos agentes de Wall Street apostava em uma alta de 0,50 pontos percentuais na reunião do dia 22 de março. Após o dado de emprego e a crise do SVB, a maioria – com quase 70% – acredita em um aperto monetário de 0,25 ponto.

Diante da alta inflação e da economia resiliente, os planos do Fed eram de manter o aperto monetário até a inflação dar sinais de voltar para o centro da meta, de 2%. Em janeiro, a inflação acumulada de 12 meses estava em 8,7%. Nesta terça-feira (14), os EUA divulgam os dados de inflação referente a fevereiro.

O que acontece com os bancos regionais americanos?

O cenário não está bom para os bancos regionais americanos, ao menos no curto prazo, a medida que se espalha o medo que eles possam enfrentar problemas semelhantes aos do SVB.

Depois que os reguladores do estado de Nova York fecharam o Signature Bank, um importante credor na indústria de criptomoedas, no domingo, uma tempestade parecia estar se formando em torno do First Republic Bank de San Francisco também.

Os preços das ações de bancos regionais, incluindo First Republic, PacWest, Western Alliance e outros, derretiam na manhã desta segunda na bolsa em meio ao nervosismo de Wall Street, sinalizando que os investidores não estão tão convencidos da promessa do governo de que o sistema bancário seja seguro.

De acordo com o economista-chefe da Órama, Alexandre Espírito Santo, ainda é cedo para especular o que ocorrerá com os mercados no curto prazo e se há uma chance de uma crise sistêmica, que seria péssimo para a economia americana, com respingos sobre a economia global.

“A despeito de ser uma instituição regional [SVB], não se pode desconsiderar que cerca de 30% dos depósitos bancários nos EUA são realizados em bancos menores. Ou seja, há perigo de ‘transbordamento’ para bancos maiores, que deveria ser evitado pelas autoridades”, apontou.

Além disso, Espírito Santo disse que o custo de captação dos bancos pequenos e médios irá aumentar de forma significativa, reduzindo suas rentabilidades, com reais consequências sobre seus acionistas e o mercado acionário.

E o SVBUK, subsidiária do SVB no Reino Unido?

A SVBUK é uma entidade legal separada do SVB Financial Group, regulamentada no Reino Unido.

Às 23h45 de sexta-feira (10), o Banco da Inglaterra emitiu um comunicado, indicando que pretendia aplicar ao tribunal para colocar o SVBUK” em “um processo de insolvência bancária”.

Na manhã desta segunda-feira, o HSBC comunicou a compra da subsidiaria britânica do SVB pagando 1 libra esterlina. Até a data da aquisição, diz o banco inglês, a SVBUK possuía 5,5 bilhões de libras esterlinas em empréstimos e 6,7 bi em depósitos. Os riscos e liabilities da companhia materna do SVBUK, o banco do Vale do Silício, não foram incluídos na transação.

Noel Quinn, CEO do HSBC Group,  afirmou que a aquisição valoriza o posicionamento estratégico do HSBC no Reino Unido. “Fortalece nossa franquia comercial bancária e melhora nossa habilidade de servir firmas de alta taxa de crescimento e inovadoras, incluindo empresas do setor de tecnologia e do setor de vida e ciência, no Reino Unido e internacionalmente”, finalizou Quinn.